Janeiro, fevereiro, março, abril e...! Ufa! Chegou finalmente, pelo menos nas vidas de tantos noivos, o mês de maio; mês em que há uma tradição de casamentos no mundo latino. As noivas e (raros) noivos começam em janeiro a preparar data da igreja, contratar o Buffet, alugar o carrão antigo que levará a noiva para a igreja, acertar papéis no cartório, escolher o melhor lugar para receber os convidados, comprar as alianças, escolher lembrancinhas e olhar no mapa aonde os nubentes irão passar a tradicional lua-de-mel. Tudo isso é cansativo, caro e fora de moda para a maioria dos casais modernos, segundo pesquisas e depoimentos.
 
Somente para elucidação da curiosidade, o mês de maio se tornou o mês das noivas por causa da consagração de Maria, mãe de Jesus. Consta na tradição católica que Maria foi “consagrada” em Maio e teve seu bebê em Dezembro e este fator, quando o Clero ainda mandava no povo, teve forte influência para os casais; pelo visto, até hoje! Também é em Maio que se comemora o Dia das Mães (2º domingo) e justamente nestes segundos domingos é que é celebrada a maioria dos matrimônios religiosos.
 
Muito antigamente, quando existia malmente o desquite, as moças virgens eram preparadas para casar-se com os médicos, advogados e engenheiros, mas não podia ser qualquer um médico, advogado ou engenheiro, tinham que ser “doutores”, ricos e pertencentes às famílias tradicionais; ser um “Silva” nas décadas anteriores aos anos 80, não soava bem aos ouvidos de famílias das moças virgens, pelo menos teria que ser um “Silva e Silva” ou quem sabe, um Matarazzo. As meninas ainda crianças eram ensinadas a ser prendadas, tinham que saber cozinhar ou entender bem dos prazeres culinários; as moças tinham que saber costurar, lavar, passar e fazer filhos, tudo isso para não correrem o risco de perderem seus “doutores”.
 
O ritual era absolutamente simples; elas nasciam, cresciam um pouco, estudavam e já eram preparadas para quando terminassem o colegial (normalmente eram “normalistas” – faziam escola “normal”, a quem eram atribuídas os títulos de professoras) já estarem preparadas para casar e dar muitos netos aos seus pais. A moça que já não fosse virgem, ih!; Poderia ser um escândalo e os moços “doutores” poderiam não as querer como esposas e se não fossem submissas as vontades e preconceitos masculinos, também poderiam não conseguir muita coisa na vida; mas isso era no tempo que a mulher não tinha nenhuma, ou quase nenhuma, oportunidade no mercado de trabalho; mulher para ser bem sucedida há 40 anos, só se nascesse rica, herdasse, roubasse ou casasse, trabalhando era impossível.
 
Outra parte do ritual que levava ao casamento era: namorar discretamente, noivar com anúncio social moderado e casar com badalação; casamento que não tivesse todos os atributos citados no primeiro parágrafo, com certeza não seria um “casamentão”. As moças que se entregavam aos prazeres da carne antes do casamento eram submetidas ao matrimônio forçado; sabe-se de milhares de casos de moças que transaram antes da igreja e que foram parar no altar com escolta armada; ou casava ou morria.
 
Os preparativos eram incríveis; depois de escolher tudo para o casamento, a casa, móveis, enxoval e outras “coisinhas” da pós-cerimônia deveriam estar meticulosamente acertados, tais como: bordados, camisolas, pijamas, sandálias, enfim, tudo tinha que estar em seus lugares para que os noivos entrassem em uma nova vida de modo romântico e conjuminado. Que me perdoem os tradicionalistas e saudosistas de plantão, mas era uma cafonice sem precedentes, além de é claro, uma tortura chinesa para a parte que não curtia aqueles ritos e como citei: a maioria, os homens.
 
Mas então veio a modernidade; a moça não necessitava primordialmente ser virgem, ela já trabalhava e praticamente se sustentava sozinha; fazia faculdades de medicina, engenharia e direito, então, eram também “doutoras”, dirigiam sem motoristas abusados aos seus lados, tinham filhos praticamente sozinhas e ganhava dinheiro o suficiente para atraírem a atenção de muitos marmanjos ricos; tudo mudou, só não mudou a vontade de casar, constituir família e de prepararem nos mínimos detalhes o casamento.
 
Informações oficiais de cartórios demonstram que 25% dos casamentos atuais não chegam ao primeiro ano, 13% não chegam ao segundo ano e 21% não consegue chegar ao quinto ano de existência; outro dado oficial é que juízes de varas familiares e sucessões trabalham mais ou iguais aos juízes criminais; também é oficial que 72% dos divórcios envolvem questões que deveriam ser banais, como disputa de metade de uma geladeira velha ou partilha de quinhões menores a R$ 300,00 que estão numa caderneta de poupança dos filhos.
 
