Fenômeno Religioso
“Os homens desprezam a religião: odeiam-na e temem que seja verdadeira. Para acalmá-los, é preciso começar mostrando que a religião não é contrária a razão; que é digna de veneração e de respeito; em seguida torná-la amável, fazer com que os bons desejem que seja verdadeira digna de veneração, pois conhece exatamente o homem; amável porque promete o verdadeiro bem.” (B. Pascal)
1. Definições
O termo religião vem do latim, religare, que significa ligar de novo, ou seja, religar o homem a Deus; já que todos estão afastados da presença de Deus. Porem, Cícero, entende que o termo vem de relegere, considerar, rever, retomar o caminho. A religião é um conjunto de mitos, ritos e normas com o qual o homem exprime e realiza seus contatos com Deus.
“Num sentido mais amplo, podemos dizer que religião é a vida do homem nas suas relações com o poder sobrenatural do universo”... Strong conceitua a religião cristã, dizendo: ”Em sua idéia essencial, religião é uma vida em Deus uma vida vivida em reconhecimento de Deus, em comunhão com Deus, e sobe o controle do Espírito de Deus habitando no crente.” (Z. Severa, 1999)
Segundo Spinoza, “a religião universal ou católica abarca somente aqueles dogmas que são absolutamente indispensáveis para assegurar a obediência a Deus, pois sem ela essa obediência torna impossível.”
Kant diz que a religião “não consiste em dogmas ou em observâncias, mas disposição do coração para observar todos os deveres humanos como se fossem mandamentos divinos... uma comunidade ética só é concebível como um povo submisso a mandamentos divinos, isto é, como um povo de Deus, verdadeiramente reto, que segue leis virtuosas.”
Hegel, “a religião é a consciência da relação com Deus, e o seu objeto é simplesmente incondicionado, simplesmente suficiente, o existente por si mesmo, o inicio absoluto e o fim em si e por si... é o movimento pelo qual o espírito inteiro chega ao conhecimento daquilo que é em si mesmo ou imediatamente e por isso a figura na qual ele aparece à sua consciência iguala-se de modo completo à sua essência, de tal modo que lhe se intui tal como é.”
Schleiermacher define religião como “a consciência que nós temos de nós mesmos como (seres) absolutamente dependentes.”
Em suma a religião tem a ver com o sentido último da pessoa da história e do mundo (Urbano Zílles)
2. Sujeito e objeto da religião
“A definição, como se vê, compreende dois elementos, um a respeito do sujeito e outro a respeito do objeto.” (B. Mondin, 1980)
A religião é um fenômeno existencial eminentemente humano ao ponto de Feubach, mesmo sendo um critico da religião, afirmar que a religião repousa na distinção essencial entre homem e animal, pois os animais não tem religião. Nesse fenômeno se estabelece uma relação entre sujeito e objeto sagrado.
Objeto sagrado é o Eu transcendental, o incondicionado, no Cristianismo é Deus.Objeto sagrado porque é o totalmente outro separado de toda criação, inviolável que deve ser respeitado, reverenciado e temido pelos crentes.
A sacralidade desse Sujeito (Deus) é objetiva, ou seja, é em si e por si. Não surge de uma relação nem numa relação, mas do próprio Deus que É eternamente, como um ser infinito e absoluto, auto-existente e absolutamente independente.
“O aspecto objetivo é a força majestosa, maravilhosa, importante, fascinante ou terrificante, própria dessa realidade.” (Batista Mondin,1980)
O sujeito, puro e simplesmente, é o homem. Criado imagem e semelhança de Deus. Pressupondo dessa forma que o sentimento religioso e a experiência religiosa é imanente ao homem no ato de sua criação, não podendo o homem escapar dessa condição mesmo com a evolução de consciência pela qual passou. No fundo, percorrendo caminho diferentes muitas vezes divergente, ele almeja o Totalmente Outro, Deus.
