Fabiano e Baleia outra vez
Há exatamente 70 anos, o grande escritor alagoano Graciliano Ramos, através do seu Vidas Secas, um clássico de literatura brasileira, retratava com muita precisão o sofrimento do sertanejo do Nordeste, castigado pela seca do sertão. Em nossa Alagoas, a mesma terra dos personagens Fabiano, Sinhá Vitória e Baleia, ainda se repete, a cada ano, esse fenômeno climático de conseqüências drásticas para aquela região. Vários municípios já foram declarados como área de calamidade pública, como forma de obter ajuda do governo. “Mais uma esmola para matar de vergonha ou viciar o cidadão”, como dizia o nosso Rei do Baião, Luiz Gonzaga.
Promessas e mais promessas sobre a Redenção do Nordeste e ainda muitos Fabianos e Baleias sofrendo com a malvada da seca. Alagoas, assim como Sergipe, Bahia e Pernambuco, tem o rio São Francisco, o rio da Unidade Nacional. Faltam-lhe projetos de irrigação, a exemplo de Petrolina e Juazeiro, hoje a região mais próspera do São Francisco, exportando os mais diversos produtos agrícolas para Europa e Estados Unidos.
Ali prevaleceu a chamada “vontade política”. Por coincidência, teve ao mesmo tempo, governador de Pernambuco filho de Petrolina e governador da Bahia filho de Juazeiro. Ambos, no intuito de melhor a própria terra, plantaram a semente do progresso que atraiu investidores até do exterior. Não mais existem ali os Fabianos da vida. Lamentavelmente, na terra do Graciliano Ramos, muitos dos seus personagens ainda perambulam pelo nosso sofrido sertão.
Pela proximidade do Natal, surgem agora campanhas de solidariedade, objetivando levar cestas básicas para os flagelados da seca, uma esmola muito pequena para o tamanho de suas necessidades. Pela minha origem, sensibilizo-me ao ver que depois de tanta evolução do homem, ainda haja tanta desigualdade regional, no tempo da globalização.
Quisera eu que todos tivessem a mesma sorte daquele nordestino que pegou o pau-de-arara, foi para São Paulo e hoje anda pelo mundo inteiro na sua grandiosa e moderna aeronave, conhecida como “aerolula”.