Os bons governantes foram reconhecidos

As eleições municipais de 2008 comprovaram que o povo brasileiro está mais politizado, infelizmente tal conclusão está longe de ser regra, principalmente nas cidades do interior do nordeste onde tive o prazer de passar meus últimos dias de descanso. O fato é que neste ano aumentou substancialmente o volume de prefeitos que conquistaram nas urnas o direito de permanecer no poder. A taxa de reeleição atingiu 70% nos pleitos municipais, ou seja, a maioria absoluta dos munícipes foi cautelosa e preferiu manter os governantes que já administravam seus municípios nos últimos quatro anos.

Diante destas informações me vem à tona o seguinte questionamento: os prefeitos foram reeleitos porque realizaram boas administrações ou usaram os recursos públicos para angariar os votos que necessitavam para apoderar-se do segundo mandato? Em geral, arrisco-me a afirmar que foram as duas coisas com raras exceções. As campanhas dos Tribunais Eleitorais contra a compra de voto beiram a utopia, pois todos sabem que dificilmente alguém consegue ganhar eleição sem os conchavos políticos, as negociatas entre lideranças e a negociação explícita do voto.

Em Laranjal do Jari, no sul do Amapá, Euricélia Cardoso quebrou o tabu sendo a primeira prefeita reeleita na história do município. Já os vereadores não tiveram a mesma sorte, principalmente aqueles que fizeram oposição ferrenha contra a gestora municipal e até contra os interesses dos funcionários públicos e da sociedade. Impedir a aprovação de leis que beneficiaria o funcionalismo público apenas para afrontar um dos candidatos adversários às vésperas das eleições é uma atitude ignóbil, rasteira e desprezível, felizmente, a população laranjalense soube fazer o correto julgamento.

Segundo Paulo Ziulkoski, presidente da CNM (Confederação Nacional dos Municípios), a elevação do percentual de prefeitos reeleitos coincide com um período em que os cofres municipais estão mais gordos. Em 2008, o valor total dos orçamentos dos municípios brasileiros deverá crescer 13% em relação ao ano passado. A soma dos orçamentos municipais atingiu R$ 190 bilhões e em 2008 deve chegar a R$ 215 bilhões. Os cofres das gestões incharam principalmente em virtude do aumento da arrecadação do ISS (Imposto sobre Serviços) nos últimos anos, afirmou Ziulkoski.

A pesquisa da CNM também fez o levantamento de outros pontos interessantes sobre o perfil dos candidatos mais votados neste ano. De acordo com os dados, as escolhas dos eleitores refletem novas tendências que apontam para a eleição de candidatos mais jovens, para o aumento progressivo do número de mulheres candidatas e eleitas e para o aumento das reeleições no país. O estudo foi publicado pela revista Veja e também apontou o crescimento de partidos médios como o PDT, PV, PC do B, PMN e PSB e para a redução progressiva dos grandes partidos como o PMDB, PSDB, PP e DEM em números absolutos.

Por enquanto, ficarei no aguardo de estudos que comprovem a tendência do povo brasileiro a extinguir o hábito de negociar o voto em troca de benefícios pessoais e em detrimento dos interesses coletivos. Quando isso ocorrer talvez o nosso país nem seja mais chamado de Brasil. Não custa nada ser otimista!

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras.

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 25/12/2008
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