A IGREJA E O DESAFIO DA INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
Você tem algum amigo deficiente? Você já convidou alguém que é portador de uma deficiência física para vir a sua igreja? Ele aceitou o seu convite? E como foi que ele chegou até lá? Estas perguntas fazem parte de uma experiência pessoal que tive há alguns dias atrás. Conheço um jovem senhor, de nome Ademar, portador de uma deficiência física que o impede de andar, fazendo com que ele só consiga se locomover com a ajuda de uma cadeira de rodas. Eu o admiro muito, pois mesmo limitado, ele ainda trabalha e ganha seu sustento diário com muita dignidade. Eu o considero como meu amigo, uma vez que já nos conhecemos há quase 20 anos, e por isso outro dia o convidei para vir a um culto na igreja da Ilha da Madeira. A princípio ele até aceitou meu convite, mas logo a seguir me perguntou: Na sua igreja há banheiros adaptados para minha realidade? E eu tive que dizer que não! Confesso que fiquei muito envergonhado, mas isso me fez refletir. Imediatamente cheguei a triste conclusão de que nós cristãos, temos sido muito displicentes e desumanos quando se trata de acessibilidade, pois assim como o Sr. Ademar, são muitas as pessoas que, por exemplo, usam cadeiras de rodas e tem que ser carregadas para entrar nas nossas igrejas, caso queiram participar junto conosco dos cultos que prestamos em adoração ao Senhor. Essas pessoas não querem que nós tenhamos pena delas. O que elas querem de fato, e tem todo o direito, é que haja possibilidade de sua inclusão em nosso meio através de esforços mínimos de nossa parte. Elas não aceitam e não querem ser tratadas como coitadinhas pela sociedade, pois há muito tempo essa idéia já foi abolida. Elas só querem dignidade! Pensando bem, adaptar nossos templos para recebê-las com um mínimo de dignidade não é favor nenhum, é apenas um cumprimento da legislação vigente em nosso país. Precisamos saber que as igrejas, por serem prédios privados de uso coletivo, estão sujeitas ao cumprimento da legislação sobre acessibilidade. Mesmo que não haja ainda uma fiscalização específica para igrejas, é preciso que nós cristãos, nos antecipemos a qualquer sansão legal, pois nosso lema maior é propagar o amor de um Deus, que não faz acepção de pessoas. A lei geral diz que todo prédio privado de uso coletivo deve estar de acordo com as normas da ABNT, ou seja, deve oferecer acessibilidade a todas as pessoas. É preciso então fazer um levantamento dos nossos imóveis. É preciso padronizar nossas calçadas, eliminando os obstáculos, nivelamento de acordo com a legislação em vigor, adaptando nossos banheiros e lixeiras as necessidades especiais das pessoas portadoras de deficiência física. Precisamos construir rampas adequadas para o acesso direto aos templos (com 45° de inclinação), e isso tudo ainda é muito pouco se comparado ao valor que todo ser humano tem para Deus. Somos mestres em convidar as pessoas para virem às nossas igrejas, mas nem sempre nos preparamos para recebê-las. Convidar significa oferecer condições para todos, inclusive para os 27 milhões e 500.000 brasileiros e brasileiras que têm algum tipo de deficiência ou limitação funcional, afinal de contas, para que eles participem de nossas atividades com autonomia, dignidade e equidade de condições, é preciso que lhes ofereçamos algumas condições mínimas. Precisamos reconhecer que as pessoas com deficiência também são cidadãs, com direitos e deveres e que, se elas ficarem à margem, isoladas (como lamentavelmente ainda acontece), não poderão exercer sua cidadania, e talvez percam até mesmo a oportunidade de serem salvas por Cristo Jesus, já que na igreja o que fazemos é pregar o evangelho que é poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Quando dificultamos ou excluímos esses nossos amigos de terem livre acesso as nossas igrejas, quer isso ocorra intencionalmente ou não, estamos sendo incoerentes com a própria palavra de Deus, pois Jesus sempre atendia aos excluídos. Ele fazia questão de lutar contra todo e qualquer tipo de segregação. Na cultura Judaica antiga, os rabinos pensavam e ensinavam que pessoas portadoras de deficiência eram invariavelmente vitimas do castigo de Deus, e que as crianças só atrapalhavam as cerimônias religiosas. Houve ocasiões porém, que Jesus confrontou esses pensamentos errôneos dizendo: “... Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. (Lc.18:16 e Jo.9:1-11). A acessibilidade aos templos torna-se algo urgente e um instrumento de exemplo para todo o restante da sociedade; pois a igreja como formadora de opinião, deve ser a primeira a dar vez e voz aos seus membros com deficiência, familiares e amigos. É chegada a hora de prepararmos nossas igrejas, a cidade, seus habitantes e seus espaços para garantir as condições de acessibilidade necessárias à participação plena das pessoas com deficiência. Confesso que aprendi uma grande lição com este episodio e estou ansioso para que chegue logo o dia em que eu possa levar o Sr. Ademar a um culto em minha igreja, e para isso, as obras de adaptação vão começar o mais breve possível.
No amor de Cristo,
Pr. Antônio Ramos