“Fizestes-nos para Vós, Senhor. Inquieto está o nosso coração, enquanto não repousar em vós”. (Sto Agostinho)
“Daí-Vos a mim, ó meu Deus; entregai-Vos a mim. Eu amo-vos; e, se ainda pouco, fazei que Vos ame com mais força. Não posso avaliar quando amor me falta para ter o suficiente a fim de a minha vida correr para vosso regasso e não sair dele enquanto se não esconder nos segredos do vosso rosto.” ( Santo Agostinho)
Essa inquietação agostiniana de querer com profundidade Deus é primordial e revela a essência de homo religiosus, isto é, o sujeito da religião. Só quando o homem intenciona e caminha ao encontro de Deus (objeto) é que se torna sujeito.
3. Relação sujeito e objeto no ato religioso
A religiosidade é um fenômeno universal. Como observam os antropólogos e historiadores, na mais primitiva sociedade humana é possível encontrar vestígios dessa religiosidade. Vivenciada na escopo cultural de cada sociedade.
Na relação homem e Deus, a subjetividade na adoração, a reverencia,o respeito, a submissão a Deus é, preponderante no ato religioso, no qual subjaz a particularidade....
“quando é emotivamente atigindo e atraído pelo objeto e entrar em contato pessoal com ele.” (Mondim)
Um outro aspecto dessa relação é a total dependência do homem ao Ser Supremo. Total dependência que em algumas sociedade abarca toda a vida individual ou coletiva (sócio – política – econômico – cultural). Esse aspecto demonstra não só a submissão e a subordinação, mas o estado de quem não pode prover sua subsistência dependendo inteiramente da ação de Deus na contidianidade . Isso acontece mediante ao ato de fé (Paul Tillich), a certeza que o homem tem de quem é o Ser Supremo e do que é capaz. Abrão é um clássico exemplo, porquanto Deus pediu Isaque como sacrifício. Assim o faria se Deus não intervisse, pois Abrão sabia que Deus é poderoso até para ressuscitar Isaque dos mortos.
A submissão é vivenciada na mitologia só que motivado pelo medo que os homens tinham da ira dos deuses. Nas seitas esotéricas pessoas que não saem de casa sem consultar o mapa astral submissão que chega ao ponto da irracionalidade e da inconseqüência.
Outro aspecto é do respeito e da reverência ao Ser Supremo que é sagrado o qual se distingui e se distancia do outro. Daí se ajoelhar ou ficar de pé para orar ou ler as sagradas Escrituras, não se apresentar de qualquerr forma diante d’Ele ( Deus), no templo ou no espaço sagrado. Por isso Moisés tirou as sandálias ao falar com Deus na sarça ardente.
Na relação Deus e homem é notório a soberania daquele. A história da humanidade é também a história dos atos soberanos de Deus. A ação de Deus não depende do estimulo do homem bem como, as conseqüências os efeitos da ação.
“A autoridade de Deus não é limitada por nada fora dele mesmo, mas é controlada, em todas as suas manifestações, por suas infinitas perfeições.” (Hooge, 2001).
“(...) assim como os direitos de Deus não se originam da necessidade, nem do capricho ou vontade arbitrária, mas são baseados em Seu santo e sábio conselho, assim também a soberania de Deus não é exercida na base da vontade arbitrária, mas no Seu sábio e santo conselho.” (Thiessen, 1999)
Segundo Hodge, a luz das Escrituras fica evidente que:
1. A soberania de Deus é universal;
2. Ela é absoluta; e,
3. Ela é inevitável.
É exercida da seguinte forma:
1. No estabelecimento de leis físicas e morais pelas quais todas as criaturas são governadas;
2. Na determinação da natureza e dos poderes das diferentes ordens dos seres criados e na designação de cada um em sua esfera apropriada;
3. Na designação de cada individuo em sua posição e sorte; e,
4. Na distribuição de seus favores. Ele faz o que quer, onde quer, como quer, com o que é seu.
Dessa forma nota-se a soberania de Deus, direta no ato da criação e indireta, na crucificação de Cristo.
Outro aspecto é da providencia que é ação continua de Deus pela qual mantém a criação. Ele não só criou todas as coisas, mas providencia a existência delas.
II Análise psicológica
Especificamente tratar-se-á do fenômeno da experiência religiosa no aspecto psicológico, elucidando, mesmo que restrito, pontos essenciais dentro do desenvolvimento humano.
