A língua da gramática e a do povo
Prof. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)
Muito temos ouvido sobre a fala de nós, professores em sala de aula e, sobremaneira, sobre como escrevemos sem nos preocuparmos, às vezes, com a Norma Culta da qual, enquanto, representantes da Escola, devíamos cuidar mais, respeitando, é claro, a nossa variante, porque todos nós temos uma fala pessoal e carregada de expressões que traduzem o nosso universo pessoal.
Considerando que o conceito de língua é bastante amplo, englobando todas as manifestações da fala, com suas incontáveis possibilidades, sabe-se que existem, dentro desse extenso universo, variações que não só são decorrentes do uso individual da língua, mas sim de outros fatores como: geográficos, sociais, profissionais, situacionais.
Há uma considerável diferença entre as formas que a língua portuguesa assume nas diferentes regiões em que é falada. Para tanto, basta verificar a diferença entre o modo de falar de um mineiro, um carioca e um gaúcho. Essa é uma variação regional.
O português empregado pelas pessoas que têm acesso à escola e aos meios de instrução difere e muito do português empregado pelas pessoas privadas de escolaridade. Algumas classes sociais dominam uma forma de língua que goza de prestigio e, por outro lado, outras são vítimas de preconceito por empregarem formas de língua menos prestigiadas.
Assim, cria-se uma modalidade da língua – a norma culta ou de prestigio – que deve ser adquirida durante a vida escolar e cujo domínio é exigido como forma de ascensão profissional e social. O idioma torna-se um instrumento de dominação e discriminação social. Nesse sentido, vale relembrar que vários autores e estudiosos da língua tinham medo da caneta, porque a fala não é tão vigiada quanto à escrita. Saussure mesmo afirmou que tinha certa aversão à caneta.
Quando falamos em Língua Portuguesa, é oportuno lembrar do caso dos pronomes. Oswald de Andrade, célebre poeta participante da I Semana de Arte Moderna, enfatiza que o fato de que o falar pode estar errado segundo a norma culta, mas a vida prática (o fazer) é correto, ou seja, decorre independente da linguagem (o falar). Para tanto, anotamos um poema dele: Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
(Andrade, Oswald de. Pau-Brasil. 5ª ed., S. Paulo: 1991)
O conceito de língua é bastante abrangente e engloba todas as manifestações da fala com suas incríveis possibilidades, uma vez que, dentro desse extenso universo, ocorrem variações lingüísticas que decorrem não do uso a língua. Embora um grupo de pessoas que utilizam a mesma língua constitua uma comunidade lingüística, isso não quer dizer que a língua seja homogênea e uniforme.
A diferenciação geográfica e social entre segmentos de uma mesma comunidade lingüística resulta, conseqüentemente, em um processo de diferenciação lingüística. No Brasil, existem as variantes ou dialetos regionais: o nordestino, o mineiro, baiano, fluminense, sulino, etc. São as variantes lingüísticas, os dialetos, formas que a língua assume nas várias regiões, formas que ela assume por causa da idade, sexo, raça, profissão, posição social, grau de escolaridade, classe econômica.
Há uma considerável diferença, portanto, entre o português falado pelas pessoas que têm acesso à escola e outras que não puderam freqüentá-la. Algumas classes sociais que freqüentam uma escola dominam uma língua que goza de prestigio, enquanto que as demais classes são vitimas de preconceito por empregarem formas menos privilegiadas. Isso porque existe o mito da língua única.
De acordo com Magda Soares, em seu livro “Linguagem e escola – Uma perspectiva social” o conceito de “deficiência lingüística” é um desses estereótipos, resultado de um preconceito próprio das sociedades estratificadas em classes. A Língua Portuguesa desejável para a escrita e, inclusive, para a oratória de líderes e professores, contudo, é aquela mais próxima da gramática normativa que estabelece normas para o uso da língua e isso tem que ser observado nos projetos científicos, nas monografias, nas dissertações, ou seja, em todas as situações em que se requer a formalidade da língua.
Divinópolis, 2005.