Os mitos da educação moderna

No livro o professor refém Tânia Zagury afirma categoricamente que os professores não trabalham, eles batalham. Batalhar vai muito mais além do simples ato de realizar as tarefas para as quais o profissional foi designado. No mundo inteiro os educadores estão preocupados com a indisciplina generalizada dos seus alunos que certamente influencia no rendimento dos mesmos dentro da sala de aula. Tenho a impressão de que quanto mais os professores se esforçam para atingir melhores resultados no processo ensino-aprendizagem mais dificuldades vão encontrando e surgindo, de acordo com Zagury, os mitos da escola moderna.

Tânia Zagury é filósofa, pesquisadora, mestre em educação e autora de 13 livros sobre assuntos relevantes dentro da área educacional, inclusive teve em 2001 o livro de educação mais vendido no Brasil intitulado “Limites sem trauma”. As pesquisas de campo realizadas em todos os estados brasileiros lhe respaldam a fazer declarações pouco convencionais, mas certamente muito mais próximas da realidade daqueles que labutam na sala de aula.

É muito comum ouvirmos de professores e pedagogos declarações tais como: “O afeto e o carinho dos professores são imprescindíveis para que o aluno aprenda” ou “com um bom professor os alunos aprendem sem muitos esforços”, ou “a participação da comunidade é essencial à qualidade do ensino” e ainda “se um percentual expressivo de alunos apresenta maus resultado, a culpa é do professor”. Todas essas afirmações fora de um contexto acabam sendo muito perigosas, pois isentam da responsabilidade aqueles que deveriam ser os principais interessados pela escola: os alunos.

Sobre a 1ª afirmação é importante ressaltar que afeto e carinho são altamente positivos, mas não são determinantes. Existem professores com grande habilidade afetiva sem domínio de conteúdo e também existem excelentes educadores que não priorizam uma relação carinhosa com seus alunos. Quanto a segunda afirmativa, é interessante afirmar que uma aula bem planejada e motivadora facilita o processo ensino-aprendizagem, porém é uma ilusão acreditar que o aluno não necessitará se esforçar para aprender.

A terceira declaração é um dos grandes mitos apregoados por professores e pedagogos nos dias atuais. Ninguém desconhece a importância da participação da família e da comunidade escolar para a melhoria das condições das escolas e da qualidade do ensino, entretanto, a simples presença dos responsáveis pelos alunos nos educandários não provoca o sucesso esperado. As ingerências de representantes de outras esferas como poder público, conselho tutelar, polícia, judiciário e políticos acabam prejudicando o processo e tirando dos professores a autonomia que os mesmos devem possuir para desempenhar bem as suas funções.

Sobre a quarta e última frase, a autora afirma que as generalizações são sempre muito perigosas. Sabemos que as turmas de alunos cujos professores são excelentes dificilmente apresentam resultados muito abaixo dos índices aceitáveis, mas cada caso deve ser analisado individualmente e com critério. Há escolas que formam turmas somente com os alunos que tem problemas crônicos, daí não seria justo responsabilizar somente o professor pelos resultados obtidos.

Para Zagury, é imprescindível que a educação seja compreendida como uma ciência e que os trabalhos permaneçam acima e além dos interesses pessoais, políticos ou partidários. Não conheço lugar neste país onde as ideologias partidárias não influenciam diretamente nas políticas educacionais. Nesse contexto, a nomeação dos diretores, a qualidade da merenda, do transporte escolar e a continuidade das experiências e projetos pedagógicos iniciados em gestões anteriores, por exemplo, dependem mais dos interesses políticos partidários do que da real necessidade dos nossos educandos.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras.

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 26/12/2008
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