VERDADE CIENTÍFICA OU INVENÇÃO IDEOLÓGICA?

O estereótipo de raças humanas foi criado pelos cientistas europeus na tentativa de categorizar diferenças entre seres humanos europeus e não europeus. Assim, foram atribuídas possíveis diferenças biológicas para justificar o conceito geográfico de “raças”. Nesse sentido, com base em uma “hierarquia intelectual e civilizatória”, as “raças” não européias foram classificadas como “inferiores” às européias. Este conceito etnocêntrico e ideológico foi plantado e dissimulado pelos colonizadores no processo de legitimação da “superioridade da raça branca”, “supostamente comprovada pela Ciência”, como forma de tentar justificar a dominação de um povo sobre outros povos, como a escravidão, a conquista, a colonização e o imperialismo europeu.

No entanto, hoje, dados científicos revelam que, o que existe realmente é uma total integração e miscigenação entre grupos humanos desde tempos remotos, e não um suposto isolamento específico de raças geográficas. Os seres humanos são todos da mesma espécie evoluída a partir de uma mesma ancestralidade, originária da África, e que as variações genéticas relativas às capacidades humanas, variam mais entre raças específicas do que entre as raças geográficas. Os dados científicos confirmam apenas pequenas diferenças entre as raças geográficas.

Historicamente a África sempre foi palco de avanços tecnológicos na área da agropecuária, da mineração e metalurgia, do comércio, da escrita, da engenharia e arquitetura, do urbanismo e construção civil, das sofisticadas organizações políticas, da prática da medicina e da reflexão intelectual. Foi também centro do desenvolvimento de civilizações. No entanto, é atribuída à África a imagem de povos sem conhecimentos tecnológicos ou importadores de tecnologias, enfim, uma ideia preconceituosa e plantada de “continente sem história”. Apenas recentemente a África foi reconhecida como um continente histórico e de grandes realizações.

Nesse sentido, a história da África precisa ser abordada para além dos últimos 500 anos, uma vez que o ufanismo em torno da expansão européia quinhentista reduziu e distorceu a visão histórica da África. Assim, não se pode esquecer que povos antigos da África navegavam em mares à procura da rota para as Índias, milênios antes dos portugueses e espanhóis. Que os egípcios já construíam navios de grande porte há 3 séculos a.C.. Que o mundo antigo caracterizava-se por um ativo comércio e intercâmbio cultural entre a África, a Eurásia e outras regiões, provavelmente as Américas.

E ainda, que os africanos que invadiram a região norte da África (Marrocos e Argélia), por volta de ano 50 a.C., chamados pelos romanos de. Mouros, também dominaram a península ibérica por séculos, protagonizando uma verdadeira integração e avanço do conhecimento humano, naquela época. Portanto, um olhar histórico voltado somente para os últimos 500 anos, só reforça a imagem construída dos povos africanos, como primitivos e eternos escravos.

A complexidade das relações raciais na sociedade brasileira é fruto do processo de escravização dos africanos, ao longo da História do Brasil. Neste sentido, nas relações sociais, o negro sempre foi visto na condição de subalterno. E isso está explícito na classificação social de lugares e de hegemonia. Assim, denominações herdadas da escravidão e vinculadas à subalternidade, como: “branco” e “negro”, são utilizadas para demarcação de “lugares sociais”. Essa classificação vem carregada de discriminação, preconceitos, opiniões e certezas, determinando assim, o lugar de cada um no imaginário histórico da sociedade brasileira.

No Brasil o termo “negro” é quase que sinônimo de escravo, embora, a escravidão tenha atingido vários povos do mundo inteiro, inclusive o europeu, e não apenas os africanos. Desde que o mundo é mundo a escravidão sempre existiu, e em diversas épocas históricas, como por exemplo: na Grécia Antiga, no Império Romano etc. Porém, de forma diferente da praticada pelos europeus na África, nos últimos séculos. Por ocasião da escravidão mercantil implantada na África, calcula-se que tenha sido escravizado um terço da população, durante o seu apogeu. Os africanos foram trazidos a força para o Brasil, em grande quantidade e na condição de escravos. Aqui o termo “negro” passou a ser o identificador de sua condição social, de inferioridade, de racismo e de discriminação exacerbada.