DEPRESSÃO TEM CURA
DEPRESSÃO TEM CURA
William Pereira da Silva
Estou escrevendo este artigo, no intuito de alertar e ajudar pessoas que estão a caminho da depressão e das muitas já acometidas por este mal, orientando ainda as pessoas ao seu redor, para entender e se comportar adequadamente aos casos de depressão.
Leio na imprensa que as vendas com remédios antidepressivos cresceram em 42%, logo veio à lembrança do ano de mil novecentos e oitenta e oito (1988), um dos piores anos da minha vida. Fui acometido de uma forte depressão que quase me leva ao suicidio. Primeiro cito que o Cérebro, nossa mente, é um órgão do corpo humano e ele adoece igualmente aos outros órgãos como estômago, fígado rins, pulmões, baço, bexiga e todos os outros. Temos uma concepção errada em achar que nosso cérebro não adoece, quando isso acontece achamos que estamos ficando loucos, essa é a primeira sensação que prevalece quando estamos entrando na depressão.
Vou começar relatando as primeiras sintomatologias que sentia ao iniciar minha depressão. Meu estômago começou a travar (Distonia - Perturbação funcional que afeta, geralmente o aparelho circulatório, ou o digestivo, ou ambos, e em cuja gênese é significativo um fator psicológico), fui ao médico e ele passou medicação para esta distonia, mas outros sintomas começaram a aparecer, o mais comum era a sensação de desmaios, sentia que o mundo queria fugir de mim, certo dia cheguei mesmo a desmaiar, eram sensações que a cada dia aumentava, depois veio palpitações na região do esterno (Osso ímpar, situado na parte anterior do tórax, e com o qual se articulam as clavículas e as cartilagens costais das sete primeiras costelas). A pior das sensações era um choque que ocorria no meu braço esquerdo percorrendo todo o braço, às vezes ao mesmo tempo dava a palpitação no peito seguido do choque, daí idealizei que estava tendo um ataque cardíaco, era um desespero. Outro sintoma que surgiu foi o pânico, quando estava na rua e vinha um ônibus em minha direção tinha a sensação que eu ia pular debaixo dele, ao subir na caixa d'água da casa fui tomado de um medo enorme pensando que ia me jogar lá de cima. Estava na sala de aula e vinha aquela sensação de desmaios e saia apressadamente para o banheiro e logo após vinha o choro.
Comecei a comentar com minha esposa sobre tudo isso que estava acontecendo comigo, fui a vários médicos tomava a medicação, os sintomas só faziam aumentar, meus pensamentos já não me obedeciam como eu queria, um pensamento ficava horas e horas, como se fosse uma gravação repetindo o tempo todo, se eu pensasse "vou ficar quieto", então eram horas e horas com o "vou ficar quieto", isso me angustiava muito. Pensamentos de suicídio começaram a surgir, dava um medo enorme a idéia de morrer, de me matar. Achava que nunca voltaria ao normal, estava era ficando louco, não via saída, estava no fundo do poço. A gota d'água deu-se quando estava com minha filha de meses de vida nos braços e vinha aquela sensação que iria jogá-la na parede ou no chão, aí o desespero mais uma vez tomava de conta. Parei de comer e até de beber água, foi quando minha esposa gritou comigo como se eu fosse uma criança, forçou-me a beber água, tomar suco, me alimentar. Perdi muito peso, fiquei magro.
Mesmo na agonia fui pesquisar sobre o que eu tinha, um colega de profissão, soube do meu problema, emprestou um livro que ajudou muito, tinha como meta o HEI DE VENCER, este livro era relacionado a terapia gestalt que ensinava como a mente humana funcionava, um excelente livro relacionado a psicologia. Busquei revistas, mais livros, jornais e comecei a entender tudo o que acontecia comigo. Realizei uma "cadeira elétrica", era uma terapia gestalt que consistia em você colocar duas cadeiras uma de frente para outra, sentar numa delas e começar um dialogo com você mesmo, faz uma pergunta como se você estivesse na outra cadeira indo ocupá-la para responder, foi um choque emocional, chorei muito, clamei ajuda a Deus e a todas as pessoas, realmente deu resultado.
Tudo isso resultou na decisão de procurar ajuda. Chamei minha esposa, relatei tudo que estava acontecendo, falei pra minha mãe e todos resolvemos que eu iria ao psiquiatra.
Escrevi tudo numa folha todos meus pensamentos para levar ao doutor, todas as minhas ansiedades, medos, sensações, sintomas, tudo, tudo.
Antes de ir ao médico psiquiatra procurei ajuda na Bíblia, nas religiões, nada resolvia, tinha mesmo era de ir ao consultório. Quanto às pessoas a maioria não entendia o que eu sentia, muitas debochavam, criticavam, outras sabendo do meu estado depressivo faziam por onde me ver irritado, nervoso, descontrolado, era um inferno, tive de me afastar do trabalho e das pessoas em geral.
