O Reencontro
Na minha faixa etária, já é possível reencontrar um amigo de infância, um colega de escola ou de trabalho, mais de quarenta anos depois do último encontro. Como nos vemos diariamente no espelho, não percebemos a nossa própria mudança, por se dar gradativamente. O mesmo ocorre com as pessoas do nosso convívio social ou familiar, pelo fato de nos vermos frequetemente. Entretanto, depois de muito tempo, é grande o impacto da mudança, pelo que devemos estar preparados para esta realidade. O que percebemos no outro é o que também ocorre conosco da parte de quem nos está reencontrando.
Entre os vários casos ocorridos comigo, ficou marcado o de um colega de trabalho com quem me encontrei trinta e três anos depois. Por motivo de transferência de Estado e depois também de empresa, perdemos o contato um do outro, de maneira que ficamos todo esse tempo sem comunicação. Depois de aposentado, e graças ao milagre da internet, tive a iniciativa de tentar localizá-lo através do Google, imaginando que, assim como o meu nome aparece quando lá é digitado, o dele também poderia ser encontrado, se constasse em algum site. Talvez pela diferença de idade, não aderiu a esta poderosa ferramenta de comunicação, mas lá apareceu o nome do seu filho, por ser professor universitário, com alguns trabalhos acadêmicos. Localizado seu e-mail, imediatamente procurei entrar em contato com ele, apresentando-me como ex-colega de seu pai. Em sua resposta já me informava o telefone, possibilitando-me o contato ainda no mesmo dia. Depois de termos trabalhado na mesma empresa e morado na mesma cidade, eis que nos descobrimos a mais de dois mil quilômetros de distância. Ele no Rio de Janeiro, a “Cidade Maravilhosa”; eu em Maceió, “O Paraíso das Águas”. Ele, tendo alguns dos familiares morando aqui, disse que logo no mês seguinte estaria aqui e marcaria um encontro entre nós. Marcado o local e a hora, tive a consciência de descrever as minhas próprias características, sobretudo o cabelo branco, óculos, cor da camisa e da bermuda. Ele vinha acompanhado de um filho que nem me conhecia pessoalmente, mas foi o primeiro a me identificar, pela minha descrição. O jovem de então era já um idoso, caminhando lentamente, pois que a nossa diferença de idade é de 16 anos. Ele, portanto, já um octogenário. Diferenças facilmente perceptíveis. Entretanto, nem tanto quanto outro reencontro, depois de quarenta anos, com uma jovem que se tornara sexagenária, parecendo muito mais com a Tânia Alves no personagem “Morte e Vida Severina” do que a Susana Vieira, atriz da Globo, na sua exuberante sensualidade, mesmo na condição de sessentona.