Apresentar o TCC para meia dúzia de colegas é indício de despreparo

Fiquei sabendo que acadêmicos de um curso de uma universidade instalada em Laranjal do Jari imploraram aos responsáveis pela instituição para que limitasse o número de pessoas que irão assistir a apresentação do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC). Pelas informações que obtive a preocupação em limitar o número de espectadores é generalizada, com raras exceções. Espero que os tais formandos tenham uma boa justificativa para explicar a providência que tomaram visando impedir a comunidade local de ter acesso aos estudos realizados pelos mesmos. Na melhor das hipóteses, a decisão é uma eloqüente contradição, pois é um dever da universidade abrir suas portas para propagar o conhecimento produzido.

Em princípio, fica a impressão de que os anos de estudos ainda não foram suficientes para formar cidadãos críticos, desinibidos e, sobretudo capazes de colocar em prática uma das principais missões de toda e qualquer universidade que é produzir e transmitir conhecimentos objetivando a transformação da realidade da comunidade onde a mesma encontra-se inserida.

De acordo com Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política na Unesp, a universidade existe para produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças intelectuais. “A universidade é um patrimônio da humanidade. Atacada ou não, em crise ou não, ela existe, e é agora, nesse momento concreto por que passam as sociedades, que precisa mostrar seu valor”, defende Nogueira.

Que líderes intelectuais são esses que perdem uma grande oportunidade de mostrar para a sociedade o que conseguiram produzir durante centenas de horas de leitura, pesquisas, rascunhos e exaustão? Entendo que apresentar um TCC apenas para os colegas de turma é forte indício de que há algo errado e nos dá a impressão de que tem a ver com algum tipo de despreparo.

Parafraseando o professor Nogueira, a universidade precisa dialogar de modo inteligente com a sociedade. Deve “ir onde o povo está”, isto é, buscar a sociedade, pôr-se em contato ativo e regular com ela, torná-la protagonista da própria dinâmica universitária. Romper com toda e qualquer tentação paternalista. Continua intocável a missão a que se arvorou a universidade, qual seja, a de colaborar dedicadamente para que a sociedade se explique a si mesma, elabore e desenvolva sua autoconsciência, conheça-se melhor e construa uma imagem de si.

Infelizmente, as universidades, que tanto abusam do jargão “formar cidadãos”, em geral, não têm cumprido com a sua principal missão e, na região do Jari parece ter se esquivado das discussões e dos debates em prol de uma sociedade menos injusta, segregada e inconsciente dos seus direitos e deveres. O fato é que enquanto tivermos acadêmicos colocando muros entre as suas instituições e a comunidade, será impossível avaliar a quem pertence à culpa pela própria má formação técnica e intelectual.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras. E-mail: f.lopes.vj@bol.com.br

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 23/12/2008
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