Há um interesse muito grande por parte de pastores pela psicanálise psicologia. A influencia dessas áreas de conhecimento sobre a atividade pastoral é notória não na forma de lidar com os problemas existenciais dos membros de suas igrejas, mas como se portam durante os cultos principalmente na hora da prédica quando os membros se transformam em pacientes levados a se comportarem e sentirem sensações conforme o comando do orador. As pessoas saem regozijadas pela “profunda” experiência que lograram com Deus. Passam-se os dias tudo volta ao normal. Aqui algumas perguntas são inevitáveis. A experiência religiosa profunda é efêmera? A sensação é fruto de uma experiência religiosa? Será o sensacionalismo um perigo a uma experiência religiosa significativa?
Para Frank S. Hichman, citado por Merval Rosa em Psicologia da Religião, diz as fases das experiências religiosa são abolição, o sentimento e o pensamento. O que torna difícil perceber a diferença da experiência religiosa são a volição, o sentimento e o pensamento. O que torna difícil perceber a diferença da experiência religiosa de qualquer psicológica “pelo menos no que diz respeito às suas características fundamentais” (Rosa, M.). Contudo, Johnson, também citado por Merval, diz que há três características distintas da experiência religiosa, são elas:
1. é uma experiência que envolve a idéia de valor, uma preferência por interesse e necessidades dignas de ser alcançadas;
2. tem uma referência divina; um esforço objetivo na direção de um valor supremo e fonte de valores eternos;
3. é uma resposta social; nela dá o confronto do homem com o tu numa relação potencialmente criativa.
1. Tipos de experiência religiosa
A experiência religiosa é diversificada por causa das circunstâncias em que se deu essa experiência, o ambiente e a ambiência em que ela é fomentada e retro alimentada etc. Mesmo nessa variedade é possível constatar elementos de uma em outra. Não devem ser tomadas como estágio o que não significa que com a maturidade ou uma nova experiência não possibilite o individuo ter outro tipo de experiência.
Em Psicologia da Religião, Merval Rosa usa a classificação de Erwin R. Goodenough e Paul Johnson.
Para o primeiro, a experiência religisosa pode ser:
* Legamismo - “a aceitação de qualquer código que se crê incormporar ‘o certo’, ‘os bons costumes’, aceitando esse código como norma absoluta. Essa atitude se torna uma experiência religiosa quando, por haver obedecido o código, o homem experimenta a sensação de retidão interior e de segurança exterior para com o próximo, com ‘o certo’ ou com Deus”.
Porém, quando o individuo desobedece ao código é acometido por um sentimento de culpa aplacado não pelo perdão, sim, pelo cumprimento do dever imposto pelo código.
*Supra-legalismo – “o homem mesmo estabelece seu ideal e se torna, por assim dizer, sua própria lei. O supra-legalista não ignora os códigos vigentes, mas lhes dá uma interpretação muito mais pessoal.”
*Ortodoxia – “(...) se preocupa com a forma correta do pensamento. (...) A característica por excelência da experiência ortodoxa é a pretensão de que só tornam intolerante e fazem da correção do seu pensamento um fim si mesmo. (...) Ortodoxia como norma de coerência na vida religiosa do homem pode ser algo altamente criativa. Ela é maléfica apenas quando se torna um fim em si e funciona como mecanismo de defesa caracterizado pela intolerância, rigidez da forma e imaturidade religiosa do individuo.”
*Supra-ortodoxia – “geralmente começa com uma experiência emocional. Mas logo se expressa em forma de idéia. O supra-ortodoxo tem aversão às formulações de outros. Ele pode usar pontos dessas formulações de outros, porém elas o satisfazem apenas na proporção em que se enquadram no seu esquema pessoal. A maior satisfação do supra-ortodoxo não reside na propriedade de sua idéia, ela é sua. (...) A semelhança do ortodoxo, ele procura segurança, mas esta lhe vem da sua própria criatividade intelectual”.
*Estética – A que é produzida por várias formas de arte desde que tenha referência ao divino ou do sobrenatural. Ela se divide em duas: o que cria o artista e do que participa indiretamente.
