DROGA É PLACEBO!

Temos textualmente no dicionário Aurélio Séc. XXI, para o termo droga: "Substância entorpecente, alucinógena, excitante, etc., como, p. ex., a maconha, o haxixe, a cocaína, ministrada por via oral, ou outras, ger. com o fito de que o usuário passe, primariamente e em caráter transitório, a um estado psíquico que lhe pareça agradável: 5.  Fig. Coisa de pouco valor".

O que falta à sociedade atual é encarar as coisas com uma visão simples. Droga é droga. O nome já nos explica acerca de seus efeitos: entorpece, transitoriamente, lança-nos num estado passageiro que parece agradável e real. Mas não é! E vem daí o grande engodo! Porque sentir-se bem significa a plenitude originada na normalidade, na completude, no singularismo cotidiano de nós mesmos. Brota de dentro, não de fora! Mas a inversão dos maiores valores da vida foi a tal ponto enxertada nas mentalidades com as falsas noções que nos foram vendidas pelos interesses dominantes e obscuros dos nossos tempos, que no fim das contas o bem estar a partir da naturalidade do ser, pura e simples, passou a ser obsoleto!

De fato, a sociedade consumista, especializada em transformar o ser humano em objeto, convenceu a muitos de que o indivíduo em si, como extensão pura e simples do maior milagre que nos rodeia - a Vida! - não tem nenhum valor! Deve-se ambicionar ser mais; e o que é ser "mais"?! É ter mais: top model; ator ou atriz; pop star; campeão de fórmula 1 ou de futebol, em times estrangeiros. Luta-se a qualquer preço para se atingir alguma coisa externa que satisfaça estes parâmetros. Mas como para a grande e esmagadora maioria da população o que se impõe é colocar os pés no chão da própria realidade para se encarar que não é assim que vai ser... surge a necessidade de fuga.

Afinal quem sou eu?! Para o que, diabos, serve a minha vida?! Lavar panelas?! Cuidar da casa?! Ir e voltar durante mais de trinta anos para um serviço insípido a fim de ter assegurada somente a própria subsistência, e nada mais do que isso, e com pouco, ou nenhum lazer?!...

E é a partir de uma tal conjutura que o ser humano se desgoverna. Entorpecido pela lavagem cerebral monumental que o convenceu de que falhou fragorosamente na batalha épica do se ter algo a mais além de si mesmo, vindo de fora - visto que este si mesmo perante o status quo reinante foi relegado à obscuridade, passando a ser nada - há que, de algum modo, se preencher este nada devorador! O indivíduo é nocauteado por uma sensação arrasadora de falta de objetivos e de sentido em si mesmo, e na existência como um todo. Pois se não há a mínima chance de se enquadrar no padrão de valores dominante criado para o mínimo de respeitabilidade social, que fazer?!

É neste ponto crucial que o homem tem transitoriamente deletada de sua consciência a noção de seu real valor e escapole para o placêbo - enganador, fatal, funesto, auto-destrutivo! - do uso das drogas!

Imerso no embriagamento nefasto da química letal, perde-se de si mesmo, e da noção da própria dignidade, que lhe é inerente desde o seu primeiro hálito vital! Esquecido de que o seu valor é intrínseco, e de que a fonte de toda a sua potencialidade criativa para ser feliz reside dentro - não fora! - na sua fragilidade dalma momentânea atira-se ao recurso pobre, massa de manobra voraz, sinistra, que movimenta as indústrias do crime organizado no mundo ao preço macabro da vida humana. E de resto, de valor duvidoso na produção temporária das visões criadas pelo estado doentio do entorpecimento da mente, substituta indigna da real plenitude advinda da saúde de corpo e de espírito obtida justamente nos segredos simples do dia-a-dia comum: na apreciação devida das atividades cotidianas compartilhadas pelos que amamos; nos cuidados de um jardim, no conserto daquela mesa velha da qual não queremos nos desfazer porque é a nossa preferida. Nas piadas contadas num domingo em família, num céu azul esplendoroso, na brincadeira de cosquinhas sobre a cama com um filho; no aprendizado da convivência do trabalho diário, no auxílio a um amigo; no ser auxiliado por um amigo...

Todavia, é preciso amor no coração para a percepção clara dessas coisas; imprescindivel que não nos percamos da verdade eterna, única, de que o que levaremos deste mundo na hora crucial será justo o mais simples: o mesmo que éramos ao vir a ele, acrescido de um pouco de aprendizado na bagagem. Não mais!

Hoje o noticiário nos diz da mãe infeliz que teve a filha pequena assassinada justo pelo seu parceiro de consumo de crack. Perdida a guarda do outro filho, teve arruinada a sua vida.

Pergunta-se: que grande objetivo conquistou-se com isso?!

Droga é droga. Da aparentemente mais inofensiva à mais letal! Sobretudo, placebo* enganoso para a cura das graves doenças da alma existentes em todos os tempos e cuja causa maior reside no desamor, pela vida existente em tudo - pelo milagre da vida em si mesmo!

*Placebo é medicamento inócuo, sem efeito químico de nenhuma espécie, usado muitas vezes para emprestar a hipocondríacos sadios a certeza de que está sendo tratado de suas doenças imaginárias. 


 

Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 23/11/2008
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T1299157
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