Vítimas e criminosos
Todos nós temos a propensão natural de sempre buscar um culpado para o que ocorra de errado, seja no segmento que for, a partir da família, passando pelo ambiente de trabalho e indo ao sistema social, como um todo. Temos prazer em descobrir e apontar culpados. Na verdade, às vezes a identificação da culpa e de seus agentes vai além do simples ato de apontar o dedo na direção de alguém. Em muitos casos, e especialmente no campo do sociopolítico, a culpa pode vir inserta no sistema, na ação ou na omissão.
Recentemente, tivemos o caso da pequena Rachel, de nove anos, que foi morta por um maluco qualquer e colocada dentro de uma mala, junto ao terminal rodoviário de São Paulo. Ora, matar uma criança, com violência sexual ou não, e depositá-la em mala é um grito contra a justiça, a segurança e à formação pessoal, social e religiosa não só do agente desse ilícito mas de todo o estamento onde ele interage. Quando a sociedade é atingida por um crime desse tipo – e os que acontecerão nas semanas subseqüentes – toda a sociedade é vítima, por indefesos e expostos.
Mas, se de um lado somos vítimas, de outro nos cabe também a carga de culpados, por omissos, egoístas, covardes (não adianta reclamar, não vai adiantar nada) e também por incompetentes em eleger uns sacanas que não nos protegem nem legislam a nosso favor. A sociedade também é criminosa na medida em que se omite.
O Brasil possui uma justiça ineficaz, débil, caquética, muitas vezes comprometida com a omissão ou intimidada pelo crime. Deste modo, pequenos protestos aqui e ali, quando não reprimidos pela polícia que devia nos proteger, nada é feito. Há tempos o governo instituiu uma “campanha de desarmamento”. Muita gente, como uns patinhos foi lá e entregou suas armas. O resultado foi um grotesco tiro-no-pé: aumentou a violência e os bandidos agradeceram a ajuda dos “parceiros”. E tudo está como o diabo gosta.
Criminosos são os governos de todos os níveis que desviam verbas e criam novas formas de achaques. O ICMS e o IPVA, que deveriam manutenir estradas vão para “outros fins” e o contribuinte tem que pagar pedágios (uma bi-tributação) para escapar das armadilhas assassinas de nossas rodovias estaduais e federais.
Diariamente somos vítimas ou alvos de incursões de larápios individuais ou em quadrilha. Sem ser cliente da operadora Telefônica, recebi uma cobrança, sobre duas pretensas ligações (2006 e 2007) no valor de R$ 70,50 com a ameaça de SPC e Serasa. Liguei para lá e a ligação não se completou. Tenho certeza que é golpe. O ladrão pensa assim: “assustado com a ameaça o cara vai pagar; R$ 70,00 é pouco para ele constituir um advogado; como todo brasileiro, ele não vai querer se incomodar”. Imaginem, um milhão de cobranças indevidas a R$ 70 cada, quanto dá?
Concluo que a vítima é a sociedade que permanece desamparada, mas também é culpada, pois entroniza governos que não têm nem força nem moral para defendê-la.
Doutor em Teologia Moral