* Símbolo e sacramento – muito disseminada pelo catolicismo, faz de qualquer rito ou símbolo que comunica beneficio religioso um sacramento pelo qual objetiva e torna tangível o Tremedum. Esses ritos e símbolos bem como os sacramentos só têm significados na comunidade religiosa que estão inseridos.
* Conversão – “Dependendo do ambiente em que o individuo vive e dos vários aspectos de experiências prévias, a conversão religiosa pode dar-se como algo momentâneo e quase sempre acompanhada da mudança dramática e radical na vida do homem ou pode acontecer como processo gradual marcado por um ponto que é considerado pelo individuo como momento de sua conversão”.
Para os estudiosos dessa temática a conversãopassa por quatro estágios: o período de inquietação, o critico, o de paz, que segue a solução da crise e o da expressão concreta do comportamento.
Já segundo Johnson, tem-se:
* Individual versus social – para o primeiro a religião é um fato pessoal ao ponto de se isolar para ter sua experiência com Deus. Para o segundo é uma experiência social.
* Ativo versus passivo – num, o individuo se ocupa, no outro, vive no silêncio e na quietude.
* Formal versus informal – para muitos indivíduos, o ritual, a ornamentação e os símbolos constituem parte integral de sua religião. Outros preferem a simplicidade tanto do santuário onde se cultua como do ritual e ornamento.
* Conservador versus progressista – A religião é vista como forma de conservar os valores do grupo ou da sociedade já o progressista,é aberto a mudanças.
* Tolerante versus intolerante – um é aberto ao diferente e respeita a religião e a idéia dos outros. O outro se porta como detentor da fé verdadeira.
* Afirmativo versus negativo – um enfatiza a verdade, a bondade, e não tanto o pecado, porém, a negativa ressalta a desconfiança na natureza humana, o pecado, o pessimismo e as proibições.
2. O comportamento religioso
Os diversos tipos de experiência religiosa se expressa através do comportamento religioso que é todo ato ou atitude referente ao sobrenatural.
Para Walter H. Clark, há três categorias de comportamento:
O primário no qual o individuo procura harmonizar sua vida com o divino depois de uma profunda experiência com o divino.
O secundário é resultado de hábitos que pode emergir do interior do individuo tendo importante e construtivo significado quando não é apenas um comportamento religioso.
O terciário não passa de uma rotina ou convencionalismo ou quem sabe conformismo a uma tradição religiosa.
3. O que pensam os psicólogos
Nos fins do século XIX e principio do século XX a psicologia se interessou pelo fenômeno religioso daí tem-se várias interpretações psicológicas desse fenômeno. Diante às varias considerações apresentaremos quatro.
Freud procurou explicar a experiência religiosa em termo dos conflitos que o ser humano experimenta no processo de seu desenvolvimento psicológico, isto é, uma regressão à dependência infantil.
A raiz da necessidade religiosa está no complexo paterno-materno. Para Freud, Deus não passa de uma imagem magnificada do pai.
Em um dos seus trabalhos Freud tencionou mostrar as semelhanças entre as neuroses obsessivas e as cerimônias religiosas. São elas:
a. Grande receio quanto às aflições da consciência, causadas pelo não cumprimento das cerimônias neuróticas ou dos ritos religiosos;
b. A completa isolação de outras atividades;
c. A minuciosidade com que são tratados e a escrupulosidade com que se praticam os atos religiosos;
d. O sentimento de culpa.
e. A renúncia de instintos.
f. Elementos de compromisso;
g. Existência de um mecanismo de deslocamento ou transferência;
Ainda segundo Freud, a religião é uma projeção dos desejos do homem é uma ilusão por não permitir que os homens enfrentarem objetivamente a realidade fazendo-os recorrer a fantasias. Contudo....
“O amadurecimento emocional do homem torna a religião desnecessária. A mente madura não necessita do subterfúgios da religião: enfrenta a realidade objetivamente.”
(Merval, R.)
