ÍNDIOS GAYS SÃO ALVO DE PRECONCEITOS NO AM: UM PROBLEMA MULTICULTURAL

Quando vários indivíduos vivem em comunidade, falam a mesma língua, têm os mesmos costumes, hábitos e tradições, e possuem uma história em comum, constituem-se “povos”. Cada grupamento de povos dispõe-se de suas próprias culturas, as quais são transmitidas para os seus respectivos descendentes. No entanto, há a possibilidade de certos elementos de uma determinada cultura ser inserida e/ou mesclada em outra. Neste caso, se não for bem aceitos por todo o grupo, ou pelo menos, pela maior parte dele, gera-se um grande fator complicador, de difícil solução, no meio social do grupo. Nessa perspectiva, faço uma análise do texto “Índios gays são alvo de preconceito no AM.” (BRASIL, 2008). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u426640.shtml.

Em algumas tribos indígenas da região Amazônica, estão ocorrendo alguns problemas de difíceis soluções, é que: (...) os índios ticuna, a etnia mais populosa da Amazônia brasileira, um grupo de jovens não quer mais pintar o pescoço com jenipapo para ter a voz grossa, como a tradição manda fazer na adolescência, nem aceita as regras do casamento tradicional, em que os casais são definidos na infância.” (BRASIL, 2008).

Também, devido à opção sexual feita por esses mesmos jovens, e não acatada pelos demais, constituiu-se motivos de rechaças no meio daquele grupo indígena. Não obstante, “esse pequeno grupo assumiu a homossexualidade e diz sofrer preconceito dentro da aldeia, onde os gays são agredidos e chamados de nomes pejorativos (...).” (BRASIL, 2008).

A postura hostil, depreciativa e discriminatória, tomada por certos indivíduos daquela tribo indígena contra seus próprios membros, revela a reação a uma possível ameaça à identidade sócio-cultural daquela comunidade tribal. É uma manifestação contra elementos culturais estranhos àquela categoria social. Pois, culturalmente, na sociedade indígena os papeis dos homens e das mulheres são muito bem definidos. Os índios utilizam o critério da distinção entre os sexos para dividir os trabalhos e as tarefas do dia-a-dia. Portanto, qualquer outra realidade que venha ameaçar esse paradigma cultural, conseqüentemente, expressará atitudes negativas e depreciativas por parte do grupo.

Além do mais, tudo leva a crer que o “homossexualismo”, é praticamente inexistente nas relações sociais indígenas. Assim, a falta de convívio do índio com a tal prática, conseqüentemente, causa um estranhamento entre eles. Contrariamente ao que muitos indigenistas costumam alegar que a questão homossexual nunca foi tabu, nem absurdo no mundo indígena, na prática, essas alegações não correspondem aos fatos. Pois, ao que tudo indica, é que a prática homossexual, é sim, um elemento cultural fora da realidade indígena, principalmente, entre os ticunas. E Isso pode ser constatado em alguns trechos do texto, como esse em que: O cientista social e professor bilíngüe (português e ticuna) de história Raimundo Leopardo Ferreira, afirma que entre os ticunas, não havia registros anteriores da existência de homossexualismo, como se vê hoje. "(...) Isso (a homossexualidade) é uma coisa que meus avós falavam que não existia.” (BRASIL, 2008).

No entanto, apesar da casualidade do homossexualismo, por muito tempo, ter-se caracterizado como uma raridade cultuada pelos índios, ultimamente não se pode negar que está havendo uma forte tendência de amalgamação de certos elementos da cultura indígena com a não-indígena. A situação acentua-se na medida em que o convívio, índio-branco, passa a ser mais dinâmico.

Nesse sentido, muitas autoridades e profissionais de áreas específicas no assunto já se mostram preocupados com tal fenômeno. O indígena de etnia ticuna e administrador substituto da Funai, Darcy Bibiano, alerta que: “Isso é novo para a gente. Não víamos indígenas assim, agora rapidinho cresceu em todas as comunidades. São meninos de 10, 15 anos.” (BRASIL, 2008). Já o cientista social e professor de história Raimundo Leopardo Ferreira “(...) teme que, devido ao preconceito, aumentem os problemas sociais entre os jovens, como o uso de álcool e cocaína.” (BRASIL, 2008).

Portanto, pode-se dizer que fenômenos como esses caracterizam-se pela assimilação de certos elementos culturais, por alguns indivíduos de outra cultura, devido ao convívio dinâmico e rotineiro, destes, com culturas diferentes das suas. Pois como se sabe, nos últimos tempos, muitas tribos indígenas estão localizadas junto ao perímetro urbano, possibilitando uma mesclagem de culturas. Neste caso, é inevitável que indivíduos de uma cultura assimilem determinados elementos de uma outra, mesmo sem adesão majoritária do grupo . Nesse caso, sempre que isso acontecer, haverá sempre resistências manifestadas por “discriminações”, repulsas, antipatias e aversões. Com efeito, é o que está acontecendo entre determinadas tribos da região Amazônica com relação à discriminação contra os índios homossexuais.

Por José Dimas da Paixão Silva

BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Kátia. Índios gays são alvo de preconceito no AM. Agência Folha, Tabatinga, jul. 2008. Disponível em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u426640.shtml. Acesso em 18 agosto 2008.