O dinheiro

O DINHEIRO

Dinheiro, todos sabem, é bom quando se tem, e péssimo quando falta em nosso bolso ou conta bancária. Lamentavelmente, as pessoas são julgadas e quantificadas pelo dinheiro que têm, e não pelo caráter ou pela sabedoria que demonstram.

Hoje em dia aumenta o número daqueles que endeusam o vil metal, a ponto de onerar a vida dos outros com usuras, explorações, fazendo recair sobre si próprios uma baixa qualidade de vida, tudo com o fito de ajuntar mais, ter mais, sem pensar no lazer, na diversão e na solidariedade. Estão sempre pensando nos lucros e se esquecem de ser felizes.

Nesse desatino, tem gente que não sabe ver nada do mundo que não tenha agregado um valor financeiro, um lucro ou uma retribuição pecuniária, mesmo que isto fira a moral, a ética, a cidadania ou a ecologia. Para eles, o que não dá lucro não tem valor. Em qualquer circunstância, logo perguntam: “Quanto isto vai render?” Ou “qual a finalidade econômica deste projeto?”.

No fim da década de setenta fiz um curso na FGV patrocinado pela Caixa. No final deram a cada participante o livro de Arthur Hailey “O Dinheiro”, (500 páginas, ano1975). Na capa havia a figura de uma águia (símbolo da rapina dos predadores). O livro ensina um terrorismo financeiro para as pessoas buscarem dinheiro, não importa de que forma.

Era um forte subsídio para a avidez com que os gerentes de banco deveriam avançar sobre suas presas. Sem exagerar, eu posso afirmar que se trata do “manual do capitalismo selvagem”. Há por aí um outro livro/DVD de cunho esotérico chamado “O segredo” sobre o qual já comentei, que ensina os ingênuos a verbalizar “quero ficar rico”, para através de uma improvável “lei de atração” obter riquezas do dia para noite.

São Jerônimo († 419), um dos mestres do ensino social da Igreja, disse em um de seus inflamados discursos que “o dinheiro é o esterco do diabo”. Olhando bem, analisando prós e contras dessa assertiva, por todas as tragédias que o dinheiro tem patrocinado séculos afora, não dá para dizer que o santo está errado.

Cultivamos o supérfluo e esquecemos o essencial. O que é importante em nossa vida? Pensem nisso. Uns querem um emprego melhor; outros, só um emprego. Uns desejam uma refeição mais farta; outros, apenas uma refeição. Uns querem uma vida mais amena; outros, apenas viver. Uns desejam ter olhos claros; outros, enxergar. Uns querem ter voz bonita; outros, falar. Uns querem silêncio; outros, ouvir. Uns querem sapatos novos; outros, ter pés. Uns desejam um carro; outros, apenas andar. Uns querem o supérfluo; muitos, só o necessário.

Há tempos escutei um homem falando na baixa qualidade de vida que se fez presente nos últimos anos de seu pai. Para dar toques mais reais à indigência observada ele completou: “meu pai morreu pobre; não tinha nada; só dinheiro”.

O dinheiro, já que o santo o comparou assim, para mim é realmente como esterco: só serve para alguma coisa se for espalhado. Fora disto é usura, egoísmo e alienação.

filósofo e escritor