A passagem do tempo é uma das grandes preocupações do ser humano. Muito já se pensou e muito se produziu e ainda se produz em torno dos conceitos de tempo, enquanto uma noção de duração de um fenômeno ou de um acontecimento em relação a outro fenômeno ou acontecimento ou em relação a um ou mais observadores.
     Antes de começar a discorrer propriamente sobre o que entendo por “tempo”, penso ser necessário abordar algumas definições sobre ele que encontrei em uma recente pesquisa na rede mundial de computadores.

     A concepção comum de tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração. Por influência de idéias supostamente desenvolvidas por Einstein, na teoria da relatividade, tempo vem sendo considerado como uma quarta dimensão do contínuo espaço-tempo do Universo, que possui três dimensões espaciais e uma temporal. Assim, o tempo está associado à idéia de que um acontecimento ocorre depois de outro acontecimento. Além disso, pode-se medir o quanto um acontecimento ocorre depois de outro. Esta resposta relativa ao quanto é a quantidade de tempo entre estes dois acontecimentos. A separação dos dois acontecimentos é um intervalo; a quantidade desse intervalo é a duração. Uma forma de definir “depois” baseia-se na assumpção de causalidade. O trabalho realizado pela humanidade para aumentar o conhecimento da natureza e das medições do tempo, através do trabalho destinado ao aperfeiçoamento de calendários e relógios, foi um importante motor das descobertas científicas.

     Nestas concepções, provavelmente, reside um dos indícios do que seja o tempo para a maioria das pessoas. O ser humano se dedicou a pesquisar e a procurar na natureza as manifestações do tempo, na esperança de encontrar indícios ou explicações de suas origens, no intuito de apropriar-se dele para organizar sua vida e seu lugar no cosmo.

     As unidades de tempo mais usuais são o dia, dividido em horas e estas, por sua vez, em minutos e estes em segundos. Os múltiplos do dia são a semana, o mês, o ano e este último pode agrupar-se em décadas, séculos e milênios.

     No entanto esta forma de medir o tempo é uma produção humana, portanto, cultural.

     Crianças de colo não têm a noção de tempo e adultos com certas doenças neurológicas e ou psiquiátricas podem perdê-la.

     Este é um inegável indício de que o tempo é aprendido culturalmente ou socialmente e não faz parte da natureza.

     Tempo, na música, é o termo empregado para associar a relação de distância entre os acontecimentos dos sons musicais. Tempo é, também, o continuum linear não-espacial no qual os eventos se sucedem irreversivelmente; duração limitada, por oposição à idéia de eternidade; período; época; sucessão de anos, meses, dias, horas que envolve a sensação de passado, presente e futuro.

     Assim, tempo é também uma sensação, um sentimento e, por conseqüência, algo que está nas nossas impressões sobre o mundo. O tempo é, portanto, produto da subjetividade humana. Falar sobre o tempo é uma coisa que me atrai, porque para mim o tempo é uma invenção das pessoas para explicar, ou melhor, aceitar o transcurso do ciclo da vida. No meu entendimento nada acadêmico ou até mesmo antiacadêmico, o tempo não existe, de fato, na natureza. Ele é a expressão da subjetividade humana para explicar o nascimento, o crescimento e a morte ou o retorno de todas as criaturas ou substâncias ao seu lugar comum. Assim, o que chamamos de tempo é a percepção que temos do ciclo de vida ou de movimento do universo, é algo que vem de dentro de nós, que é construído a partir do impacto, do temor e do fascínio que nos causa esse movimento de constituição e degeneração de tudo que nos rodeia e de nós mesmos. Somos assim, porque já não nos percebemos como seres integrados à natureza. Desprendemos-nos dela e nos vemos como seres fora da trama do universo que se desenrola enquanto nosso próprio ciclo de vida transcorre. É verdade que, realmente, o ser humano vem se apropriando da sua natureza em seu próprio benefício, dominando-a relativamente para garantir um ciclo de vida com mais qualidade e até prolongá-lo. No entanto, essa apropriação é por vezes enganosa e nos prende em uma armadilha. Assim, achamos que temos tempo para fazer planos de longo prazo e vamos deixando "o barco correr". Muitas vezes fazemos planos para a velhice, a aposentadoria, entre outras coisas e nos esquecemos que os planos para o futuro começam na ação no momento presente. Não podemos deixar de viver o presente em nome de um pretenso futuro que poderá não chegar jamais. Afinal de contas, o futuro é resultado do que fazemos no momento presente.
     Os poetas falam muito sobre o tempo de uma forma peculiar. Em uma letra de música, o conjunto musical brasileiro,Legião Urbana, por meio do seu poeta maior, Renato Russo, fez sucesso ao cantar “... é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque na verdade não há...”, ou seja, o tempo nesse sentido depende do nosso desejo e de nossa ação no presente, do contrário o futuro não chegará. Este trecho de poema nos conduz a uma boa noção da carga de subjetividade que o ser humano imprime em sua relação com o tempo. Quando o poeta Cazuza diz que "... o tempo não pára... dias sim, dias não eu vou sobrevivendo sem um arranhão...", ele expressou de forma profunda como enfrentava a tragédia e a maravilha que é o ciclo da vida; Cazuza imprimiu a sua subjetividade, conceituando o que é o tempo para ele, ou seja, sobreviver sem um arranhão, não se ferir ou não ferir os seus sentimentos; conseguir passar por esse ciclo sem ter o espírito dilacerado pela culpa, pela incerteza ou pelo medo. Por isso o tempo é uma invenção, ele está dentro de nós e não na natureza.

“Existe apenas uma idade para a gente ser feliz,
Somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos...
Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa ...”