"O BRASIL QUE QUEREMOS SER"
Hoje foi difícil eleger um tema para escrever. No meu final de semana não acontece muita coisa. Resolvi visitar o site da revista Veja. Pensei comigo, quem sabe essa incursão nesse mundinho classe-média chinfrim eu consiga algum assunto? E logo consegui. Havia matérias falando sobre a qualidade do ensino superior. Que o Brasil não tem nenhuma universidade que figure entre as 100 melhores do mundo e abriam um espaço para darmos sugestões para “O Brasil que queremos ser”.
Tenho tido nestes últimos anos experiências com diversas faculdades. Estudo direito e filosofia. E já passei por faculdades de renome e faculdades sem esse tal renome. Percebi que o que faz uma universidade ter o tal renome é principalmente sua tradição. Sim, pois tanto nas faculdades de “primeira” quanto nas menos renomadas o ensino, os métodos de adquirir conhecimento são os mesmos. Com a desvantagem dos cursos tradicionais em que seus docentes sentem-se como deuses.
Nas grandes faculdades temos autores de livros, suas aulas, pelo que constatei in loco, são cópias fiéis daquilo que escreveram. Estas obras são adotadas, invariavelmente, como leitura obrigatória para conseguir acompanhar o curso. Não seria melhor apenas lermos? Não. Precisamos comprar os livros de nossos mestres, pois senão aquele monte de papel fica encalhado na livraria. E ainda temos que ouvir suas intermináveis repetições.
Eles faziam questão de falar numa linguagem que nós não entendíamos, principiantes que éramos. Havia monitorias, ou seja, alunos de semestres posteriores ao nosso “traduziam”, mastigavam as aulas dos “Doutores”, pois somente depois de muito penarem, conseguiam entender o mínimo para que nós não ficássemos em DP.
Em cursos de humanas, onde não são usados laboratórios, a faculdade em que se está não faz muita diferença. Se o aluno souber ler bem, os livros o ensinam como ele irá usar o direito na vida prática. Não há necessidade de ficar ouvindo os professores falar e falar sem parar.
Como disse o sábio ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso: “Quem não sabe fazer nada acaba indo dar aula”.
A universidade, para ser melhor, não precisa de mais doutores, mais mestres, precisa de gente disposta a inovar. A universidade, para aqueles que efetivamente querem melhorar, deve ser o local de debate, não apenas de repetições infindáveis. Ir para universidade para ouvir o que já foi lido no livro é desestimulante.
No caso do direito, os alunos além de perder cinco anos das suas vidas nos bancos escolares, tem que passar pelo nefasto exame da ordem dos advogados. Uma forma que os advogados mais velhos encontraram para barrar o acesso ao mercado de trabalho. O exame possui questões sobre matérias que não são ministradas na faculdade, jurisprudência da própria OAB, dezenas de pegadinhas e ainda ninguém, além da OAB, fiscaliza a aplicação do exame. Nem preciso dizer que se cria uma enorme margem para inúmeras fraudes.
Este exame é inconstitucional. Inconstitucional. Se alguém conseguir provar, juridicamente, a constitucionalidade do exame da OAB que fique à vontade. Mas duvido que vai conseguir.
Voltando a questão do ensino, não consigo acreditar que a maioria das pessoas compram essa idéia falsa de que alguém pode ensinar outrem. Será que a faculdade A ensina melhor que a B e esta melhor que C e assim por diante? Mentiras que foram propagadas por muito tempo e se tornaram dogmas. Ninguém contesta.
Minha incursão pelo mundinho classe-média Veja me trouxe algumas questões:
Gostaria de saber qual é a pretensão real da Veja? Por que não figuramos entre as 100 melhores universidades? Quem criou tal ranking? Com que critérios? O Brasil que queremos ser? Quem quer ser? A veja? Seus leitores?
Quem quer fazer parte deste seleto grupo? Você quer, estimado leitor? Qual a importância de estar entre as 100 “melhores” universidades do mundo?
A fatia de leitores da Veja é muito pequena se comparada à população brasileira. Certamente, a maioria do povo não possui os mesmos anseios que esta parte privilegiada da mídia brasileira, esta que nos quer impor seus modos de pensar.
Mas nós dizemos NÂO. Obrigado Veja, pelas suas boas intenções.