O desquite já não existe mais; desquite, como a própria palavra já traduz, significa NÃO ESTAR QUITES entre si, ou ainda, quando um consórcio matrimonial chega a um impasse irreversível do ponto de vista da união. A palavra moderna é divórcio, mais prática, simples e plausível, mas não menos flagelante e maculosa para os envolvidos. Os casais que resolvem apelar para o divórcio 81% possuem filhos que dependem de regulamentação de cautela de alimentos; 79% também discutem bens que alegam terem adquiridos durante o matrimônio e o pior de tudo: 29% dos casamentos, em média, terminam numa delegacia, na maioria das vezes por agressões de todas as naturezas às mulheres, que é covarde e repugnante.
 
Os casais modernos NÃO CASAM de papel passado (eu que o diga); as pessoas estão acostumadas a se conhecer nos shoppings, bares, boates, internet ou nas ruas, namoram um pouco e logo já sabem se seus interesses materiais combinam com o do parceiro; sim, interesses materiais; o amor já é um segundo plano na maioria dos casais modernos; não precisa mais estar amando como se dizia antigamente. Os novos relacionamentos necessitam ter obrigações mútuas, respeito, carinho e fidelidade na amplitude da palavra. Com apenas estes ingredientes os nubentes contemporâneos já prevêem se darão ou não certo como casados. 32% das mulheres que se unem atualmente sem os documentos formais do matrimônio afirmam terem saído de uma relação recente que era tida como “forte”, ou seja, elas foram decepcionadas (ou decepcionaram).
 
Os cartórios de documentos de todo país já disponibiliza um papel chamado CERTIDÃO DE UNIÃO ESTÁVEL, que em tese equivale a uma Certidão de Casamento tradicional, com a diferença de ser infinitas vezes mais tranqüila, simples, fácil e BARATO. O casal deve se dirigir ao cartório de sua cidade, munido dos documentos simples (RG e CPF) e declarar ao escrevente que já possuem uma união estável; se tiver filho (s), a certidão fica ainda mais consistente e forte perante a Lei. Se os consorciados desta modalidade quiserem declarar obrigações, bens e outros afins, eles pode ainda o fazer em uma declaração pública anexada a esta certidão.
 
Em suma, o meu casamento, que já dura seis anos, é tão forte quanto o casamento de qualquer outro brasileiro que contraiu matrimônio pela igreja e fórum; temos as mesmas regras, as mesmas obrigações legais e os mesmos preceitos sociais, a única diferença é que eu gastei R$ 35,00 depois de três anos para confeccionar a certidão de união estável, enquanto a maioria paga uma fortuna pela igreja, cartório, festa, etc. Basicamente somos iguais, principalmente se temos filhos e não possuímos outras famílias (bigamia). Filhos e esposas terão os mesmos direitos à pensão, aposentadoria, seguros, prêmios, herança, partilhas, tudo que compõe um casamento tradicional, respeitando-se é claro, os sonhos de quem pretende casar-se numa igreja, vestida de branco e jogando um buquê para as convidadas.
 
Um amigo antigo, Carlos Eduardo Azevedo, da Polícia Civil da Bahia, me dizia a uns 13 anos que o “casamento tradicional é uma instituição que já nasce falida”; durou muito para eu acreditar e traduzir esta afirmação. Quando se casa, não se costuma pensar nos anseios comuns; não se costuma raciocinar nos perigos que uma vida a dois pode gerar; não se mensura os defeitos pessoais e se eles casam também com os defeitos do parceiro; não se mete as dificuldades financeiras e as questões como “filhos” e “casa”, se elas podem gerar mais dificuldades.
 
Os casais tradicionais pensam nas festas, na lua-de-mel e no sexo. Voltando ao passado, o sexo era uma aventura quase inquestionável; moças queriam ter suas primeiras relações sexuais com seus príncipes e os ditos “príncipes”, queriam a todo custo provarem dos segredos mais íntimos de suas donzelas. Era uma época onde até os bordeis havia glamour e por mais que os homens os freqüentassem, eram suas adoráveis esposas que eles queriam nas camas aveludadas; hoje o sexo é secundário; existe e é intenso, mas não tão importante quanto antigamente; ninguém mais se louvaminha de transar duas ou três vezes ao dia e a visão econômica sólida já demonstra ser uma das mais importantes passagens na vida dos casais.
 
O homem e a mulher feios (do ponto de vista da plástica erudita) se formem endinheirados, conseguem parceiros lindos; se não forem, também conseguem, mas somente se tiverem a capacidade de mostrarem autonomia e inteligência. Mulheres modernas preferem homens comuns e inteligentes a os lindos, ociosos e burros, da mesma forma que os homens desejam mulheres capazes de ajudá-los a gerir uma vida a dois. Acabou-se o tempo que bastava ser lindo para se conseguir um bom partido, do mesmo modo que “bom partido” é aquele que se sobressai entre os demais, daí o adágio que afirma que “irá sempre existir um sapato torto para um pé correto”.
 
