O povo não precisa de governos

A minha luta contra os crimes de trânsito em Laranjal do Jari parece ainda não ter surtido efeito algum. O fato é que os pobres continuam padecendo sob a imprudência dos condutores e as autoridades continuam parcimoniosas com os que detêm maior poder aquisitivo e influência na sociedade. Aqueles que deviam punir os infratores continuam fazendo “vista grossa” diante dos fatos e preocupam-se muito mais com a exação das multas do que com a vida das pessoas, principalmente se estas são oriundas da base da pirâmide social.

Nesta última semana perdi mais um amigo e ex-aluno. O jovem Francimagno caiu de cima de um veículo aberto que, sem proteção alguma, fazia o transporte da comitiva de um vereador em Laranjal do Jari. Dias antes eu mesmo havia chamado atenção para aquela situação, pois qualquer pessoa com sanidade mental percebe os riscos eloqüentes nesse tipo de transporte. Infelizmente são comuns nos períodos eleitorais as atenções das autoridades serem voltadas para as disputas entre os líderes. As imprudências no trânsito, por exemplo, parecem fazer parte do processo.

Desta vez foi Francimagno, da próxima vez poderá ser eu ou você, ou quem sabe, poderemos estar juntos no mesmo carro, barco ou avião. Como tantas outras pessoas, aquele jovem padeceu servindo de escada para a ascensão social de nossos políticos. No comício subseqüente a tragédia, o vereador homenageou o falecido com a execução da sua música de campanha. A atitude foi indecorosa, pois de forma consciente ou não, o nobre legislador acabou se beneficiando mais uma vez com a situação. Tal comportamento não nos causa estranheza, pois é assim que se comporta imensa parte dos nossos políticos.

O fato é que a maioria dos governantes não se preocupa com os nossos problemas e é corrupta porque os seus eleitores são altamente corruptíveis. É por isso que político sem dinheiro não ganha eleição e sequer passa pelas convenções dos seus partidos, daí temos sempre os mesmos candidatos ou seus parentes nos pleitos eleitorais. Seguindo a mesma trilha, os eleitores mantêm os vícios de se contentarem com as migalhas ou com as promessas ofertadas às vésperas das eleições. A eleição é mágica, pois tudo o que não é possível se fazer durante quatros anos torna-se fácil quando se disputa os votos. Somente neste período o miserável vale tanto quanto o afortunado, afinal, tanto um quanto o outro só pode depositar um voto nas urnas o qual tem exatamente o mesmo valor.

Todos os políticos são demagogos e cínicos, felizmente, uns são menos que outros. A maioria deles foge do povo durante o mandato porque pensa que os eleitores que deles se aproximam são todos pedintes. A única coisa que lhes cobro é uma gestão democrática, transparência na administração dos recursos e o cumprimento das promessas em prol da coletividade, talvez por isso tenham tanta dificuldade em me pedirem o voto, pois a minha consciência não faz parte das negociações.

Quando afirmo que os políticos são cínicos refiro-me ao conceito que eles têm do povo. Eles pensam que os eleitores precisam deles, mas a realidade é inversa. Tenho receio de ser taxado como anarquista, mas não poderia deixar de afirmar que não sentimos falta do pagamento de impostos exorbitantes, das promessas não cumpridas, dos superfaturamentos em obras públicas, dos apertos de mãos de quatro em quatro anos, dos discursos inflamados e hipócritas. Nós não precisamos de governos que não priorizam os interesses comuns.

*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras.

IVAN LOPES
Enviado por IVAN LOPES em 22/12/2008
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