PLATÃO E O LIVRO

“O livro é um mestre que fala, mas que não responde”.

(Platão)

A sociedade encaminha seus destinos bem ao contrário do pensamento de Platão, acreditando que nos livros se encontram todas as possíveis e imagináveis respostas. Assim se desenvolve o processo educacional, obrigando estudantes a decorarem páginas e páginas de compêndios e, dessa forma, perfilando indivíduos sem autonomia e sem criatividade, meros repetidores.

As áreas de estudos acumulam conhecimentos seculares, surgem novas disciplinas e conceitos que, na verdade, são apenas travestis de outros já disseminados ao longo dos anos de civilização.

Nasce uma preocupação: a de tentar entender como será a vida de um estudante daqui a uns trezentos anos ou mais, de como encontraríamos uma maneira didática de respeitar a produção de séculos passados e prestigiar a atual e algo inédito que, porventura, venha a surgir.

Parece que o primeiro passo a ser dado é o de se organizar o estudo em duas linhas gerais, a do universal e a do específico. Ou seja, a sociedade letrada teria acesso à produção total de conhecimento e os indivíduos iriam se acomodando aos seus rios, suas vertentes, buscando os caminhos da especialização. Mas no que digo não há novidade, já se faz dessa forma.

Sim. Entretanto, o que se vê nos meios acadêmicos é cada mestre supervalorizando a sua disciplina, forçando estudantes a se aprofundarem em conhecimentos que em nada lhes servirão na profissão que escolheram. Por exemplo, colocaria o ensino da Matemática e o ensino do Latim. Atualmente, nem para ser padre se precisa de um nível extraordinário em língua latina. Enquanto isto, em cursos de letras, alunos que mal conseguem usar a língua portuguesa são exigidos para a leitura, tradução e análise do Latim como se isto fosse algo provável e fácil. Por outro lado, o Ensino Médio martiriza adolescentes com as Disciplinas Matemática, Física e Química, como se todos fossem dessas disciplinas necessitar prioritariamente em qualquer carreira profissional.

Apegar-se ferrenha e cegamente ao livro, no sentido do exposto por Platão, é falar ao vento e encarregar-se de impedir os estudantes de lerem o mundo, proposta de Paulo Freire. Apesar de tanto se ler os livros de Paulo, há quem continue julgando que leitura de mundo é leitura do que está escrito nas paredes das lojas, nos muros e em qualquer parte por onde se ande.

As respostas estão além dos livros e além de qualquer parede ou caverna, mesmo que tudo isso e muito mais nos ofereçam leituras do homem e sua presença na Terra. As respostas habitam a nossa compreensão e dependem de interpretação, tradução, criação e habilidade de aplicação do conhecimento adquirido.

Platão era um mestre e não pretenderia dizer que o mestre fala, mas não responde. Provavelmente gostaria de demonstrar que por ser mestre não teria a obrigação de dispor das tão esperadas respostas. Mestres são condutores da luz, do pensamento, do método e nunca os senhores da resposta definitiva, mesmo porque ela não existe.