Um sistema literário regional
Em “Formação da literatura brasileira”, o crítico literário Antônio Candido defende o tripé escritores/editores/leitores como sustentação do sistema literário. Se tomarmos ligeiramente emprestada a discussão da formação nacional a partir de laços culturais, como propõe parcialmente Eric Hobsbawm, poderíamos pensar na formação do sistema literário brasileiro antes da proclamação da independência?
Pelo sim, pelo não, os critérios de definição de um sistema literário são delineados por desdobramentos políticos que nos permitem distinguir a Literatura brasileira da argentina ou da chilena assim como nos faz discernir os micro-sistemas nos estados.
Se por um lado o sistema literário brasileiro apresenta panoramicamente uma solidez visível, por outro, os micro-sistemas padecem da falta de sustentabilidade, de políticas públicas voltadas à formação do leitor como agente constitutivo da nação, de investimentos particulares direcionados e da ausência de perspectivas em relação ao livro como elemento de uma sociedade menos acrítica.
Entre os estados brasileiros, apenas o Rio Grande do Sul possui um micro-sistema literário ativo em que escritores gaúchos são publicados por editoras gaúchas e lidos por leitores gaúchos. O desempenho satisfatório desse micro-sistema tem mostrado resultados impressionantes se nos prendermos ao número de livros lidos anualmente por habitante: na média, o leitor brasileiro passa os olhos em menos de um livro e meio. Os gaúchos lêem seis livros, excluindo desse cômputo os técnicos, acadêmicos ou profissionais.
Outro ponto relevante na implantação ou no desenvolvimento de um micro-sistema literário paira sobre a formação e o reconhecimento de escritores. As feiras literárias promovidas em algumas cidades de médio porte são um grande incentivo, mas de nada valem se os escritores da cidade e da região não alcançarem espaço suficiente no campo literário de modo a criar uma gama de leitores que esperem suas obras. Afinal, quantos escritores de Presidente Prudente são (re)conhecidos em Londrina (PR) ou Assis (SP) ou quantos escritores destas cidades de médio porte são (re)conhecidos em Presidente Prudente?
A criação de um micro-sistema literário eficiente depende de nossas ações pragmáticas. Presidente Prudente, Assis, Marília, Bauru, Ourinhos, Londrina e Maringá são pontos de partida para dar fôlego à produção literária regional. O que esperamos?
*Publicado originalmente no "Oeste Notícias" (Presidente Prudente - SP) de 14 de janeiro de 2009.