Diagnóstico Stern
Diagnóstico Stern
Nicholas Stern, Sir, apresentou o estudo que leva o seu nome - mais de 700 páginas - em outubro de 2006. Primeiro alvoroço no galinheiro intelectual: o governo britânico encomenda esse estudo a um economista e não a um cientista. Objeto do estudo: com as alterações climáticas, qual o impacto das mesmas na economia. Resultante do relatório em economês: basta investir 1% do PIB Mundial, para se evitar uma perda de 20%. Em siglas e porcentagens, tudo sempre parece ordenado. Principalmente quando o relatório baseia-se em projeções para daqui há 50 anos.
A pedra no meio do caminho fica por conta das pesquisas do jornalista Washington Novaes, expert em ambientalismo, assinalando que o único dígito correto nesses 50 anos é o 5, sem o zero. Se tanto. A conclusão do jornalista é que a casa já caiu.
Nas 700 páginas de Sir Stern prodigam os termos: Dióxido de carbono • Desflorestação • Potencial de aquecimento global • Efeito estufa • Gases do efeito estufa • Ilha de calor urbana • Poluição atmosférica• Variação orbital • Variação dos Oceanos • Tectônica de placas • Deriva dos continentes • Ciclo solar • Vulcanismo.
A soma deles, acima, apenas amontoados, lembra uma garatuja.
E vamos passar a viver numa, (muita gente já vive), se além, ou antes, em conjunto com as ações (hipotéticas) governamentais, não fizermos a nossa parte. Cada formiguinha do planetário pode se esforçar para que o problema não as transforme em elefantes. Linguajar infantil faz milagres. Por isso as crianças aprendem depressa. Adultos se emaranham em emaranhados lustrosos de palavrório descomunal. Em linguajar infantil, somos, pois, 6 bilhões de formiguinhas, e se não controlarmos o que está desgovernado, como por exemplo, a emissão de CO2, a sensação dos habitantes será a de 6 bilhões de elefantinhos. O que eles sentirão, hipoteticamente falando, terá muita semelhança pelo que se denomina de asfixia.
Sir Nicholas Stern sabe o que fala, tendo estado entre as mais altas patentes do Banco Mundial, e tendo despendido um esforço digno de nota para explicar ao mundo que, se por um lado seu relatório é alfa numérico, sua tradução em bom português equivale a palavra chave “controle”, que, a meu ver, só se conseguiria com a atitude chave: boa vontade, precedida pelo fenômeno chave: milagre. O que é que se deve controlar, ó Pai?, indagam aqueles cuja ficha ainda não caiu, mas sentem em seus corações a boa vontade e sua perspicácia já sabe que o nome do milagre é arregaçar as mangas. CO2 é a resposta certa. Cada tonelada de CO2 que emitimos hoje está causando estragos na ordem de 85 dólares. Parece um número. E parece pouco, mas, se pensarmos em escala... E se pensarmos na responsabilidade individual de cada um, que compete com algumas gramas para a formação da tonelada, e que no final de tantas contas não se trata apenas de uma tonelada, mas de um número suficiente que se delineia na garatuja acima mencionada, a conclusão parcial é que o tempo não pára. Assim, não será o caso de esperar que Cronos cruze os braços, até que a galera absorva duas gotas de bom senso, (três seria overdose), e comece ontem a fazer algo em prol de Gaia, o lar de todos.
O lado positivo do Relatório Stern, além da sua existência, é que ele aponta saídas. Citação: “Combater a mudança do clima significa uma estratégia pró-desenvolvimento; ignorá-la subtrairá definitivamente o crescimento econômico.” Saída com cifras: “Mercados de tecnologias de baixo uso de carbono valerão pelo menos 500 bilhões de dólares e possivelmente muito mais, por volta de 2050, se o mundo agir na escala necessária.” Se o mundo agir dá samba. Stern dá a fórmula. Que, ainda em economês, e grosso modo, mostra que uma atitude empresarial/corporativa, pode até lucrar com as mudanças.
Agir significa, nas palavras de Washington Novaes, mudar a matriz energética da humanidade. O Sr. Stern pondera sobre “os desafios políticos, nacionais e internacionais para se transformar a economia global em baixa emissão.” Dá-lhe ação.
Fazendo um rápido parágrafo, há uma escola de mistério, e vamos assim chamá-la para não ferir os brios de quaisquer crenças, que diz que tudo o que existe no plano mental já está praticamente pronto para ser desfrutado no plano material. Parágrafos rápidos são indolores. Ações dessa magnitude podem acarretar alguma dor, embora tudo vá depender do juizo de quem está no trono. Porque o trono dá a impressão de ser um local inatingível, muitos já sofreram dessa ilusão, ao passo que o problema em questão pode ser entendido com outra pérola mística: a luz do sol que ilumina o meu jardim é a mesma que ilumina o jardim do meu vizinho. Quem disse que a verdade não é simples? Difícil será mover os entronados no carbono a mudarem de tática. Mas não impossível.
Neste parágrafo, mais rápido que o anterior, tem o exemplo da Nokia, a gigante dos celulares, que antes era uma fábrica de papel higiênico.
Assunto vasto e de fôlego, mas, inegavelmente, do interesse de todos, inclusive dos desinteressados. Porque se o mundo mudou muito desde a época das liteiras, quando um sujeito ia sentado e outros tantos fazendo força, hoje existem os milhares de pequenos tronos, matematicamente responsáveis, e com isso mais um obstáculo digno de nota, e acentuadamente notado no relatório: informar, educar e persuadir indivíduos sobre o que eles podem fazer para combater a mudança do clima. Um programa fácil para quem reside na Islândia, e acha um programão ser voluntário da prefeitura para limpeza de ruas, que por sinal já são um brilho só, mas vai conscientizar quem acabou de pagar seu carrinho popular, cônscio, honesto, pai de família, trabalhador, que ele na verdade é mais um vilão no conto do carbono. Isso, num universo que carece de consciências um tanto mais básicas, como: olhe, não mate o seu irmão.
Semana passada saiu na mídia que governo planeja controlar o desmatamento da Amazônia até 2017. Devem ter lido o relatório.
Que em resumo também sugere: cooperação tecnológica, ação para se reduzir o desmatamento, adaptação.
A última sugestão faz um sentido enorme. A do meio me parece uma obrigação. E a primeira...voltamos ao campo dos milagres.
Mas seria tolice supor que um documento dessa grandeza não gerasse polêmica em diversos meios, e pessoas igualmente capacitadas começassem a rebatê-lo, chamando-o de mito, entre outros desígnios. Que os cálculos do Sr. Stern são morais e imprecisos, que o CO2 faz parte da natureza do planeta, que as gerações vindouras serão mais ricas, etc.
Muita gente também chamou Thomas Edison de maluco, que ele jamais iria conseguir, que a humanidade não fora feita para conviver com a eletricidade.
Em suma, podemos ou não já estarmos fadados a um desfecho de pouca glória. Mas não será por falta de polêmica.