O amor de Deus

O AMOR DE DEUS

O certo é que Deus nos ama com um afeto infinito, sem medida ou qualquer resquício de interesse. É preciso que se diga que ele não precisa do nosso amor. São João, o evangelista-teólogo disserta em vários trechos de suas obras a respeito do amor de Deus.

No primeiro deles, reporta-se às palavras do Mestre ao afirmar que “Deus de tal forma amou o mundo, que deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Mais adiante ele prolata a definição mais imanente sobre a divindade: “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). É no contexto do IV Evangelho que encontramos referências ao “tríplice amor”: A Deus, ao próximo e si mesmo. O “novo mandamento” aponta para um amor radical: amar o outro do mesmo jeito que somos amados por Deus (cf. Jo 13,34).

No Antigo Testamento, a partir da instauração do “projeto divino” chega a nós a certeza do grande amor de Deus. Ele é pura gratuidade, e nos ama independentemente do que somos ou fazemos, e mesmo sem merecermos. Ele disse ao profeta, e numa extensão a todos os que iriam se colocar ao seu serviço e sob a sua proteção: “com amor eterno eu te amei...” (Jr 31,3).

O amor humano pode ser encontrado sob três facetas: a) o filo (uns dizem filia), aquele amor-amizade que gera a solidariedade e o respeito; b) o agápi (alguns dizem ágape), um amor-total, capaz de gerar compromissos e obrigações; c) o éros, um amor-parceria, carnal, que gera o desejo de exclusividade e o ciúme.

O ser humano, em muitas oportunidades de sua vida, consegue amar desses três modos. Deus também nos ama dentro dessas três características. Ele é amigo, solidário e amante.

É amigo porque nos quer bem, aprecia que busquemos sua companhia e se alegra quando conversamos com ele. Não é assim que funcionam as grandes amizades?

Deus nos ama com o agápi por que seu amor é imenso, sincero e total. Assim como ele é comprometido com nosso bem-estar, felicidade e salvação, igualmente, ele espera atitudes de compromisso e respeito com sua obra e com a vida dos outros seus filhos.

Quando fazemos uma festa, onde o encontro, a alegria e o convívio sejam a tônica, costumamos chamar de “ágape”. Também, as celebrações na Igreja, o encontro da família no lar e a partilha dos bens, dos sorrisos e cuidados na sociedade, sob a inspiração do amor divino, devem viver o clima do “ágape”.

Por último, precisamos enxergar – como dizem alguns teólogos modernos – a erótica de Deus. Não se trata de amor-sexual como a expressão pode dar a entender num primeiro momento. A expressão aponta para um amor carnal, sim, legítimo rahamim, aquele “amar com as entranhas” como faz uma mãe com o seu filho. Esse amor é o fundamento da hesêd (aliança). O amor erótico de Deus exige exclusividade (“não terás outros deuses”) e gera ciúme nas transgressões (“eu sou um Deus ciumento”).

É por tudo isto que, referindo-se ao mistério do amor de Deus, São Paulo afirmou que “o amor nunca haverá de passar” (1Cor 13,8).

O autor é Teólogo leigo, Biblista e Doutor em Teologia Moral