Os filhos estão desaparecendo, ao contrario da população; o fenômeno muito embora seja similar, não é paradoxal. A população cresce num ritmo acelerado, mas os casais modernos não querem ter mais do que dois filhos. Filhos lhes tiram o precioso tempo para namorar, trabalhar, curtir e ganhar dinheiro, além de é claro, diminui a qualidade de vida. Até a década de 50 a média brasileira era de 5 filhos, sendo que mulheres do interior tinham até 20 meninos, minha avó materna teve 22 e eu só conheci 12. No século passado, dentre outros fatores, acreditava-se que muitos filhos eram sinônimos de segurança no futuro; ledo engano!
 
Hoje, um único filho de um casal de classe média brasileira, custa aos bolsos dos pais algo em torno de R$ 1.500,00 por mês, sem regalias extraordinárias. Escola, saúde, segurança, vestuário e alimentação são os fatores mais preocupantes para os casais abastados e tais fatores envolvem outras questões como morar bem localizado e ter carro (segurança e conforto), proporcionar um futuro mais digno (escola e alimentação correta) e deixá-lo imune as doenças modernas, proporcionando-lhe ações preventivas (saúde). Nas mediações de meu bairro, há uma das mais requisitadas escolas de Minas Gerais, a Escola Americana; destinada a crianças de até 8 anos; uma mensalidade não sai por menos de R$ 1.500,00.
 
Muitos e longos outros fatores também são importantíssimos na hora de se pensar em casar, outros são de importância moderada e ainda existem os pequenos e irrelevantes fatores; discuta-os amplamente com seu parceiro; verifiquem se existe a menor condição de superação dos problemas existentes e vindouros; tracem uma estratégia como se fosse um contrato formal de união de partes e celebrem-no em pacto secreto; coloquem em questão os fatores: querer, poder e sustentar. Observem quais destes fatores são os mais eminentes e só então marque ou desmarque seu casamento. Se o “querer” for mais forte do que os demais, desista enquanto é tempo!
 
Eu costumo dizer que casar no sentido do ritual tradicional é um ato lindo, mas que não ficou para mim e que muitas vezes temos que assumir desafios incomuns aos do cotidiano, mas desafios onde costumamos por em risco a felicidade alheia chega a ser criminoso. São muito melhores e mais necessários os amigos fortes do que consortes matrimoniais sorumbáticos.
 
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
www.irregular.com.br
 
Veja também outras curiosidades que envolvem o rito religioso do matrimônio, revelados por Luciana Farias, Sacerdotisa da Idade Antiga e editora do site: www.simplescidade.com.br.
 
·         A cerimônia de casamento nasceu na Roma antiga, nessa forma de ritual formal, com sacerdote, vestido especial para noiva, festa e tudo mais. Com o passar do tempo a tradição pegou e perdura até os dias de hoje. Também foi lá que as primeiras uniões civis aconteceram e onde a mulher poderia se casar com a pessoa que escolhesse e por livre vontade.
 
·         Muitos anos atrás quando um homem se apaixonava por uma mulher ele capturava a pretendente (mesmo contra a sua vontade) e a escondia por um mês (de uma lua cheia a outra) em algum lugar afastado das famílias envolvidas. Durante esse período todo ele oferecia a ela uma bebida adocicada com mel extremamente afrodisíaca, de maneira que ela caísse em seus braços. Foi desse costume que nasceu a Lua de Mel.
 
·         Nossas antepassadas usavam buquês de noivas com vários tipos de flores e também de ervas. Os mais populares eram o de alho (que afugentava os maus espíritos), os de violeta (que representava a modéstia), os de hera (representava a fidelidade ao amado), as rosas vermelhas (a paixão) e o lírio representando a pureza. Para o casal que queria alegria e muitos filhos eram usados os buquês de flores de laranjeira.
 
·         Os padrinhos antigamente eram mais guarda costas do o melhor amigo. Claro que se convidava um bom amigo, mas geralmente ele deveria ser um guerreiro para ajudar a proteger a noiva de possíveis seqüestradores (que era muito comum antigamente, raptar a noiva antes do casamento).
 
·         A tradição da noiva sempre ficar do lado esquerdo do noivo era para que este pudesse estar com o braço direito livre para sacar sua espada em algum sinal de perigo.
 
·         As flores hoje colocadas em todo o caminho percorrido da noiva até o noivo era um costume romano, já que eles acreditavam que as pétalas de flores fariam com que a união fosse de muita sorte e de muito carinho de um com o outro.
 
·         Na antiga Grécia a noiva usava um véu para protegê-la do mal olhado e também de seus admiradores. A tradição perdura até hoje.
CHaMP Brasil
Enviado por CHaMP Brasil em 05/01/2009
Código do texto: T1369006
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