Crise mundial pode ser pretexto para demissões em massa no Vale do Jari
Crise mundial pode ser pretexto para demissões em massa no Vale do Jari
Novamente a cena se repete. As pessoas que migraram de vários Estados brasileiros em busca de dias melhores no Vale do Jari contam os dias, vendem parte de suas mobílias e arrumam os demais pertences em caixas, bolsas e malas para retornarem aos seus lugares de origem. O motivo da frustração é a demissão em massa provocada pelas empresas da região. As maiores geradoras de emprego são lideradas por uma indústria de celulose e uma mineradora de caulim que fazem contratações diretas e indiretas através de empreiteiras.
Os números de demitidos são indefinidos, assim como são as suas causas. Especula-se que ao todo já tenham perdido seus empregos aproximadamente 1300 funcionários da região desde os primeiros rumores da crise econômica mundial. De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Celulose, Sintracel, Ivanildo Uchoa, as demissões em massa provocadas pela maior empregadora da região não fazem sentido porque o setor de celulose não tem sofrido desaquecimento no mercado internacional.
O sindicalista enfatiza ainda que a principal empresa do Grupo Orsa conseguiu investimentos milionários no ano anterior através do BNDES, fato que aumentaria o compromisso da mesma em manter os empregos e os investimentos sociais no Vale do Jari. Preocupado com a situação, busquei esclarecimentos junto à Empresa Jari Celulose, mas não obtive sucesso.
Na análise do presidente do Sintracel, 80% das pessoas desempregadas são moradoras de Laranjal e Vitória do Jari. Já as outras 20% são residentes de Monte Dourado e provavelmente passarão a morar em Laranjal do Jari, visto que não conseguirão manter o padrão de vida exigido no distrito industrial, a exemplo da energia elétrica e moradia. Tal saga remonta as origens do município laranjalense, que inicialmente estiveram ligadas à colonização do rio Jarí, e mais recentemente, às influências sócio-econômicas decorrentes da implantação do famoso Projeto Jari.
Desempregadas na cidade planejada, as famílias atravessam o Rio Jari para tentarem recomeçar a vida do lado amapaense. Foi com essa generosa colaboração que Laranjal do Jari conseguiu aglomerar no passado o maior número de habitantes da região de forma irregular e desordenada, além de ter conseguido a péssima reputação pelos altos índices de prostituição, doenças e criminalidade, sina da qual ainda tenta livrar-se nos dias atuais com a ajuda da população e de seus governantes.
Cálculos prévios feitos pela Sintracel apontam que 1 milhão de reais deixará de circular na região nos próximos meses, provocando o desaquecimento da economia local e consequentemente mais desemprego no setor formal e informal. Outro problema levantado pelo sindicato é que grande parte dos trabalhadores desempregados contraíram dívidas em instituições bancárias, agravando ainda mais a situação financeira dos mesmos.
A realidade da economia da região jarilina diverge da brasileira. De acordo com o estudo divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDEO), o Brasil é o país que menos sofreu com a crise econômica mundial. O levantamento inclui os 30 países membros da OCDE e outras cinco importantes economias que não integram o grupo, entre elas as do chamado Brics — Brasil, Rússia, Índia e China. Dentre estes, o Brasil é o único que manteve classificação acima de 100 no segundo semestre de 2008, entretanto, essa informação não serve de conforto para aqueles que nesse momento arrumam suas malas no Vale do Jari.