O teatro e o seu duplo sob o olhar de Antonin Actaud
ARTAUD, Antonin. O teatro e o seu duplo. São Paulo: Editora Max Limond, 1964.
O autor centra os seus argumentos no fato de vivermos num mundo cercado de violência e crimes, onde a fome e a sobrevivência do ser humano é uma guerra constante, e a vida deveria ser o fator primordial em detrimento da excessiva preocupação de pensamentos efetivos dirigidos para a cultura, sendo que esses ditos pensamentos estão especificamente ligados à fome e não representam a verdadeira preocupação com a cultura em si.
Pela sua ótica, tanto a civilização quanto a cultura, da forma como a sociedade vigente conceitua e nos impõe, é quem dirige as nossas ações, mesmo aquelas mais escondidas no âmago do ser. E sendo assim, acabamos de fato, vivendo e julgando uma civilização pela maneira como ela se comporta. Seguimos o seu rumo, o rumo que ela nos dita.
É de suma importância ressaltar o pensamento do autor quando ele se reporta para o teatro e diz que se o teatro nos possibilita a oportunidade de darmos vida aos nossos recalques, as nossas angústias etc, também paralelamente a isso surge uma poesia que se manifesta através de atos “bizarros”. E, essa cultura assim manifestada, está inserida de uma ideia de protesto, onde se gladiam forças antagônicas de um lado e a cultura do outro. Para ele, a nossa ideia de teatro e de cultura, baseada na arte ocidental é uma idéia petrificada e sem sombras, pois o verdadeiro teatro se move através das sombras projetadas pelos instrumentos vivos, onde a vida permanentemente existe e nunca deixará de existir.
Portanto, tanto para o teatro como para a cultura, o modo como se dirige e se agita a sombras é que faz a diferença. O teatro, por exemplo, ao destruir as falsas sombras e não se permitir manter fixas as linguagens e as formas prepara efetivamente novos paradigmas, novos caminhos, para a representação da cultura.
Interessante é quando o autor se reporta para a civilização mexicana, para as crenças dos toltecas, astecas, etc, para demonstrar um pouco de misticismo e de magia no âmbito do teatro e da cultura; cita os deuses e afirma que o “totentismo” é um ator, haja vista, ele possuir o poder de se mexer e existir para atores. Para ele, realmente a cultura real, está calçada nos meios bárbaros e primitivos do “totentismo”. Essa sim continua afirmando, é uma vida espontânea, portanto, natural, onde os “Tótens” apressam a comunicação com as forças que dormem (manas). E, Embora no México, não exista arte, “as coisas servem e estão em perpétua exaltação”. (p.20)