Tempos de adoração

Tempos de adoração

Há muito e muito tempo, práticas de adoração vêm caminhando lado a lado com sociedades das mais diversas culturas, credos, idades e afins. Essa prática é, originalmente, nada mais que o simples ato de se ter um ídolo (do grego antigo ειδωλον: fantasma, espectro, espantalho, imagem, falsa divindade), o qual é tido como objeto de adoração e que representa uma entidade espiritual ou divina, e muitas vezes lhe é associado poderes sobrenaturais como também a capacidade de se comunicarem com um mundo além do nosso. A essa prática é, portanto, dada o nome de idolatria.

A questão da adoração ou idolatria já foi motivo de muita controvérsia por conta do que diz respetio a veneração de imagens. Mesmo não sendo esse o real motivo desse texto, vale ainda ressaltar que segundo as denominações protestantes, o catolicismo substituiu as religiões pagãs ao longo da história; porém conservou o culto às imagens, contudo adaptou essa prática ao seu sistema religioso. Alguns reforçam que houve somente uma troca: ao invés de imagens de deuses, passou-se a fabricar imagens de santos cristãos, o que, em suma, foi apenas trocar “doze por uma dúzia”, pois atribuiu-se aos santos as mesma funções dos deuses pagãos. Para se defenderem, católicos e ortodoxos, afirmam que sua prática de adoração de imagens (legitimada pelo Segundo Concílio de Nicéia) não pode ser confundida com idolatria, pois as imagens são apenas representações para onde as orações devem ser dirigidas, e que servem para incentivar a fé, concentrando atenção e fervor. E finalizam: “são como fotos de um ente querido”.

Dito isso...

Atualmente, com o progresso e a evolução dos meios de comunicação acelerados, as práticas de adoração tomaram um rumo totalmente diferente do que acima considerou-se. É de extrema facilidade o acesso das “pessoas comuns” ao trabalho de artistas, esportistas, personalidades importantes, fazendo com que o termo ídolo abandonasse seu sentido original (etimológico), transmutando do plano espiritual e divino para o plano humano. Isso se dá ao menos teoricamente, pois o que se vê é completamente o contrário. De jogadores de futebol ao cantor, da apresentadora aos galãs, vislumbra-se uma fração considerável da causa verdadeira de uma das enfermidades sociais pela qual passa nosso país, qual seja: a ignorância escolhida.

Bem, mas do que realmente se trata essa ignorância? Indague-se leitor! Uma grande maioria tem total paixão por novelas que pouca ou nenhuma boa influência traz aos nossos filhos, e não bastasse, trocam um debate do cotidiano por análises de personagens.Uma imensa quantidade prefere “espiar a vontade” a ler um diminuto livro, não obstatante, cuidam do alheio e esquecem os seus. Não discutem nem política nem religião porque “isso” não se discute; mas se perde tempo demais apostando em quem vai ganhar a “bolada de milhão”, e por aí se perdem outras inutilidades...

Há, em virtude disso tudo e de um um outro tanto mais, um total abandono ao que é necessário e imprescindível ao alimento de nossa mente. Para tanto, em tempos de adoração, deve-se buscar meios para se abster desse mal que adentra nossos lares e faz com que valores de extrema relevância tornem-se banais e passíveis ao desuso, transformando os ídolos da tela e dos palcos em deuses, assim como os adorados pelas práticas pagãs.

Não se quer aqui, de modo algum, imprimir moralidade ou castrar pensamentos e gostos. Cada indivíduo sabe o que adorar e fazer valer em sua vida, é livre-arbítrio não é? Mas deixa-se então uma simples pergunta: Vale a pena usar precioso tempo adorando o que não nos é útil, e esquecermos (ou fingir esquecimento) o que nos trará algo de válido, realmente válido em nossas vidas? Pensem se quiserem... adorem, ou odeiem... o que não se pode é nada sentir ou deixar que por nós sintam.

Gimi Ramos
Enviado por Gimi Ramos em 13/12/2008
Código do texto: T1334086
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