Laranjal nas trevas: escuridão e ignorância!
Pela enésima vez os municípios de Laranjal e Vitória do Jari, no sul do Amapá, estão sofrendo com os racionamentos elétricos da Companhia de Eletricidade do Amapá/CEA. De tanto receber reclamações, o Judiciário e o Ministério Público laranjalense chegou ao extremo de pedir a prisão do gerente local e do presidente da empresa, entretanto, o imbróglio parece está longe de ser solucionado.
Em meio à escuridão ainda temos que se deparar com outro tipo de trevas: a ignorância e a falta de escrúpulo de alguns que ao se intitularem “comunicadores” tentam tirar proveito político da situação atribuindo o caos ao gerente da CEA, aos vereadores locais e até a prefeita do município. É interessante lembrar aos “baluartes” da comunicação que o nosso município possui dois deputados estaduais que certamente tem uma responsabilidade e um peso muito maior nas decisões da estatal.
Em sua defesa, o gerente da CEA/LJ Liromar Mendes, considerou que a prisão foi um ato arbitrário do Ministério Público e do Poder Judiciário. Liromar alega que nunca deixou de prestar as informações às autoridades e aos clientes, como se isso fosse o suficiente para isentar-se da responsabilidade perante a sociedade, visto que os constantes racionamentos têm causado enormes prejuízos à população tais como aumento da insegurança pública, roubos, impossibilidade de assistir aulas, desconforto no lar, falta de acesso aos equipamentos elétricos e prejuízos financeiros diversos.
Na tentativa de se livrar da culpa perante os consumidores chateados, a CEA vez enquanto joga a responsabilidade para a empresa responsável pela geração de energia. Tal versão não se sustenta porque do outro lado do Rio Jari, em Monte Dourado(PA), a So Energy - a mesma que gera energia para Laranjal e Vitória do Jari - presta serviços com excelência. Questionado sobre esse paradoxo, o gerente da CEA preferiu esquivar-se.
O problema da CEA é evidente: além dos problemas técnicos, a estatal convive com problemas administrativos históricos. A inadimplência é altíssima. A empresa gasta em Laranjal quase 3 milhões, mas arrecada menos de 400 mil reais/mês. Somente de óleo diesel são 1,2 milhões de litros subsidiados pela União. Além de tudo, ainda há um programa assistencialista do governo denominado “Luz para Viver Melhor” que isenta mais de 4 mil famílias de qualquer tarifa desde que consumam menos de 140 KW/mês. Outras 4.800 não possuem medidores e pagam apenas uma tarifa irrisória de R$ 2,80.
A situação da CEA é insustentável, afinal, não há como manter uma empresa, salvo com dinheiro público, arrecadando apenas 10% do que gasta. Se o problema é pouca arrecadação e muitos gastos, porque o GEA não acaba com a isenção das faturas que custeia em nome do paternalismo e porque não instala medidores nas quase 5 mil residências que pagam apenas uma taxa simbólica? E os gatos? Por que não fiscaliza os desvios de energia?
O fato é que mesmo nas piores desgraças há como extrair algo de positivo. Em Laranjal e Vitória do Jari as pessoas têm vivido noites cada vez mais românticas, afinal, já estão virando tradição os encontros sob os luares e os jantares à luz de velas!
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras.