Suas dúvidas entre dois amores

Prólogo:

Título Original: Out of Africa

Gênero: Drama

Tempo de Duração: 162 minutos

Ano de Lançamento (EUA): 1985

No Brasil o filme "Out of Africa" foi apresentado ao público com o título: “Entre dois amores”. Trata-se de uma Linda história de amor, na África, no tempo da colonização, tendo como pano de fundo o preconceito e o desrespeito dos ingleses com o povo africano e sua cultura.

Nos anos 20, Karen Blixen (Meryl Streep), uma rica dinamarquesa, vai morar em uma fazenda de café no Quênia com Bror Blixen-Finecke (Klaus Maria Brandauer), um barão com quem se casou por conveniência. Sendo mais amigos que amantes, o casal acaba se separando e enquanto ele vai embora ela continua trabalhando e se adaptando ao novo lar até que conhece Denys Finch Hatton (Robert Redford), um aventureiro e aristocrata inglês com quem tem um forte envolvimento e se torna o grande amor da sua vida.

Às vezes escutamos alguém dizer: "Se estiver me relacionando com uma pessoa e sentir desejo por outra, é porque, então, não a amo." Ou "Quem ama quer ficar o tempo todo ao lado da pessoa amada, nada mais lhe interessa.".

Isso é pura balela! Esse "grudar-se" certamente causará, mais cedo do que tarde, uma rotina degradante para ambos. Um ou outro, senão os dois, sentir-se-á sufocado, sem privacidade nenhuma.

Felizmente, para os que iguais a mim não crêem existir traição no campo afetivo, nada disso é verdade. Veremos isso ao longo do texto que ora escrevo NÃO TEMENDO SER, mais uma vez, mal-interpretado.

Com relação ao preconceito não escreverei nada, pois quando escrevi e publiquei no Recanto das Letras o texto “Somos preconceituosos” creio ter esgotado o assunto ao escrever:

“Preconceito é: uma atitude discriminatória que se baseia nos conhecimentos surgidos em determinado momento como se revelassem verdades sobre pessoas ou lugares determinados. Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém ao que lhe é diferente.”.

Qual é a sua dúvida? É algo parecida com essa que abaixo transcrevo?

"Meu coração bate pelo jovem "V", mas talvez eu fosse ter uma vida mais romântica, prazerosa, digna e interessante com o senhor "H".

Todas as mulheres já passaram por uma situação assim: o "V" é tão novo e bonito, mas o senhor "H" é tão atencioso, inteligente... Ou: com o "V" o sexo é sensacional, mas com o eclético "H" o papo flui melhor e natural, rimos, descontraímo-nos à beça e acontecem, quando deixo e quero fazer acontecer, coisas deliciosas, diferentes, não convencionais, e creio que só não me extenuo de prazer porque ainda resisto a alguns avanços e sandices a dois.

Ou ainda: tudo bem que o jovem atleta "V" é um supercompanheiro e pai dos meus filhos, mas só o Ricardão "H" faz meu mundo girar muito mais rápido com suas gentilezas, poesias e atenções; beijos atrevidos, em locais proibidos e na medida certa. A urbanidade do senhor "H" me cativa, a inteligência dele me fascina, mas ainda tenho dúvidas entre os dois amores.

O coração está dividido, você fica entre dois amores, sem saber para que lado deva ir. Mas será que é mesmo possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Essa dúvida não é apenas da indulgente Santa, mas de muitas mulheres apaixonadas, pragmáticas, livres, dinâmicas, amorosas, casadas, separadas, divorciadas, viúvas, solteiras, párvoas e extremamente inteligentes.

Inicialmente é de bom grado esclarecer que minha opinião talvez seja ou esteja solitária nesse universo massificado de axiomas. Não creio e não gosto da palavra infidelidade. Os dicionários definem essa palavra como sendo uma ação desleal ou traição. Ora, desde quando você estará cometendo uma deslealdade ou traição quando busca apenas complementar um anseio fazendo uso do sagrado direito de ser feliz?

