Dona Leonor e a Declaração Universal dos Direitos Humanos
Dona Leonor, que tenho o privilégio de ter como avó, é uma senhora que em seus 74 anos já viu de tudo nessa vida. Criou os 11 filhos com muito esforço, e hoje toda vez que alguém pensa em abusar da danada, a velha já tem a resposta na ponta da língua:
“Olha que eu chamo a policia e você vai ter que se ver com a penha”.
Ela dá uma piscada para mim, e eu retribuo. Somos cúmplices e eu a entendo muito bem.
Minha avó passou anos em silêncio, lutando contra pobreza e um marido que mais parecia um patrão. Hoje ela fala com a segurança de quem conhece seus direitos.
Não faz muito tempo, idosos, crianças e mulheres não tinham direitos. O Estatuto do Idoso não tem mais do que 6 anos. Por isso ainda temos muitas mudanças pela frente.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, que tem 60 anos ainda engatinha e está cheia de brechas e imperfeições, como quase todas as legislações. Muitas vezes chega até parecer piada.
Como podemos acreditar que todos os “seres humanos nascem iguais”, quando o vemos é gente mendigando para comer e outros sem saber o que fazer com tanto dinheiro? Já ouvi muitas pessoas afirmando que os direitos humanos servem apenas para bandidos.
No entanto quando penso em minha avó, penso em sua história e me pergunto “Será que ela seria tão consciente de seus direitos e teria dado a volta por cima se não fossem os ventos de mudanças trazidos pela segurança da declaração”? Os direitos humanos são sim falíveis, como qualquer coisa que venha de seres humanos, mas ainda assim é uma grande forma de mudança social. As coisas só vão se tornar melhores quando tivermos conhecimento de nossos direitos e entendermos que só nós podemos fazer com que eles saiam do papel. E como diria Dona Leonor “devagarzito a gente alcança”.