A música na Igreja

Existe uma questão seriíssima a ser resolvida em nossas igrejas, problema este que muitas das vezes separa pessoas, divide opiniões e enfraquece a unidade da igreja de Cristo. Gostaria de vos apresentar a música, a protagonista de todas as situações descritas anteriormente.

Alguns poderão estar se perguntando: a música teria este poder, ela não é apenas uma expressão cultural? Responderia que sim, a música em si é uma expressão artística derivada da cultura, tanto é que o tipo de música você gosta é determinado pela sua bagagem cultural. Alguns tipos de sons e ritmos soam agradáveis para os ouvidos asiáticos, outros soam agradáveis para os ouvidos de pessoas do oriente médio e assim por diante, os africanos gostam de ritmos diferentes dos europeus! A música nos dá um exemplo da criatividade infinita de Deus existente em nós seres humanos.

Os problemas causados pela música nas igrejas não estão relacionados à sua expressão artística cultural, mas sim no poder que damos a determinada cultura. Insistir que toda “boa” música foi escrita na Europa há duzentos anos é puro elitismo cultural. Não existe nenhuma base bíblica para esse ponto de vista. Dependendo de onde cresceu, você gosta de jazz, blues, forró, pop, samba ou rock. Nenhum desses estilos é “melhor” ou “pior” do que outro. As igrejas precisam admitir que não existe um estilo de música em particular que é “sagrada”.

O que faz uma música sagrada é a sua mensagem. A música não é nada mais do que um arranjo de notas e ritmos. São as palavras que fazem uma música espiritual. Não existe música cristã, mas, sim, letras cristãs. Insistir que um estilo de música em particular é “sagrado” é idolatria.

Já ouvi a expressão: “Precisamos voltar às raízes musicais”. Fico me perguntando quanto tempo para traz essa pessoa quer ir. Voltar para o canto gregoriano? Voltar para as melodias da igreja de Jerusalém? Normalmente essas pessoas só querem voltar 50 ou 100 anos.

As igrejas do novo testamento usavam o estilo de música que combinavam com os instrumentos e a cultura daqueles dias. Eles não tinham pianos ou órgãos para acompanhá-los, a música da época não soava como a música de nossas igrejas.

A música “Castelo Forte”, hino composto por Martinho Lutero, é emprestado de uma canção popular cantada nos bares de sua época. Charles Wesley usava as canções populares das tavernas e casas de ópera da Inglaterra. John Calvino contratou dois músicos seculares para colocar sua teologia em música. A rainha da Inglaterra estava tão aborrecida com essas “canções vulgares” que se referia agressivamente a elas como as “cantarolas de Genebra” de Calvino!

As canções que consideramos clássico-sagradas já foram criticadas, assim como a música cristã contemporânea. Quando “Noite Feliz” foi publicada, George Weber, diretor musical da Catedral de Mainz, a chamou de vulgar, vazia de religiosidade e sentimentos cristãos. Charles Spurgeon, conhecido como príncipe dos pregadores, detestava as canções contemporâneas de seus dias, as mesmas que hoje reverenciamos.

Talvez o mais difícil de acreditar é que o “Messias” de Handel foi amplamente condenado como um “teatro vulgar” pelos religiosos de seus dias. Como os críticos contemporâneos de hoje, a canção “Messias” foi rotulada como tendo muitas repetições e pouca mensagem. O “Messias” contém quase cem repetições da palavra “aleluia!”.

Mesmo a consagrada tradição de cantar hinos, em outros tempos foi considerada “mundana” em igrejas batistas. Benjamin Keach, um pastor batista do século 17, é visto como o introdutor de hinos nas igrejas batistas Inglesas. Ele começou a ensinar as crianças, mas logo foi proibido pelos pais que não gostavam de cantar os hinos. Em 1673, finalmente, ele conseguiu que concordassem a cantar um hino depois da ceia do Senhor. Seis anos depois, em 1679, a igreja concordou em cantar um hino em “dias de ação de graças”. Mais catorze anos se passou antes da igreja concordar que cantar hinos era apropriado para adoração. Mesmo assim 22 membros de sua igreja saíram para uma igreja não cantante.

Uma de nossas fraquezas, como evangélicos, é que não conhecemos a história da igreja. Por isso, começamos a confundir nossas tradições atuais com ortodoxia.

Muitas ferramentas e métodos que usamos na igreja hoje, como: cantar hinos, utilizar pianos e órgãos, fazer apelo e mesmo a escola bíblica dominical, já foram considerados mundanos e até mesmo heréticos. Agora essas ferramentas são amplamente aceitas. Entretanto, temos uma nova lista negra. As objeções de hoje são: bateria, guitarra, dança e estilos musicais variados.

Que possamos ser transformados pela renovação do nosso entendimento, para que experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, que não esta presa a nenhum preconceito ou exclusivismo cultural.