Os sete pecados capitais

OS SETE PECADOS CAPITAIS (Gimi Ramos)

Para que se apresente os sete pecados um a um, deve-se antes fazer uma breve consideração do que na realidade se trata o pecado capital. Etimologicamente, a palavra capital deriva de “capite” (cabeça, líder), assim, pecado capital é aquele que de onde se deriva outros pecados. . Vale ainda ressaltar, conforme Nietzsche, que o pecado não é uma ofensa contra a sociedade ou contra o ser humano propriamente dito, mas classifica-se como uma afronta contra Deus, uma afronta pessoal contra o Criador.

No caso da vaidade, encontram-se três sentidos: gloriar-se de um bem que não possui, de um bem que tem curta duração e, por fim, querer que um determinado bem se torne conhecido de todos. Como todo pecado capital, da vaidade outros pecados se originam, assim, temos suas filhas: desobediência, jactância, hipocrisia, contenda, pertinácia, discórdia e presunção de novidades. Dentre todas as filhas da vaidade, vale ressaltar a hipocrisia, que nada mais é que o fingimento de fatos e/ou valores.

“A inveja é pecado mortal”, como, afirma Aquino, pois o não querer o bem do outro, ou entristecer-se com tal bem, implica no contrário à caridade, no amor ao próximo. Assim como os outros pecados, a inveja tem também suas filhas, enumerando-se cinco: murmuração, detração, ódio, exultação pela adversidade e aflição pela prosperidade.

Segundo Descartes, em sua obra “As paixões da alma”, o que usualmente denominamos inveja é um vício que consiste numa perversidade de natureza que faz com que certas pessoas se irritem com o bem que vêem acontecer aos outros. A inveja, portanto, enquanto é uma paixão, é uma espécie de tristeza mesclada de ódio que se origina do fato de vermos acontecer o bem àqueles que julgamos ser indigno dele, o que só podemos pensar, e com razão, dos bens de fortuna, sorte.

Dentre todos os pecados capitais, o de restrito conhecimento denomina-se acídia, que numa listagem mais recente, encontrar-se-á como preguiça. Agostinho, denomina acídia como segue: a acídia é o tédio ou tristeza em relação aos bens do espírito. Como diz Agostinho a propósito do Salmo (104, 18): “para a sua alma, todo alimento é repugnante”. E sendo os bens interiores e espirituais verdadeiros bens e só aparentemente podem ser considerados males (na medida em que contrariam aos desejos carnais), é evidente que a acídia tem por si caráter de pecado.

Entende-se melhor a acídia (preguiça) conhecendo suas filhas, em número de seis: desespero, pusilanimidade, torpor, rancor, malícia e divagação da mente. Sendo a última merecedora de considerações do próprio Aquino; em que diz “e quando, movido pela tristeza, um homem abandona o espírito e se instala nos prazeres exteriores, temos a divagação da mente pelo ilícito”. Desse modo, pode-se também dizer que a acídia (preguiça), não passa de ociosidade, que por sua vez, gera outros pecados, classificando-se assim, como legítimo pecado capital, sabendo-se que o mesmo é aquele do qual se origina outro pecado.

Ao tratar-se da ira como pecado capital, é necessário lembrar de uma controvérsia acontecida outrora entre os filósofos estóicos, que diziam que toda a ira era viciosa; e os peripatéticos, que afirmavam que alguns modos de ira eram bons. Há, então, necessidade de se confirmar à veracidade desses dois pensamentos: quando, porém, alguém quer uma vingança à margem da ordem jurídica ou pretendendo mais o extermínio de quem peca do que do próprio pecado, isto é irar-se contra o irmão. Mas não seria sob esse aspecto a discórdia entre estóicos e peripatéticos, pois os estóicos aceitariam o fato de que, em alguns casos, a vingança é virtuosa. Todo problema da controvérsia estava no segundo aspecto, o aspecto material da ira, isto é, a excitação do coração, pois tal excitação impede o uso da razão, que é principalmente o bem da virtude. E, assim, independentemente de qual fosse a causa, parecia aos estóicos que a ação da ira fosse contra a virtude e que toda ira seria viciosa como afirmava Tomás de Aquino.

