Durante a Expovale Jari até as máquinas farão pacto de salubridade
Às vésperas da primeira edição da Feira Agro-extrativista dos municípios de Laranjal, Vitória do Jari e Almeirim(PA), todos os holofotes se voltaram para o grandioso evento. Há gente vendendo a idéia de que a festividade será um divisor histórico da região, ou seja, a história do Vale do Jari será contada em A.E (antes da Expovale) e D.E (Depois da Expovale). Gostaria muito de me contagiar pela crise eufórica de algumas lideranças, que sem nunca ter passado pelo infortúnio dos anfitriões laranjalenses, se deleitam sob o esplendor da mídia para propagar um desenvolvimento utópico.
Talvez os falsos guardiões do nosso progresso acusem-me de ser um pessimista inveterado, entretanto, tenho uma consciência alicerçada na desventura do cotidiano, nas promessas nunca cumpridas e nas contradições destes que aparecem no Vale do Jari tal como relâmpagos para anunciar as mudanças de clima.
É interessante que antes da Expovale Jari os geradores que fornecem energia para o município laranjalense, pelos simples fato de serem máquinas, sofriam de uma enorme vulnerabilidade a quebras, entretanto, já prometeram que durante a Expovale não haverá problemas de racionamentos de energia. Pelo visto, durante o evento até as máquinas farão um voto de salubridade. A essa altura, estou convicto que o Ministério Público e o Poder Judiciário agiram com grande retidão quando exigiram solução para o racionamento elétrico dos responsáveis pela Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA).
Para alguns, a Expovale alavancará em definitivo o progresso da nossa região praticamente como num milagre. O desenvolvimento do Vale do Jari é um anseio compactuado com todos os moradores, inclusive comigo. O potencial da região é notório, no entanto, eis uma indagação: como um município consegue se erguer economicamente sem energia, sem agricultura, vias pavimentadas, abastecimento de água de qualidade e sem tantas outras coisas? Apenas realizando um grandioso evento e convidando a população para fazer de conta que ela não passa por dificuldades no seu dia-a-dia antes e depois das festas?
A idéia da Expovale é louvável. Parabéns aos idealizadores! O que não é salutar é propagar a certeza de que por si só o evento trará o crescimento que a região precisa. A ciumeira causada entre algumas lideranças políticas nos coloca em dúvida se realmente o interesse de alguns dos que defende o projeto é mesmo desenvolver a nossa região ou melhorar a própria situação perante o eleitorado, afinal, quatros anos são muito tempo, mas a metade passa rapidinho!
Seria interessante que todos os meses tivéssemos um grande evento, pois assim teríamos a garantia do fim dos apagões, das vias esburacadas e empoeiradas, da falta de água em nossas torneiras, da insegurança pública e da melhoria de tantos outros serviços básicos.
Talvez tentem contra-argumentar afirmando que a região tem um enorme potencial turístico e econômico. Isso todo mundo sabe. Aos turistas faço o convite: venham para Laranjal do Jari, vocês vão se encantar com as nossas potencialidades. Temos as Cataratas de Santo Antônio, lindos balneários, uma variedade de reservas extrativistas, o Parque do Tumucumaque, a castanha-do-brasil, fábricas que produzem emprego e renda para milhares de funcionários do lado paraense (Monte Dourado) e uma população hospitaleira sedenta de trabalho, de crescimento e cheia de esperança, de muita esperança...
*IVAN LOPES é professor, pedagogo, acadêmico de Letras e membro da Academia Laranjalense de Letras.