Criou fama, deitou na cama e dormiu no ponto
Criou fama, deitou na cama e dormiu no ponto
Maria de Fatima Dannemann
Houve um tempo em que a Globo dominava. Em tudo, aliás. Aparecia o logo, o plin plin e todo mundo sentava para assistir. Principalmente se fosse novela. Praticamente sem concorrência (excetuando-se as novelas mexicanas do SBT), a Globo ditava as cartas. Hoje, imersa num mundo de faz de conta, a ainda maior rede de telecomunicações do país vê o povão aprendendo que nenhum aparelho de TV é fixo. Quem ainda não mudou para os canais fechados (cabo, pay per view, etc), se arrisca a não ver Bang Bang, ignorar Belíssima e trocar, tranqüilamente, campeões de audiência como Fantástico e Big Brother Brasil pelo Oito e meia no cinema do SBT, e O Aprendiz da Rede Record. A globo criou fama, mas deitou na cama, fez pouco caso do público e dormiu no ponto.
Os menininhos que diziam amém a Xuxa hoje criticam abertamente o Sitio do Pica Pau Amarelo. “Nunca vi tão chato”, dizem. E nem o “pau” que tomou da concorrência aberta e fechada com desenhos como Pokemon, As meninas superpoderosas, A vaca e o frango, Pink e Cérebro, entre outros, fez a Globo aprender. Hoje, a pirralhada esnoba os desenhos da TV Xuxa e sintoniza no SBT só para ver Coragem, o cão covarde. Mais uma: até assistir o Mais Você, de Ana Maria Braga, que consegue ser melhorzinho que outros programas da Globo, se tornou difícil para as mães que acabam cedendo à vontade dos filhos e mudando de canal para ver a sessão de desenhos.
A Globo se fez depois de 64. Aproveitou a crise nas emissoras dos Diários Associados, de Chateaubriand e outras estações de TV isoladas para fazer seu império. Nos anos 70 e parte dos 80, praticamente dominou o cenário televisivo com as outras emissoras andando mal das pernas, muitas nem resistindo. Nos anos 80, chegou a ser ameaçada pela Manchete que se mostrou criativa principalmente no quesito teledramaturgia obrigando a concorrência (leia-se a Globo e o SBT, já que a Band sempre correu por fora) a mudar praticamente tudo, principalmente as imagens. A Manchete fechou as portas, a Band se concentrou em outras áreas e nunca fez muita questão de brigar pelo primeiro lugar, o SBT se posicionou como povão com novelas mexicanas e programas sensacionalistas, a Record ficou no meio termo (só recentemente resolveu brigar por mais audiência), e a Globo, inabalável na primeira colocação.
Isso levou a emissora a cometer certos abusos. O pior deles foi a novela Bang Bang que vem sendo teimosamente esticada. Em vez de encerrar, gloriosamente ou não, a Globo trocou autor, mudou enredo, incluiu novos atores no elenco. Nada adiantou. No horário nobre, Belíssima é uma sucessão de clichês que cansa o espectador. Desde a quase lobotomizada Julia Assunção de Gloria Pires, monótona e dispensável, a velha mania de transformar modelos de beleza duvidosa em atrizes. De qualquer maneira. Como ninguém esconde incompetência, Érika Assunção fica dias e dias sem aparecer na novela e ninguém sente falta. Essas coisas não passam despercebidas. Bang Bang perde pontos para Prova de Amor, da Record, as 19h, e as 21h, montes de donas de casa mudam para o SBT para assistir Mariana da Noite, que mesmo mexicana consegue ser mais original.
O jornalismo da Globo tornou-se superficial. O Vídeo Show poderia ser mais interessante mas fica presa no próprio mundinho do Projac que, por maior que seja a área ocupada é pequeno demais para uma emissora que se representa com uma imagem de um planeta. Nem o Big Brother convence mais. Pior é a risada sem graça de apresentadores como Gloria Maria e Pedro Bial. E o público passa a fazer outras coisas: ligar o computador e jogar paciência, por exemplo. Quanto a rede de emissoras... Bom, ainda tem gente que aceita passivamente tudo que ela mostra. Mas, um outro tanto de gente começa a desligar a TV ou mudar de canal. E não sente falta.