PRECISA-SE DE MATÉRIA PRIMA

Recentemente tem corrido pela Internet um artigo muito oportuno de João Ubaldo Ribeiro sob título : Precisa-se de matéria prima para construir um país“ .

Nesse artigo ele constata que ser brasileiro é pertencer a um país onde a esperteza é moeda sempre valorizada, onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família, baseada em valores e respeito, onde a gente se sente o máximo porque conseguiu “puxar” a tevê a cabo do vizinho, onde a gente frauda a declaração de imposto de renda, onde a impontualidade é um hábito, onde as pessoas atiram lixo na rua e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos, onde não existe a cultura pela leitura e não há consciência nem memória política, onde nossos congressistas ganham fortunas sem trabalhar, onde carteiras de motoristas e certificados médicos podem ser comprados, onde não se respeitam crianças e idosos, enfim , um país onde fazemos um monte de coisas erradas mas nos esbaldamos em criticar nossos governantes. E vai por aí afora.

E eu me pergunto: como fica a escola , inserida nesse contexto ? Como são os jovens que chegam à adolescência mergulhados nesse lamaçal ? Como trabalhar valores num país em que já não acreditamos nos poderes constituídos?

É simples a resposta.

A escola recebe jovens sem limites , sem respeito pelo próximo, sem modelos, sem aqueles valores superiores — amor afetivo e afetivo-sexual, gratidão, cidadania, religiosidade, religião, disciplina, solidariedade, ética — que só a família pode proporcionar.

Dos valores acima, como educador, penso ser a disciplina — entendida não como ranço do autoritarismo, mas como qualidade de vida — o principal valor para que se consiga trabalhar bem numa unidade escolar., tendo em vista ser ela um valor a ser aprendido, desenvolvido e praticado durante toda a nossa existência, a fim de que consigamos ter uma boa convivência social em todos os locais e em todos os níveis de relacionamento.

Penso que o objetivo da escola é educar a emoção e a auto-estima, desenvolver a solidariedade, a tolerância, o raciocínio esquemático, a capacidade de gerenciar os pensamentos nos focos de tensão, a habilidade de trabalhar perdas e frustrações, enfim , formar cidadãos pensantes: e isso tudo não se consegue sem disciplina, sem uma razoável matéria prima.

E aí, quando as coisas não dão certo, alguns pais insistem em culpar a escola num tipo de exigência que equivale a cobrar de uma indústria a produção de móveis de luxo, a partir de matéria prima de péssima qualidade, ou seja : é exigir a execução de uma missão quase impossível.

ANTÔNIO CARLOS TÓRTORO

PRESIDENTE DA ACADEMIA RIBEIRÃOPRETANA DE EDUCAÇÃO

ancartor@yahoo.com

Tórtoro
Enviado por Tórtoro em 05/04/2006
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