NESTOR TANGERINI, MEU PAI

“EU SOU DE PIRACICABA”

1937...

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Estupenda! prossegue em cartaz, e Nestor Tangerini é entrevistado por um jornal paulistano:

“Theatros

PROSCÊNIO

DUAS PALAVRAS COM Nestor Tangerini, o brilhante autor

e diretor artístico da Companhia Jardel Jércolis

Nestor Tangerini é um nome que o cronista conhece já de há alguns anos, por ocasião de viagens ou temporadas na capital da República.

Foi, pois, com certa surpresa que vimos novamente o seu nome, ligado ao de Jardel Jércolis, mas desta vez em cartazes paulistanos, encabeçando uma peça de alta montagem como é essa admirável Estupenda.

Impunha-se uma entrevista com o talentoso autor de tantos triunfos teatrais. Pretextamos um café e entramos em contato com o homem.

Tangerini destaca-se logo pela surpreendente modéstia que é o característico de todos os artistas de másculo poder criador. Despido de pose, dessa atitude estudada e imponente que sublinha logo as mentalidades ocas, Tangerini palestra com o jornalista com a mesma simplicidade, mas com o mesmo interesse cheio de curiosidade com que fala aos atores sob sua responsabilidade, na preparação de um papel ou de um programa.

O seu falar trai logo o cidadão carioca apoiado num r flagrantemente fluminense. Mas surpreende novamente o repórter quando diz com vago e justificado orgulho:

- Sou paulista de Piracicaba...

E passa a contar pedaços de sua vida na grande metrópole. Das suas lutas no teatro, e principalmente nos seus bastidores. Sim, porque o ambiente teatral, tanto no Rio como em Pequim, o autor, o ator, o diretor de companhia, lutam duas vezes: para viver e para não serem eliminados do cenário... As rivalidades são muitas e é preciso ter uma grande força de vontade, uma tremenda noção de independência para não naufragar ante as rabanadas traiçoeiras dos tubarões ocultos.

Mas Tangerini soube vencer duas vezes: na vida do palco e no palco da vida...

Um detalhe interessante de sua paixão pela arte pura. É bacharel em direito, foi professor de português, mas preferiu renunciar a uma cômoda e garantida posição para dedicar todo o seu esforço e toda a sua inteligência à arte que, no dizer do poeta, só é estimada por quem a sabe.

Era uma vocação e Tangerini não resistiu ao seus chamados. Desde 1924 que se dedica ao teatro com uma paixão e um entusiasmo crescentes.

No Rio, entre inúmeras outras peças, levou à cena, com retumbante êxito, as revistas Ganhando Tempo e Cadeia da Sorte, que permaneceu longa temporada no Recreio.

Depois firmou-se mais ainda nos círculos litero-teatrais da grande metrópole, fornecendo à cena essas duas jóias da revista moderna que são Tudo pelo Brasil! e Teu Corpo é Meu, lançados respectivamente no João Caetano e no Rialto.

Mais tarde, a grandiosa revista Pra Deputado, no Renascença, e o sainete Missão Doméstica, no Paris, elevaram seu nome a uma altura que ele próprio não esperava, entre os escritores máximos da nossa atual geração de autores teatrais.

São sem número as peças que passou a fornecer a todos os palcos da capital da República, todas elas marcando ruidoso e definitivo triunfo. Agora, com o repertório de Jardel, Nestor Tangerini trouxe essa Estupenda! que a crítica e o público tão bem receberam, além de Magnífica, anunciada para Sexta-feira próxima e a sensacional Tabuleiro da Baiana, destinada a um sucesso excepcional.

O diretor artístico da Companhia Jardel tinha pressa. Mas já matara a insopitável curiosidade do cronista...”

- Jean Cocquelin

De um recorte / Jornal não identificado / São Paulo, 24.2.1937.

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No tabuleiro da baiana faz sucesso em São Paulo

“O Tabuleiro da Baiana em homenagem

a colônia portuguesa, hoje, no Santana

As sessões desta noite, no Santana, vão ser duplamente festivas: Em primeiro lugar porque Jardel Jércolis as dedica à colônia portuguesa, como homenagem ao aniversário da batalha de La Lys, em Armentiers, na França, na qual o glorioso exército luso escreveu mais uma brilhante página de sua história: depois porque o elenco de Jardel vai representar, pelas primeiras vezes nesta temporada, uma nova revista – No Tabuleiro da baiana – da autoria daquele festejado homem de teatro, em parceria com Nestor Tangerini. No Tabuleiro da Baiana é uma revista escrita para o Carnaval de 1937 e foi a última peça representada no Rio de Janeiro, antes da vinda da Companhia de Jardel para São Paulo. Seu sucesso, naquela capital, ultrapassou as melhores expectativas, pois permaneceu em cena mais de um mês seguido, só sendo retirada do cartaz pela chegada do Carnaval e a próxima partida da companhia para aqui. Trata-se, portanto, de um reflexo vivo dos momentos de delírio a que se entrega a população carioca, no tríduo de Momo. As canções de maior agrado neste último carnaval figuram em No Tabuleiro da Baiana, inclusive a que dá o nome à peça e que fará a sua rentrée nesta temporada, interpretada pelos seus oradores: Déo Maia e o Grande Otelo. Além disso, a revista é muito engraçada, sendo seus quadros, na maioria, salpicados de verve fina e irresistível, possuindo também boa dose de fantasia.”

Jornal ACÇÃO,

São Paulo, SP, 9/4/1937.

Arquivo família Tangerini:

nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 19/11/2008
Código do texto: T1291452