Carga Explosiva 3
“Exagerou na dose” é a melhor definição para Carga Explosiva 3, novo filme da franquia produzida por Luc Besson. Entre reduzir a marcha ou acelerar, o filme opta, sempre, em enfiar o pé no acelerador.
A EcoCorp, uma empresa de gerenciamento de resíduos, contrata Johnson (Robert Knepper, da série Prison Break) para seqüestrar Valentina (Natalya Rudakova), a inconseqüente filha do ministro do Meio Ambiente da Ucrânia, e, com isso, conseguir a aprovação do político para despejar toneladas de lixo tóxico na Ucrânia. É ela o “pacote” que o motorista Frank Martin (Jason Statham) tem de carregar para cumprir sua missão, transportando a jovem de Marselha (França) até Odessa, na Romênia. Detalhe: nem a garota nem Frank sabem por que estão no carro e nem seu destino. Tudo é descoberto no caminho.
A referência à questão ambiental e à globalização é o único pé que o filme mantém na realidade. De resto, Carga Explosiva 3 é irreal. As cenas de perseguição continuam espalhafatosas, seja com Frank dirigindo um carro sobre duas rodas ou guiando uma bicicleta que passa por dentro de uma fábrica de costura e por ruas movimentadas, mas não perde seu alvo de vista, o carro. Ou seja, o filme, dirigido por Olivier Megaton (O Alerta Vermelho), está longe de buscar realismo.
Assim como nas duas produções anteriores, a história é o que menos importa. Se o argumento é interessante (uma vida em troca de uma herança de lixo tóxico), seu desenvolvimento é preguiçoso. Sem cuidados, o roteiro de Luc Besson e Robert Mark Kamen busca sempre levar o filme a cenas de perseguição ou de lutas. Quando Frank não está chutando ninguém ou guiando seu possante, o filme torna-se desinteressante por se apresentar como um apanhado de cenas de pura adrenalina com um recheio qualquer no meio.
Trocando em miúdos, a estrutura assemelha-se à de um filme pornô de simples elaboração. Se em algumas produções do gênero, o que importa mesmo são as cenas de sexo e o restante serve só como passatempo, em Carga Explosiva 3 a ação ocupa esse papel: um diálogo, um carro atravessa uma parede; outra conversa, um tiro na testa; mais um intervalo, Frank solta pontapés e socos.
No saldo, o filme é cansativo. As seqüências bem coreografadas nas quais o motorista mostra sua habilidade marcial perdem a força de sua beleza para um espectador que já foi submetido a doses cavalares de adrenalina. O ritmo é tão alucinante que a sensação é de comandar um joystick e pilotar um carrão no video game Need For Speed: Carbon.
Diálogos cômicos, como o de Tarconi (François Barléand) ironizando o pessimismo russo citando Dostoiévski (autor de Crime e Castigo), são pouco explorados. Até o respiro dado pelas exuberantes paisagens apresentadas no filme é soterrado por um trilha sonora repleta de hip hop e new metal, acelerando ainda mais o ritmo. Em diversos momentos, Carga Explosiva 3 provoca a vontade de saltar do carro de Frank, parar à beira da estrada, tomar um refresco, relaxar e deixar o motorista seguir sozinho.