Já Jung vê a experiência resultante do inconsciente coletivo que é composto de energia dinâmicas e de símbolos de significação universal. A experiência religiosa é fundamental ao funcionamento harmonioso do psiquismo e ajuda o homem a compreender realidades do universo que não podem ser conhecidos de outras maneiras.
Alport vê na religião um fator de integração da personalidade. A experiência religiosa é algo essencialmente pessoal, sujeito às leis de evolução psicológica, e seu aspecto intelectual é mais importante do que o emocional. A religião é fator importantíssimo na integração da personalidade. A religião é o esforço do homem em unir-se à criação e ao criador com o fim de ampliar e completar sua própria personalidade.
Em Anton Boisen a experiência religiosa tem basicamente a mesma dinâmica da esquizofrenia. Tanto a esquizofrenia como a experiência religiosa profunda são tentativas à integração do eu. Quando a personalidade se vê ameaçada ao ponto de sua desintegração, recorre ao método mais eficaz para evitar a catástrofe. A diferença fundamental entre as duas está nos resultados. Quando a tentativa é bem sucedida, tem-se uma experiência religiosa ao contrario tem-se a insanidade.
III A religião no crivo da filosofia
Após ter demonstrado aspectos psicológico do fenômeno religioso pretende-se aqui apresentar a visão de alguns filósofos sobre a religião.
“Defronte a tal questão, os filósofos modernos perfilaram-se em duas fileiras apostas. De uma parte, alguns procuram mostrar que a religião é privada de qualquer fundamento objetivo (...) De outra parte, outros defendem o valor objetivo da religião”. ( Batista M., 1980 )
Feurbach vê na religião a diferença essencial entre o homem e o animal. Mas o que é religião para ele? Religião é o comportamento do homem perante seu próprio ser infinito. O homem é fundamento; sujeito e objeto do fenômeno religioso. Deus não passa de uma projeção. É uma excogitação humana em direção de sua plena realização, logo, a realidade suprema não é Deus, mas o homem.
“Feuerbach argumenta que a religião tem origem em processo hipoestático das necessidades e dos ideais do homem”. ( Batista M., 1980 )
Em Feuerbach o homem religioso aliena-se a si mesmo não se compromete com sua presença no mundo com suas contingências resigna-se frente a elas por causa da esperança celeste.
“Quando a vida celestial é uma verdade, e a vida terrena uma mentira, quando a fantasia é tudo, a realidade não é nada. Quem crê numa vida celestial eterna, para ele esta vida perde o seu valor”. (Feuerbach)
A alienação religiosa é tomar como Deus algo que, na verdade, é apenas expressão do próprio homem, ilusão, ídolo.
“Deus é homem, o homem é Deus”.
(Feuerbach)
Há uma estreita identificação entre o homem e Deus, Deus e homem; amar a Deus é amar o homem, odiar a Deus é odiar o homem assim como adorá-lo, valorizá-lo, renegá-lo etc. negar ou não a existência de Deus é negar a existência do homem. O homem em sua experiência religiosa tem uma relação Eu e Eu não, Eu e Tu, porque Deus é a manifestação do interior do homem.
“O homem criou Deus à sua imagem e semelhança”
(Feuerbach)
Kant, não nega nem põe em dúvida o valor objetivo do fenômeno religioso. Ele funda essa experiência na razão pratica concebendo uma visão moralista da religião pois, para Kant, a única verdadeira religião é a moral.
“A verdadeira religião apenas encerra leis ou princípios práticos de necessidade absoluta. Seu único culto é cumprir o dever moral como mandamento de Deus. Fora da boa conduta, para Kant, tudo o que os homens crêem poder praticar para se tornarem agradáveis a Deus é pura ilusão religiosa e falso culto”. (Urbano Zelles, 1991)
Ainda segundo Urbano, Kant funda o principio da consciência como fio condutor da fé, para o qual há de três tipos fé ilusória ao ultrapassarmos o limite da razão.
1. A herança nos milagres como superação das leis da experiência empírica;
2. A ilusão pela qual se admitem realidades alem dos conceitos racionais ou a crença nos mistérios;
3. A ilusão que nos leva a empregar meios naturais para produzir o efeito de procurar a influência sobrenatural de Deus sobre nossa moralidade ou a crença nos meios da graça.
