Vale tudo!

VALE TUDO!

Como já disse em outro artigo, é lamentável ver como tem gente que não vê nada do mundo que não tenha agregado um valor financeiro, um lucro, mesmo que isto fira a moral, a ética, a cidadania ou a ecologia. Pois há tempos eu vi um anúncio de um “Curso de transmigração budista tibetano” num jornal da Capital. Como sou um estudioso do assunto, fui obter informações. Quando me atenderam tive um “pasmo”.

O encontro budista ia ser em uma casa de religiosas, perto de Porto Alegre. Mais tarde liguei para a casa citada, onde a voz trêmula de uma religiosa justificou que haviam alugado o local para o tal curso, pois o ambiente está desativado há alguns anos, e é alugado para eventos, pois, segundo a interlocutora, as despesas de manutenção são enormes. Ora, quando a gente batalha para evangelizar e colocar abaixo os critérios universalistas e relativistas daquelas crenças, a locação de um instituto religioso para difundir aquelas doutrinas, é algo que chega a chocar.

Eu sei que não devia, mas na hora quando quis segurar as palavras elas já me saíam pela boca: “Então, irmã, já que o negócio é ganhar dinheiro, e a casa tem 80 quartos e 20 salas, por que não alugar para encontros furtivos de casais? Acho que daria mais dinheiro...”. Vale tudo!

Na mesma trilha aética surge uma gráfica/editora católica de Porto Alegre. Eu tive coluna por muitos anos na revista deles. Depois, por motivos de censura e tentativas de manipular minha opinião, deixei de escrever. Lembro de dois fatos: no primeiro, fiz uma matéria sobre a invasão esotérica nas novelas de tevê. O artigo foi rejeitado. De outra feita, citei – apenas citei – uma religiosa, teóloga católica, meio em choque com a Igreja. Igualmente cortaram, afirmando que podia “pegar mal” com os leitores, e criar problemas com os superiores.

Agora, a questão de poucos dias, soube que a citada gráfica editou, entre tantos, um livro da teóloga rebelde, e um, de outra autora, de “Bruxaria contemporânea”. É matéria censurada, mas entrando dinheiro tudo bem. Vale tudo!

Volto ao assunto que classifiquei como “o escândalo dos eucaliptos e da celulose”. Tem gente por aí, capitalistas neoliberais, discípulos do brasileiro Roberto Campos († 2001) e do americano Milton Friedman († 2006), os gurus da suja doutrina socioeconômica do vale tudo.

De olho no lucro que o plantio das “exóticas” pode proporcionar ao bolso de uma meia-dúzia, eles fecham o olho para a degradação de mananciais, para a deterioração da riqueza ambiental das matas nativas e para a destruição da mata atlântica. Para os técnicos, eucalipto é lavoura e não “reflorestamento”. Desmatam, plantam soja e “reflorestam” com eucaliptos.

Que farsa! Para eles é tudo igual. Se entrar dinheiro está ótimo, seja a que custo for. Os tais também são a favor da redução de “faixas de fronteira”. Sabem por quê? Para que as multinacionais do lado de lá emendem seus eucalitais com os do lado de cá. Esse “vale tudo” é uma lamentável falta de ética.

Doutor em Teologia Moral