SALVEMOS NOSSO PLANETINHA!

Estamos todos assustados com os relatórios das Nações Unidas alertando que, mui em breve, poderemos ser extirpados deste planeta. Deixem que eu apresente minhas considerações sobre alguns episódios do presente, para que não percamos a linha de raciocínio e o amor à vida.

O que escondem os relatórios das Nações Unidas sobre o meio ambiente? Nada. São bem claros em suas afirmações e predições. Boa parte da população mundial estava ciente de que as agressões à Terra trariam efeitos nefastos, mas continuou a poluir e a repetir as ações danosas que remontam a milhares de anos. É preciso que haja mudança de comportamento – e, mais do que isso, que se reexaminem as práticas adotadas desde o paleolítico.

Se o século XX serviu para visualizarmos o problema e propormos soluções, o século XXI deverá ser aquele da mudança consciente, pois não há tempo para protelações. Algo que me incomoda é saber que, enquanto milhões de pessoas passam fome, sede, frio ou calor intenso (e a tendência é tudo piorar cada vez mais), uns imbecis perdem seu tempo com os paredões do Big Brother.

Preocupados com a catástrofe, alguns esperam uma epifania; outros cruzam os braços, descrentes. Poucos, porém, atendem ao chamado da messe.

Se, por um lado, as tragédias anunciadas assustam, os paredões acabam por ensejar um torpor. Até lá “acharão” uma solução, pensam os telespectadores, enquanto vão levando sua vidinha vegetativa de sempre.

Eu não estou particularmente aflito com a catástrofe, embora me disponha a fazer tudo ao meu alcance para que ela não chegue. Quando soube que um ciclone aportaria na minha Santa Catarina, olhei para o céu, fechei as janelas da casa e disse: aí vem um furacão, espero que possa salvar algumas fotografias.

Para felicidade nossa, o Catarina parou na barreira de montes; mas, para infelicidade do pessoal do sul do Estado, o furacão matou 11 pessoas e destruiu edificações, além de deixar muitos vestígios de dor na memória daquela gente.

O mar, na noite em questão, tremia de medo do vento, como um cavalo assustado quando vê pela primeira vez a rédea. O marulhar parecia mais o guizo de uma cascavel pronta para o bote. Nem sequer dava tempo para a onda abeirar da praia, logo ela voltava, como uma criança que vê pela primeira vez o mar.

O Catarina foi real e ficou para história como o único furacão latino-americano abaixo do Trópico de Capricórnio. As pessoas, refeitas do susto, começaram a difícil tarefa de reconstrução de suas casas.

Na tarde em que a rádio noticiou os ventos fortes vindos do extremo sul, eu estava no sítio, a uns 800 metros de casa. Havia plantado árvores, como de costume. Tinha observado a calmaria do mar de uma colina mui bela.

Penso que, se o Catarina houvesse passado por aqui, eu teria depois participado dos mutirões para reconstrução de casas e recomeçaria minha árdua tarefa de replantar árvores, além de escrever. Acredito que, mesmo na iminência de um ataque atômico, estaria eu lá plantando árvores, trabalhando a terra, conversando com a natureza.

Nós, os humanos, talvez tenhamos perdido esse dom de nos comunicarmos com a natureza, de nos aproximarmos das coisas mais simples. Esquecemo-nos de amar a terra que nos gerou com carinho.

Não basta dizermos “eu já fiz…”, pois nada e nunca está completo. Em minha folha corrida de humano incompleto, eu sempre manifestei amor pelas coisas da natureza e o fiz sem cobrar nada em troca. Ocorre que todas minhas ações pertencem ao momento passado e existe uma linha tênue entre o passado e o futuro, que é o presente que nos damos a cada instante.

Não temerei em nada os profetas que auguram a destruição do planeta, mas ajudarei a fazer um mundo melhor, e sempre. Porque o risco é iminente a todo instante. No momento exato em que estou escrevendo esse texto o mar sobe mais um pouco, o clima fica mais quente e agreste, as pessoas, os animais e as árvores clamam por espaço.

Minha responsabilidade, daqui em diante, é para com todos. Assim, despojo-me de sentimentos hostis em relação àqueles que pretendem erguer suas clavas sobre minha cabeça. Perdoarei os estúpidos porque é deles também o reino dos céus. Não quero lutar em tempos de guerra.

Mas, é necessária guerra para se atingir paz. É preciso, mesmo, um sentimento de desapego e desprendimento para que atinjamos a luz, sem esforço e estupidez.

Existe pouco tempo, é bem verdade. Eu já venho, há muito, cantando as pedras dos montes, mas somente agora os gurus da mídia acordaram. Acordamos todos os dias e acendemos a luz do quarto, do candelabro, da sala, da cozinha ou o aspirador de pó. E não há mais ar limpo. A água que nos fornecem é suja. As notícias, truncadas. A liberdade, restrita.

Quedaram os discursos de rompante porque não se sustentam as guerras e os conflitos dentro das próprias guerras. Os objetivos de uma guerra são sempre os conflitos, e sempre se perdem em si. Atire a primeira pedra quem quiser, mas não descerei do pedestal. Já denunciei um crime contra a Terra, que agora se faz caduco perante os acordos dos homens. Mas, continuarei a gritar, a passar berrando essa vida malvada.

Minha responsabilidade é para com todos e não me deixa recuar. Somos muitas almas nesta Terra. Muitos a poluir. Muitos a repetir sem saber partir. Sem saber partilhar. Não bastará dizer que eu já fiz no passado, e que minha parte esta feita. Porque existe muito por fazer.

Preocupa-me saber que empresas transnacionais fazem do relatório uma oportunidade para lucrar sobre aqueles que não podem discutir o tema ou estão alienados da questão. Nesse contexto a Amazônia é a bola da vez, mas não pensem que já descartaram o deserto do Saara. Um mercado de biotecnologia, biopirataria e ingratidão se abre, com o pretexto de salvar a floresta-mãe.

Os grandes motores da economia mundial – as indústrias do automóvel, de armas e de medicamentos –, amparados pela tecnologia, nunca deixarão de lucrar. Haverá sempre uma ciência do medo e da guerra, uma violência embutida na propaganda pacifista das Nações Unidas, mesmo porque esse restrito grupo de gentlemen é dirigido por grandes corporações que não estão nem um pouco interessadas na saúde do planeta.

Não sou contra os textos das Nações Unidas, respeito muitos líderes daquele círculo que pedem para seus bons assessores os escreverem, mas acredito que a ONU é mera figura decorativa. Há pouco tempo para mudanças.

A mudança é porta que se abre de dentro para fora. Hoje é o tempo da mudança. Preocupa-me perceber que os paredões envolvem muitas pessoas, mas somos o mesmo gado humano desde o paleolítico. Precisamos reexaminar os passos e saber para onde toca o berrante, do contrário estaremos extintos.

(*) Artigo que inaugura a participação na coluna do Jornal "O Rebate".

William Wollinger Brenuvida
Enviado por William Wollinger Brenuvida em 30/12/2008
Código do texto: T1359598