A OUTRA
A OUTRA
Há um ditado muito popular que diz, mais ou menos, o seguinte: ”a Outra é a que comemora o Natal dia 26 e o Ano Novo dia 2 de janeiro”. E, hoje me vejo nessa situação, aliás, me sinto hipócrita como muitas que devem estar passando pela mesma história que eu...
Agora pergunto e eu mesmo respondo: estou nessa porque quis, porque aceitei, concordei. Poderia muito bem estar com um homem disponível (solteiro) que estivesse a meu lado nas datas importantes da vida de ambos e não comemorarmos ou chorarmos depois. Até o sofrimento e a alegria a Outra tem que adiar. É masoquismo ou é a famosa “síndrome de vítima”? Ou ambos?
Sou livre, divorciada, independente em todos os sentidos e como o coração é inexplicável, vou logo amar alguém comprometido até o último fio de cabelo com filhos, esposa cobrando e vigiando o tempo todo, quando sequer é capaz de dar-lhe um remédio quando está com febre ou levá-lo ao médico quando precisa. Aí é a Outra quem cuida, leva ao médico, compra presente para os filhos dele, ajuda-o a pagar as contas que a senhora esposa exige, ouve seus desabafos, problemas, vai atrás de soluções e, ao final quem é a melhor mãe do mundo, a mulher que não se pode falar um “a” é a marida (meus filhos a chamam assim) que, sequer sabe que muitas das coisas que têm fui eu quem proporcionou porque não tenho a intenção de me casar novamente ou ter um homem dentro de casa. Já me casei, “juntei” o suficiente para saber que não consigo dividir espaço dentro da minha casa com um outro homem. Porém, o mínimo que a Outra como eu pede é consideração o que não acontece. Tudo que nós “as outras” fazemos passa a ser obrigação e a esposa que sequer toma conhecimento do marido, essa sim tem valor, como da última vez em que ele estava delirando em febre, administrei medicamentos e, quando a febre começou a baixar, a esposa ligou e sem pensar no mal que faria o vento e a friagem da rua não pestanejou, arrumou-se e saiu, não sem antes dizer aquela velha frase tão conhecida da Outra: “...faço isso por meus filhos ...” Você já ouviu isso? Ou pior, quando disse que não entendia o medo que sentia pela esposa, ele fez um gesto com o dedo na boca para que eu me calasse. Assim o fiz. Pediu para acompanhá-lo até a porta. Não fui e, virou-se para onde eu estava e sem mais nem menos, começou a gritar e dizer coisas horríveis sobre um dos meus filhos, inclusive com palavrões e tudo. Ele pode ofender meu filho e, eu, até pela educação que tive e pela opção que escolhi, jamais ofendi ou falei mal de ninguém de sua família, nem da esposa e, quanto aos filhos nem se fala, sou eu quem compra as roupas, brinquedos e tudo que eles necessitam. O que recebo em troca? Nada, sequer um obrigado.
E, no Natal leio um simples torpedo no meu celular com um frio “feliz natal, beijos” Está bom pra você ou precisamos nos desvalorizar mais para enxergarmos que nada somos para eles, somente um ponto de “descarga” quando querem ficar longe de suas casas? E, ainda acreditamos ou queremos acreditar que somos amadas por eles, quando na verdade não passamos de válvulas de escape para o cara escapar e ganhar atenção, amor, companheirismo, cumplicidade, masssssssssss(é proposital), nas datas festivas, esquecem das OUTRAS e tudo o que nos dedicamos (eles, com certeza, nem se lembram). Se fôssemos uma mosquinha, o veríamos com sua família, alegre, feliz. O pai e marido mais perfeito desse mundo.
É a pura realidade, infelizmente!!!
Sei que não é fácil, mas, precisamos criar forças para ter a coragem de largar quem só nos desvaloriza, só lembra de nós, AS OUTRAS, de segunda a sexta (isso se não tiver feriado no meio) e, por mais que venhamos a sofrer, pelo menos que a dor seja dignificada por uma causa nobre, ou seja, se livrando de quem não nos merece e deixando o cara com sua esposa se matarem, brigarem, ofenderem-se, mutuamente, mas, cairmos fora dessa cilada que só nos trás a baixa auto-estima e a dor de termos alguém e, ao mesmo tempo estarmos sozinha a maior parte do tempo...
Eu vou tentar sair dessa, devagarzinho, é claro! Começando a olhar a minha volta, descobrir novos horizontes mesmo que chorando de saudades, porém terei minha honradez de mulher batalhadora e guerreira de volta, custe o que custar...
E você, amiga, vai tentar, também???
Vamos sair da “toca” porque não temos necessidade de nos esconder. Somos livres e independentes, não bandidas ou qualquer coisa do gênero. Vamos dar as mãos e pedir à Mãe Maria que nos tire esse homem de nossos corações para que ele siga, livremente (?) seu caminho e nós, as Outras sigamos o nosso sem amarras ou fugindo de esposas (só no papel, porque, geralmente, também existe o Outro).
O que é isso? Onde está nossa dignidade, nosso amor-próprio? Elas não são melhores em nada do que nós, pelo contrário, são enganadas e vivem casamentos de mentira, porque se o seu marido procura outra, certamente o convívio entre ambos não está bem...
Erramos, o que é normal no ser humano, ao escolher o homem errado e viver uma vida dupla da qual não temos a mínima necessidade. Somos jovens em nossa maturidade dos quarenta anos e temos muito pela frente, inclusive pessoas que querem nos fazer felizes e não permitimos ou sequer sabemos quem são...
Que Deus nos ajude a encontrar força de vontade e perseverança na idéia de pararmos de ser a Outra porque merecemos ser felizes, amadas e, principalmente valorizadas.
Comece a pensar sobre isso! Estarei torcendo por você!!!
“Os olhos que nunca choraram raramente aprendem a ver.” Meimei
São Paulo, 28 de dezembro de 2008.
Roseane Pinheiro de Castro, a Outra.
Presidente da ONG: www.massacredasminorias.com