A ira, não diferente dos outros pecados capitais, apresenta filhas, que também são seis: rixa, perturbação da mente, insultos, clamor, indignação e blasfêmia. Com a maquinação dos pensamentos sobre possíveis modos de vingança do irado, temos a filha da ira denominada perturbação da mente e no irromper do falar, dirigindo ofensas a Deus, nasce a filha da ira chamada blasfêmia. No âmbito de outra filha da ira, a indignação, Descartes considera que,a indignação é uma espécie de ódio ou de aversão que se tem naturalmente contra aqueles que praticam algum mal, de qualquer natureza que seja. Muitas vezes está misturada com a inveja ou com a compaixão, mas seu objeto é, no entanto, totalmente diferente. Ficamos indignados somente contra aqueles que fazem o bem ou o mal às pessoas que não o merecem, mas invejamos aqueles que recebem esse bem e sentimos compaixão por aqueles que recebem esse mal

Desordenada ambição por dinheiro, descontrole em “ter” uma determinada coisa, necessidade de obtenção de algo para dispor a bel-prazer, e a retenção de bens, contrariando o princípio da generosidade, temos o pecado capital chamado avareza. E é através desses elementos que nascem as filhas da avareza, que como os pecados capitais, são sete: traição, fraude, mentira, perjúrio, inquietude, violência e a dureza de coração. Vale lembrar, o caso mais conhecido de uma das filhas da avareza, que trata da traição, como é evidente no caso de Judas, que por ser um avaro, tornou-se traidor de Cristo.

A falta de controle no comer e no beber, esbanjar comidas e bebidas, acarreta no pecado capital intitulado gula, que por sua vez se constitui em cinco espécies. Segundo Gregório Magno, o vício da gula nos tenta de cinco modos, levando-nos a: antecipar a hora de comer, a exigir alimentos caros, a reclamar requintes no preparo da comida, a comer mais do que o razoável e a desejar os manjares com ímpeto de um desejo desmedido, inoportuno, luxuoso, requintado, demasiado e ardente [“Praepropere, laute, nimis, ardenter, studiose”].

Como já visto anteriormente, pecado capital é aquele do qual se originam outros vícios a título de finalidade, assim, a gula possui também suas filhas: imundície, embotamento da inteligência, alegria néscia, loquacidade desvairada e expansividade debochada.

Por fim, temos a luxúria, que tem seu prazer no ato sexual. Mas tal ato, para se caracterizar como luxúria, deve ser contrário à conservação do gênero humano.

Para se entender melhor, recorrer-se-á a Aquino, que logo após citar Agostinho que diz: “o que é o alimento para a vida do homem é o ato sexual para a vida do gênero”, relata: e assim como o uso dos alimentos pode se dar sem pecado, se feito do modo devido e adequado a seu fim, de acordo com o que compete à saúde do corpo, também o uso dos atos sexuais pode se dar sem pecado, se feito do modo devido e adequado a seu fim, como exige o fim da geração humana.

A luxúria, como pecado capital, que, como se sabe, tem seu prazer no ato sexual, caracteriza-se como tal, segundo Tomás de Aquino, em virtude da intensidade do prazer, a alma é conduzida às potências inferiores - concupiscência e o sentido do tato -, assim, a razão sofre uma deficiência, acarretando no ato libidinoso.

A luxúria classificada como pecado capital produz, através de derivação suas filhas, as quais somam oito: cegueira da mente, irreflexão, inconstância, precipitação, amor de si, ódio de Deus, apego ao mundo e desespero em relação ao mundo futuro. Vê-se, então, a luxúria como um dos pecados de maior abandono da razão, pois tem um excessivo apego aos prazeres carnais e um desprezo desmedido pelos bens espirituais, evidenciado pela busca intensa da alma a um ato de faculdade inferior, debilitando e desorientando as faculdades superiores (como o amor) em seu agir.

Gimi Ramos
Enviado por Gimi Ramos em 13/12/2008
Código do texto: T1334083
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