Muntazer al Zaidi: Ídolo nacional

A situação criada por Al-Zaid fez com ele virasse uma espécie de ídolo nacional em seu país e outras nações com tendência antiamericans.

No entanto, em declarações a CNN, Bush pediu que as autoridades iraquianas não sejam muito severas com seu agressor.

"Não sei o que vão fazer, mas as autoridades não devem ser muito severas", afirmou Bush, antes de admitir que o episódio de domingo foi "um dos mais bizarros que viveu" em seus oito anos de presidência.

Pedido de liberdade

Nesta quarta-feira, a organização Repórteres Sem Fronteira (RSF) pediu a libertação de Al-Zaidi.

A organização lamentou o procedimento utilizado pelo jornalista para protestar contra a política do presidente americano, mas afirma que, por razões humanitária e para apaziguar as tensões, pede que Muntazer al-Zaidi seja libertado.

A RSF também manifestou preocupacão com a saúde de Al-Zaidi e pediu "aos serviços de segurança iraquianos que garantam a integridade física do jornalistas, que visivelmente ficou ferido durante a prisão".

Segundo a organização, o chefe de operações do ministério iraquiano do Interior, Abdel Karim Jalaf, assinalou que Muntazer al-Zaidi pode ser condenado a até sete anos de prisão por "ofensa contra um chefe de Estado estrangeiro".

Ferido, mas com emprego

De acordo com um irmão do jornalista, Al-Zaidi teve um braço e as costelas quebradas, além de ferimentos em um olho e uma perna.

Em compensação, ele já recebeu uma oferta de emprego. Um canal libanês conhecido pelas posições antiamericanas, a New TV (NTV), ofereceu publicamente um emprego ao jornalista.

Fadia Bazzi, editor responsável pelos noticiários da emissora, afirmou que o jornalista será pago "a partir do instante em que foi lançado o primeiro sapato".

O canal, de propriedade do milionário empresário libanês Tahsin Khayyat, "está disposto a pagar a fiança para a libertação e garantir os custos dos advogados de defesa", acrescentou.

Jornalista iraquiano vira herói no mundo árabe

Na Arábia Saudita, um jornal relatou que o homem recebeu uma oferta de US$10 milhões por apenas um dos sapatos que certamente serão os mais famosos do mundo.

A filha do líder libanês Moammar Gadhafi concedeu ao atirador de sapatos, o jornalista Muntader Al-Zaidi, 29, uma medalha de coragem.

No bairro de Sadr, em Bagdá, pessoas pedindo uma retirada imediata dos Estados Unidos removeram seus sapatos e os colocaram em longas varas, que eram balançadas no ar. Já na cidade de Najaf, no sudeste iraquiano, pessoas atiraram seus sapatos contra um comboio americano.

Nas conversas de esquina, na televisão e em salas de bate-papo na internet, o assunto era inevitável em grande parte do Oriente Médio na segunda-feira, assim como o ato de desafio que inspirou interesse: uma enorme e espontânea explosão de raiva contra o presidente Bush em sua última visita ao país no domingo.

Alguns recriminaram o ato de Al-Zaidi como falta de respeitou ou quebra da tradicional hospitalidade árabe, mesmo quando compartilhavam do sentimento. (Bush, depois de demonstrar seus rápidos reflexos, tratou o caso como expressão da democracia.)

"Apesar do ato não ser uma expressão civilizada, ele demonstrou os sentimentos do povo iraquiano, que se opõe à ocupação americana", disse Qutaiba Rajaa, 58, médico de Samarra, um reduto sunita ao norte de Bagdá.

Muitos outros expressaram enorme prazer. "Eu juro por Deus que todos os iraquianos com suas diferentes origens estão felizes com este ato", disse Yaareb Yousif Matti, 45, professor em Mosul, no norte do país

Al-Zaidi, que permanecia sob custódia na segunda-feira, gerou um raro momento de união em uma região geralmente em conflito consigo mesma. A alegria, ainda que sutilmente velada, era perceptível na maioria das reportagens, especialmente nos locais onde o sentimento antiamericano é grande.

Na Síria, a foto de Al-Zaidi foi mostrada ao longo do dia nas redes nacionais, com os locais telefonando para compartilhar sua admiração pelo gesto de bravura. No centro de Damasco, um enorme banner pendurado sobre a rua dizia: "Ó, heróico jornalista, obrigado pelo que fizeste".

Al-Zaidi, que não foi acusado formalmente, pode enfrentar sete anos de prisão por cometer um ato de agressão contra um chefe de Estado em visita ao país. Não está claro se sua popularidade irá fazer com que o governo suavize sua pena.

Uma declaração do governo de Al-Maliki descreveu o ato como "vergonhoso, selvagem e sem relação com um jornalismo profissional". Além disso, pediu que a Al Baghdadia, rede de televisão via satélite do Cairo para a qual Al-Zaidi trabalha, se desculpasse publicamente.

Mas na noite de segunda-feira, nenhum pedido de desculpas foi proclamado pela emissora. Ao contrário, uma imagem do jornalista foi usada no canto da tela de suas transmissões durante grande parte do dia. Quando os telespectadores foram convidados a telefonar e participar, a grande maioria aprovou suas ações.

Durante uma entrevista em Sadr, um irmão de Muntander Al-Zaidi's, Maythem Al-Zaidi, 28, disse que mais de cem advogados de todo o mundo se ofereceram para representá-lo gratuitamente, inclusive o responsável pela defesa de Saddam Hussein, líder iraquiano executado.

Ele mencionou que seu irmão havia sido preso durante diversas horas no começo do ano pelos militares americanos, mas o descreveu como apolítico e disse que o ato foi espontâneo.

"Eu estou orgulhoso de meu irmão", ele disse, "como todos os iraquianos estariam".

Gesto planejado

Mas Saif Al-Deen, 25, editor da rede de televisão, disse que Al-Zaidi planejava alguma forma de protesto contra Bush há quase um ano.

"Eu lembro, no final de 2007", disse Deen, "ele me disse 'Você verá como eu me vingarei do criminoso Bush do meu jeito pelos crimes que ele cometeu contra o inocente povo iraquiano".

Deen disse que na época tentou convencer o amigo a não fazer nada, mas que Al-Zaidi havia "insistido que iria". O status de herói de Al-Zaidi continua a crescer.

Em Damasco, o dono de loja Muhammad, 34, disse que estava a caminho de uma comemoração do incidente com amigos. "Isso é como um feriado. Exatamente o que precisávamos como vingança", ele disse.

Por TIMOTHY WILLIAMS e ABEER MOHAMMED

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Carlos Henrique Marques
Enviado por Carlos Henrique Marques em 17/12/2008
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