A LÓGICA DO SUBCONSCIENTE HUMANO

Por ser portador de deficiência física, vivencio diariamente, desde a infância, situações inusitadas, estranhas e até engraçadas.

Uma dessas situações, todavia, vem se repetindo com tanta freqüência, que decidi tentar entendê- la.

Nos tempos de escola, a contar do primário até o fim do ensino médio, convivi com turmas de alunos não- portadores de nenhum tipo de deficiência, excetuando uma colega, com a qual, quase sempre era matriculado na mesma turma. Sua deficiência, porém, é um tanto mais grave que a minha.

Pois bem. Em turmas de 28 a 30 alunos, em média, lá estávamos, ela e eu, os "diferentes" da turma. Os colegas, notando o fato, começaram a elaborar um plano muito romântico, a fim de nos unir. O fato mais impressionante, entretanto, eram os pais deles (leia- se os que nos conheciam) incentivarem e até participarem, por vezes, da prática.

Ainda na pureza da infância, não conseguia entender a velha e boba conversinha dos adultos, que por sinal continuam a assolar as crianças de hoje: Você já tem namoradinha, meu filho?

Essa, na minha visão, não é uma questão que possa ser formulada a qualquer criança, deficiente ou não, dos seus 6, 7 anos de idade. Mas esse é um assunto que dará outro artigo. Voltemos ao foco principal do texto presente.

Com o tempo amadureci e percebi que a prática do cupido intensificava- se mais e mais. Pelo jeito, os nossos colegas não haviam amadurecido...

Outro fato que impressionava, era que nós dois, na ótica dos nossos companheiros de classe, parecíamos predestinados ao casamento.

Findei o ensino médio no ano de 2002. Três anos depois, uma companhia do setor financeiro contratou- me. Lá estou até hoje, numa empresa, diga- se, maravilhosa e um ótimo ambiente. Adentrava em 2005 ao mercado de trabalho.

Fui contratado exatamente no mesmo dia que uma menina. Para quem não acredita no acaso, como eu, o destino colocava- me perto de outra portadora de deficiência. Detalhe: trabalhamos no mesmo departamento!

Passei a notar, com estranheza, que a velha prática do cupido era contagiosa! Socorro!!

A tenacidade das pessoas em nos unir, chega a assustar.

Comecei então, a observar as pessoas ao meu redor. Analiso o comportamento, as palavras e o modo de pensar de todos.

Dessa forma, tento entender a complexidade da mente humana.

Nosso subconsciente parece preparado para selecionar pessoas e dividí- las em grupos distintos: Ricos com ricos, pobres com pobres, brancos com brancos, negros com negros. Essa divisão parece ter chegado a nós, os portadores de deficiência.

É fato que as pessoas, interessam- se pouco pelo coração. Valem mais, os atributos físicos, o culto externo e o poder aquisitivo.

Eis a lógica do subconsciente humano: deficientes físicos precisam ficar juntos porque são iguais. Danem- se os sentimentos e as afinidades!

Esses são preconceitos de uma sociedade, quase totalmente exclusivista, que insiste em esconder em frugais esteriótipos seus mais terríveis defeitos!

Você que leu esse artigo e deseja mudar esse quadro, divulgue- o, envie- me comentários através do "Recanto".

Marcello Santos
Enviado por Marcello Santos em 20/12/2008
Reeditado em 26/03/2009
Código do texto: T1345467
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