A visão Kantiana, puramente moral da religião fica elucidada na afirmação de que “a religião é o conhecimento de todos os nossos deveres como mandamentos”.
Em Bergson a religião tem uma função positiva nos confrontos da ciência. Ele distingui entre religião estática e religião dinâmica.
A primeira é o resultado da função fabuladora qual “se desenvolve durante a evolução por objetivos eminentemente vitais” (Reale). Reforça os laços sociais dos homens com seus semelhantes evitando que sejam destruídos pela inteligência que conduz de proporcionar ao homem uma esperança da vida eterna.
“Oferece ao homem a idéia de defesa contra a imprevisibilidade e a precariedade do futuro e lhe dá o sentido de proteção sobrenatural e a crença de poder influir sobre a realidade, especialmente quando a técnica se mostra impotente”. (Reale e Antiseri, 1991)
Dessa forma, a religião é a defesa contra a ameaça da inteligência sobre o homem e a sociedade. Para Reale a religião estática é natural e infra-intelectual.
A segunda é a religião dinâmica supra-intelectual. É a experiência mística que é o impulso para ação no mundo fazendo com que o amor de Deus seja amor pela humanidade. Além disso, a experiência mística, a intuição mística é que nos coloca em contato com Deus. O ser supremo sendo, portanto, a única fonte de provar a existência de Deus. O misticismo bergsiano é ativo em vez de contemplativo como é o dos neoplatônicos e do misticismo oriental.
A experiência mística, segundo Bérgson, é possível a todo o homem, pois o misticismo vive em seu espírito.
Willian James também foi hábil defensor do valor e do significado da experiência religiosa que põe o homem em contato com Deus mudando sua vida. A experiência mística, segundo James, é o momento mais intenso da vida religiosa, pois amplia o campo perceptivo, abre novas possibilidades desconhecidas ao controle racional (Reale e Antiseri).
Em Max Scheler é na experiência religiosa que se tem a revelação do Sagrado. O homem só terá o conhecimento de Deus em Deus não em pensamentos metafísicos.
“O Deus da consciência religiosa existe e vive exclusivamente no ato religioso, não no pensamento metafísico, baseado em conteúdos e realidade extra-religiosa”. (Scheler)
A religião não tenciona respostas racionais para a existência nem para o que faz todas coisas existirem. Mas, meio, para que o homem possa se relacionar com o Deus pessoal visando a salvação.
“A religião não tende para o conhecimento racional da realidade originaria, mas é a salvação do homem através da comunhão de vida com Deus, uma divinização”. (Scheler)
Por fim, Geradus van der Leeuw vê na experiência religiosa a busca pelo sentido último da vida. Ao contrário de Feuerbach e Marx, o homem religioso, não é alienado de sua mundanidade e de sua contingência existencial, mas reconhece-a não aceita o mundo em que vive, preocupa-se com ele, procura-lhe um sentido; sentido ultimo encontrado na fé. Ter fé é ter confiança.
“Assim apresenta o homem que crê em Deus, obedece à sua verdade e tem confianca”. ( Gerardus)
(Gerardus)
O homem religioso na busca pelo sentido ultimo percorre dois caminhos: horizontal e vertical. No primeiro o homem encontra limite intransponível se depara com o mistério. A segunda é a revelação que vem do alem desse limite.
BIBLIOGRAFIA
MONDIN, Batista. O homem quem é ele? Elementos de Antropologia filosófica, Paulus. 10ª edição, 1980. São Paulo.
-Quem é Deus? Elemento de teologia filosófica. Paulus, 1997, São Paulo.
OLIVEIRA, Manfredo e ALMEIDA, Custódio, O Deus dos filósofos modernos, Editora Vozes, 2002, Petrópolis – Rio de Janeiro.
REALE, Giovanni e Antiseri, Dario, Historia da filosofia. Vol. III, Editora Paulus, 5ª edição, 1991, São Paulo.
ROSA, Merval, Psicologia da Religião, editora Juerp, 1971.
ZILLES, Urbano, Filosofia da religião, editora Paulus, 3ª edição, 1991, São Paulo.