Viajei para Natal, Capital do Estado do Rio Grande do Norte, fui recebido pelo meu Irmão Antonio Pereira Júnior e no mesmo dia fui ao encontro do Medico Psiquiatra Dr. Afrânio Mesquita. Ele ouviu todo meu relato, entreguei o papel, leu e começou a sorrir, em seguida me examinou com alguns testes de toque e com uma pinça passando pelo meu braço, conversando comigo ele relatou que a mente humana é como um copo d'água que vai recebendo pingos e pingos até um dia transbordar, querendo dizer que; minha mente transbordou de tudo que vivi, fui de uma família que eu era o do meio, três mais velhos e duas irmãs mais novas, algo como tivesse de obedecer os mais velhos e cuidar das mais novas, por ser o do meio vivia mais intensamente os problemas da família, as brigas, desentendimentos dos pais, minha mãe por ser neurótica e meu pai alcoólatra influenciou na minha doença e também eu estava exagerando na bebida alcoólica, nas leituras, no trabalho, isto é, sobrecarreguei minha mente e ela reagiu com a depressão. Passou a medicação se disponibilizou a me ajudar a qualquer momento, cedeu seu telefone, tanto celular como da residência, disse que podia telefonar a hora que eu quisesse. Voltei a minha cidade, tomei a medicação, fiquei sendo acompanhado pelo Dr. Psiquiatra José Hélio, em seis meses parei a medicação voltando a minha vida normal. Com um ano voltei viver normalmente e até ingerir bebida alcoolica, mesmo que algumas das sintomatologias ficaram presentes no meu corpo, mas aprendi a lidar com elas e controlá-las calmamente.
Depois de dezessete anos a depressão começou a voltar ocasionada pelo meu alcoolismo, entretanto fui mais esperto e procurei a Dra. Psiquiatra Fátima Trajano que me medicou, tomei medicação por mais seis meses, passei quatro anos sem ingerir bebida, voltei a minha vida normal. Atualmente bebo moderadamente, com o intuito de parar em breve, tenho uma vida dentro dos padrões sociais normal.
Fico triste quando vejo uma pessoa com depressão, dá uma vontade danada de ajudar, mas tenho ciência que elas precisam de ajuda profissional urgente, apenas incentivo para que façam isso, procurem um psiquiatra, tenho de falar com cuidado, pois a pessoa depressiva geralmente não aceita sua condição por desconhecer o problema.
Na coluna Déjá Vu, do Dr. Psiquiatra Milton, no Jornal Gazeta do Oeste, do dia 23 de junho de 2006, na cidade de Mossoró, faz uma excelente explanação sobre a depressão e conta casos de pessoas depressivas que chegaram ao suicídio, mesmo com ajuda médica. Ele relata um caso de um paciente que logo após sair da consulta mostrava alegria, descontração, senso de humor elevado, estava realmente feliz. Logo após alguns minutos chega a notícia que o Sr Emaneul (Nome Fictício) tinha suicidado, Dr. Milton diz que e uma decepção muito grande para ele acontecer algo assim. Comenta Dr. Milton que existem vários tipos de depressão, transcrevo parte da coluna sobre o assunto:
" É um mal que atinge todas as classes sociais e ninguém pode se envaidecer dizendo que com ele e sua família nada poderá acontecer. Bobagem, todos estão susceptíveis, independentemente da idade, raça, sexo, posição social ou formação mental, depende do tamanho da dor.
Há várias causas de depressão, mas duas são as mais comuns, e segundo os tratadistas sobre o assunto, estas estão presentes em 94% dos casos:
Tipo 1 – Depressão Reativa, que surge quando uma pessoa passa por uma perda profunda na vida, por exemplo, más negócios, acidentes com lesões graves, doenças na família, amores infortunados e outros, que pode ir de depressão leve à grave, gravíssima.
Tipo 2 – Depressão Endógena, ou Uni ou Bipolar, em que surge uma profunda melancolia independente de causas externas. Esse quadro é sempre grave e digno de cuidados imediatos. Chama-se endógena exatamente porque "nasce de dentro do indivíduo", independentemente de causas externa. A pessoa começa a ficar sem gosto pela vida, triste, reservado, melancólico, sem explicação racional nenhuma. Às vezes outras pessoas, principalmente familiares, atribuem uma causa externa qualquer, mas no íntimo o portador sabe que não provém exatamente e exclusivamente dali. Coincidentemente, um motivo externo aprofunda ou acentua o quadro depressivo existente. Nada muda em seu corpo, a não ser s mente triste. Muito triste. Em seu entorno está tudo organizado, tudo bem, mas o individuo sente uma tristeza profunda "saindo lá de dentro". Sem saber por que. Na verdade, a causa existe, é orgânica, é bioquímica, mas aqui não cabe esse detalhe, este é um simples artigo de conhecimento comum".
Aconselho para todos procurarem pesquisar sobre o assunto. Existem livros, revistas, jornais, sites, blogs, tratando do assunto de forma que o leigo entenda, mas, o mais importante é conseguir levar o depressivo para um especialista no assunto, nós pouco podemos ajudar e a melhor forma é entendendo a doença, não criticar o doente, evitar comentários maldosos, saber que aparentemente ele esta normal mas interiormente a coisa é feia, horrível, só sabe quem passou e quem passa por isso, é como aquela citação de Jesus Cristo, "Sois como túmulos caiados, bonito por fora e podre por dentro", é assim que se sente uma pessoa com depressão, aparentemente ta bem mas por dentro existe um inferno de pensamentos ruins e uma sintomatologia difícil de suportar.
De olho neles e em nós mesmo para captar quando ela esta chegando. Felicidades! Vivam!