O Tempo.
O T e m p o . . .
Não tenho mais barba, bigode raspei faz tempo,
acho que em meados agosto ou será de setembro?...
Cabelos na cabeça, apenas uns tiquinhos,
brancos como a neve, e continuam durinhos.
Os dentes já são todos de mentira,
e suas formas nada a haver com os quais nasci,
amarelados agora servem para o que vieram,
e não mais para sorrir.
Meus olhos, antes tão eficazes,
hoje se escondem por detrás de fortes lentes
obscuros e perdidos pelos ares,
escorrem lágrimas ardentes.
Tento me lembrar, já não me lembro tão facilmente,
já me esqueço algumas vezes e até constantemente
imploro aos céus para que eu viva contente,
e não me torne um inconveniente.
O tempo levou-me “algos”,
trouxe-me “uns”,
tirou-me “alguns”,
deixou “nenhuns”...
“Uns” muito me ajudaram,
“alguns pouco acrescentaram,
“nenhuns” nada deixaram.
O tempo mudo, surdo,
parece não dizer nada,
mas é o único que diz tudo,
lembrando autoritário,
que nada fica impune neste mundo...