EPÍLOGO: O IMPLACÁVEL SENHOR DA GUERRA
Esse texto foi escrito há dois anos e meio, mas como é muito atual,
resolvi publicar, afinal de contas, essa história está chegando ao seu "capítulo final" (Será?!)
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Era uma bela manhã de sol e lá estava o implacável senhor da guerra, sentado em sua mesa (na sala oval) ornada com os imponentes símbolos de seu império, cercado de generais. “Quem vamos explodir hoje?”, perguntaria ele a um de seus comandados. “Uma nação no oriente que vem tentando se destacar e unir povos contra nós, excelência”, teria respondido um dos asseclas, recém escolhido para chefiar os ataques.
“E quais são as evidências?” perguntara novamente o senhor da guerra. “Ora, senhor imperador, há mais de uma década eles não respeitam as nossas ordens, ignoram o nosso poder, medem forças conosco e impedem que nossos produtos entrem em seu território” – dissera o “cinco estrelas”. “Isso é um acinte!” esbravejara o todo poderoso Senhor da Guerra. “Dê-lhe dois dias para abrir lá uma franquia de nossa rede de lanchonetes ou então os expluda”, ordenara...
Terminada a reunião – num momento de reflexão sobre a sua posição no mundo – o inatingível ditador de muitos reinos olha para um terminal à sua frente. Na tela, apareciam divididos: de um lado, os indicadores financeiros; de outro, os indicadores sociais. Curiosamente, os indicadores sociais de seus domínios apresentavam valores muito baixos e multiplicavam-se os pedidos de ajuda financeira. Ao mesmo tempo, os índices econômicos eram gigantescos, mas ele não conseguia acreditar naquelas cifras.
O Senhor da Guerra estava confuso: “como posso ter tanto poder sobre povos que me idolatram, cumprem minhas ordens e que, a cada dia, estão mais pobres? Como posso alcançar meus objetivos e perpetuar-me no comando desse império, se aqueles que me apoiam são os primeiros a exigir que eu cubra todos os gastos que tiverem em caso de conflitos? Minha fortaleza é muito rica, meu povo é altamente manipulável, a opinião pública, se não estiver a meu lado, compro-a com pacotes econômicos convincentes: abro mais um shopping de promoções ou lanço um filme de patriotismo”, refletia.
O senhor da guerra só não sabia que as coisas não eram tão maravilhosas como ele achava – ou queria que os outros achassem – Não sabia ele que dentro de seus próprios domínios – cerrados atrás de muros de concreto para impedir invasores e com uma liberdade vigiada 24 por dia – haviam servos passando fome, enlouquecendo, matando uns aos outros por futilidade – só porque acharam legal ver isso nos filmes que a sua própria mídia – corrompida pelo poder capital – produzia.
O Senhor da Guerra desligou os terminais e ligou o link com as suas tropas. Ordenou aos generais que lançassem uma centena de mísseis contra o suposto inimigo. Queria ver as redes de comunicação dizimadas. Não podia esperar mais, estava estressado e dois dias era muito tempo a perder! Não queria que ninguém se opusesse ou veiculasse notícias contrárias ao seu poder. “Os cidadãos do mundo não devem pensar, não devem ter opiniões. Minhas palavras devem ser aceitas pacatamente”, delirava.
Assim, mais uma nação rica culturalmente, e diferente em suas teorias e pragmatismos, tombava aos pés do império. Mais um povo em liberdade, que ele – o Senhor da Guerra – julgava ser oprimido, passava a agir como marionetes, consumindo seus enlatados empoeirados, coisas que os seus próprios seguidores diretos do imperador já haviam rejeitado há décadas. O Senhor da Guerra, achando-se onipotente, fora dormir, sob o olhar atento e perplexo do Criador do Mundo.