Epifania

EPIFANIA

De certa forma diluído nas narrativas do Natal, o episódio da visita dos magos à Sagrada Família não tem, pelo menos no ocidente, o aprofundamento que esse mistério, oriundo do projeto divino deveria ter.

Desde criança nos acostumamos a ver a “visita dos três reis magos” como um evento natural do presépio, onde, escondidas ou distantes, as imagens de gesso dos três enigmáticos visitantes, só eram aproximados no dia seis de janeiro. Como tantas, a epifania é uma festa de origem pagã que foi apropriada pelo cristianismo. Desde os escritos de Homero (700a.C.), que a epifáneia que dizer a aparição benévola de alguém disposto a ajudar.

O verbo aparecer é fainôo e o prefixo epi quer dizer para todos, perifericamente, com glória. Na verdade, a grande celebração não é da visita dos magos a Jesus, mas o aparecimento, a “exibição” de Jesus aos sábios do mundo, representando etnias e nações. Dessa inversão pouca gente se dá conta. A manifestação aos sábios de vários quadrantes é o primeiro sinal da universalidade do evangelho.

No Oriente essa visão é tão clara que as Igrejas Ortodoxas festejam, pela ordem de importância, a Páscoa, a Epifania e o Natal.

O ouro, o incenso e a mirra apontam para fatores como realeza, divindade e preservação do Cristo. Embora alguns liguem a mirra, pelo amargor, ao sofrimento, os biblistas preferem buscar uma relação desse líquido com a unção que usavam para preservar (idéia de imortalidade) os cadáveres.

A tradição ocidental tende a falar mais alto que as Escrituras. Não se encontra, na Bíblia, em lugar nenhum, que os visitantes eram reis, nem tampouco que eram três, e muito menos que se chamavam Kasper, Melchior e Balthassar, como nos ensinaram. Os nomes, um caucasiano, outro árabe e o terceiro babilônico, prende-se a três culturas do mundo conhecido.

Quando fundou a Igreja da Natividade, em Belém, no século IV, a princesa Helena, mãe de Constantino, instituiu em três o número de magos, afirmando que um era negro, nominando-os e relacionando-os com os três presentes depositados aos pés do Menino-Jesus. Há, até hoje, naquela basílica, um grande mural, com os três personagens. A narrativa dos magos, que aparece só no evangelho de Mateus, fala apenas em “... magos do oriente” (cf. 2, 1).

A missão do biblista é garimpar, em textos às vezes obscuros, riquezas disponíveis, porém ocultas. Não há dados confiáveis no que tange a serem eles em número de três, “reis”, ou muito menos “santos”. A melhor visão pedagógica, além da simbologia dos presentes ofertados, é a do retorno.

Depois de verem a Jesus, eles voltaram por outra estrada. Esse é o grande sinal para os cristãos. Depois que aceita Jesus em sua vida, o homem nunca mais é o mesmo; larga o caminho do pecado e da superficialidade, para, mudando de rumo, seguir a trilha do Salvador. É uma pista simples, porém eficaz, capaz de mudar a vida de qualquer pessoa. No entanto, o povo festeja mais os “santos reis” que a Epifania.