Vejamos três exemplos simples, em forma de perguntas, que não ousarei responder para não ser considerado profano. Quero apenas instigar à reflexão, induzir à realidade desprovida da hipocrisia tão comum nos dias de hoje onde quase todos se dizem inocentes de suas dúbias intenções:

1 – Se você necessita de um beijo insólito (algo realmente diferente), um abraço, ou outra demonstração de carinho todos os dias, mas o que poderá fazer se o seu parceiro, por motivos alheios a sua (dele) vontade não pode suprir essa necessidade?

2 – Onde buscar a complementação se você adora fazer sexo não convencional, mas seu parceiro, por questões ou princípios religiosos, culturais e sociais prefere o tradicionalíssimo “papai e mamãe”?

3 – Você veste sua melhor e mais sexy roupa de dormir. Maquia-se, perfuma-se e se penteia com esmero, mas o parceiro não percebe seu esforço para agradá-lo e, pelo contrário, ainda pergunta aos gritos, furioso: “Que palhaçada é essa?”.

Minhas diletas e leais leitoras terão na ponta da língua a resposta mais adequada para o insensível companheiro dos supracitados exemplos? Não. Por favor, não respondam no ápice da fúria. Na indignação mais sobreerguida. Não digam palavrões. Respirem fundo. Contem até dez e digam entredentes, talvez da forma mais inaudível possível:

“O professor Henrique tem sobeja razão. Devo fazer uso do meu sagrado direito de ser gente e feliz. Buscarei a complementação dos meus anseios sem medo da culpa. Quebrarei os grilhões das conveniências sociais e religiosas e serei, certamente, mais feliz sem necessariamente ser considerada infiel por ter ousado ter um comportamento espúrio sob a ótica dos hipócritas.”.

É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? Sem dúvida, é possível amar bem mais de duas. Acontece até com freqüência, mas ninguém quer aceitar para si mesmo. Afinal, fugir dos modelos impostos gera ansiedade, o desconhecido apavora. Causa frio na barriga. Então, surge aquela desculpa esfarrapada: "É possível amar duas pessoas, mas não do mesmo jeito."

É exatamente o que ocorre com a infidelidade. Em público todos negam, mas praticam em particular e às escondidas. Gritam e suplicam por prazeres apenas sonhados e imaginados. E quando se rompem os grilhões das conveniências a perversão desejada é banalizada com tendências à normalidade. Isto é ótimo! A rutilância do eu gente finalmente sobrepujou as mesquinharias obliterantes.

No amor pelo amigo pode não haver desejo sexual, no amor pelo filho costuma predominar um desejo de proteção, e assim por diante. Portanto, podemos amar mais de um, no sentido mesmo do amor que encontramos no namoro ou casamento. Somos todos diferentes, cada um possuindo aspectos que agradam e que se buscam num relacionamento interpessoal.

Pode até ser que na fase da paixão, quando se está encantado pelo outro, não caiba mais ninguém. Mas essa fase dura pouco. Com uma convivência mais prolongada, a paixão acaba e fica o amor, se houver. De qualquer modo, não parece muita mesquinharia afetiva ter apenas um amor? Contudo, para começar a pensar diferente da maioria é necessária alguma dose de coragem e vontade de viver intensamente e sem medo.

Concluo sem querer induzir quem quer que seja à prática do inusitado escrevendo: Princípios só servem para mesquinhar as pessoas. Um (a) amante é a solução para que se mantenha unida (o) com quem se tenha estima. É necessário resgatar a auto-estima, sentimentos reclusos, rebeldes, enfraquecidos ao longo do tempo. Em uma relação o silêncio pode dizer ou gritar muita coisa. Uma ou outra ação poderá fazer a grande diferença entre o querer ou não desejar ser feliz.