AMOR, CRIME E CASTIGO
AMOR, CRIME E CASTIGO
Enfim, depois de tantos artifícios judiciais, o veredicto: Suzane e os irmãos Cravinhos foram condenados a cento e tantos anos de prisão, castigo que nunca se cumpre no Brasil. Por que não se institui logo a prisão perpétua? Fez-se a justiça de qualquer maneira, como era o desejo da sociedade. Contudo, pelo feitio das nossas Leis, sem aquela austeridade, sem a rigidez que se adotam nos tribunais de países de primeiro mundo, que deveriam ser modelos para os nossos juristas, aquela pena, antes da metade dos anos que terão que cumprir, será suavizada pelo bom-comportamento dos jovens assassinos, principalmente com relação à bela Suzane Louise von Richthofen, que é de outra linhagem, de outra classe social, quase uma ariana, talvez, pela origem que tem. Os seus comparsas, mais adiante, também serão beneficiados com outros atributos desse nosso generoso sistema carcerário.
A propósito, a sociedade, embora tenha a memória curta, esforçando-se, pode lembrar o que aconteceu em outros episódios de crimes hediondos, como exemplos, a tragédia que envolveu os jornalistas Antônio Marcos Pimenta Neves e Sandra Gomide, ela assassinada cruelmente por ele. E a deplorável e monstruosa morte da filha da novelista Glória Perez. Os seus criminosos, além das regalias que experimentaram no transcurso dos anos a que foram condenados, estão, hoje, isentos da mácula, da mancha de sangue com que se sujaram; estão de mãos limpas como de crianças inocentes, livres, pois, da pecha que lhes pesava de “assassinos”, qualificativo que não mais lhes cabe, porque um dispositivo, que deve estar inserido em algum capítulo do nosso Código Penal (que desconheço), os “lavou” da “injustiça” dos jurados que votaram pela condenação de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz. Tornaram-se, pelas mãos dos nossos eminentes criminalistas, cidadãos-de-bem, pessoas honestas, sãos de corpo e alma. Integraram-se, sem qualquer nódoa em seu curriculum vitae, ao convívio da sociedade brasileira.
O crime, neste nosso país, seja da natureza que for, ao contrário do que acontece em nações civilizadas, lamentavelmente, compensa. Matar, no Brasil, tornou-se um ato banal. Elimina-se gente como os dedetizadores fazem com ratos e baratas. O ser humano virou um objeto, um traste, uma coisa desprezível, um ser inútil na concepção do seu próprio semelhante, e não mais uma criatura concebida à semelhança de Deus, nas mãos, não só de pessoas comuns, mas também no desejo, na vontade mórbida de seres humanos (?) até de formação acadêmica, de gente que teve berço, que professou uma doutrina filosófica ou religiosa, que fez parte do convívio e reuniões sociais, que desconhecia antros pervertidos das favelas com seus pontos-de-drogas. O crime, de maneira geral, vulgarizou-se entre pobres e ricos em nosso país. Haja vista os estelionatos, os crimes de falsidade ideológica, de prevaricação, das remessas ilegais de dinheiro para paraísos-fiscais no exterior, o contrabando, o tráfego de drogas, etc, que envolvem, não só pessoas comuns, mas políticos, empresários, industriais; enfim, homens que se arrogam até de defensores da sociedade nas suas posições de policiais civis e militares.
Não é por menos que os chefes das organizações criminosas (PCC & Cia.) deitam e rolam no cometimento, na execução de suas atrocidades; e não só eles como os nossos “bandidos” de colarinhos brancos, travestidos de homens-de-bem, não somente como indivíduos isolados no meio social, mas também quando investidos como legítimos representantes do povo, eleitos pelo povo (politizado?) serão beneficiados por “fórmulas mágicas” judiciais, se antes não se favorecerem pelas “pizzas” das vergonhosas CPIs do Congresso Nacional. Aqui ou ali onde os confinarem (é bom sempre lembrar o juiz Lalau), tornar-se-ão “meninos-comportados”, seguindo à risca o regimento das penitenciárias, sob as ordens dos seus carcereiros. Uns até se dedicarão à leitura da Bíblia, lavando-se, assim, do instinto bestial que traziam na alma, e com um lugar de “paz” garantido à destra de Deus, quando morrerem.
E assim será – escrevam – o futuro, não muito distante, dos frios assassinos do bairro de Campo Belo.