CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO (DEPRESSÃO AGUDA)
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TENTATIVAS DE SUICÍDIO (DEPRESSÃO AGUDA)
Dr.Wagner Paulon
Os estados agudos de depressão tendem a ocorrer após graves decepções e após o súbito rompimento de relações afetivas, como, por exemplo, no luto.
Muitas vezes há associação de sintomas de ansiedade, que podem ser tão preponderantes, em certos casos, que as características depressivas passam despercebidas. A importância de reconhecer todos os casos com elementos depressivos significativos está na íntima associação do suicídio com depressão. Enquanto pode não ser difícil de aliviar o estado agudo, na ausência de cuidadoso exame psicanalítico, o problema total pode ser subestimado e o paciente volta para casa, onde pode tornar-se mais deprimido ainda, em vista de sua incapacidade para lidar com suas dificuldades. Nestas circunstâncias, pode haver tentativa de suicídio.
A depressão significativa, qualquer que seja a causa, deve levar à suposição de que há risco de suicídio que precisa ser considerado, e é sempre necessário indagar do paciente sobre a presença de pensamentos suicidas. Contrário a uma crença comumente aceita isso não o induzirá a uma idéia nova e perigosa para ele, porém pode apresentar uma oportunidade ao paciente oprimido por esses sentimentos de comunicá-los. A investigação sem ênfase, tal como: "Você sente que não vale a pena viver?” não precisa, necessariamente, ser perturbadora, pois essa idéia, se bem que transitoriamente, já foi expressada uma vez ou outra por muita gente.
Até certo ponto, a confusão a respeito da classificação das doenças depressivas pode trazer dificuldades à avaliação, pois o diagnóstico deve depender de algum guia. É suficiente, em muitas situações de emergência, enfatizar que qualquer forma de depressão pode estar associada com o risco de suicídio, e quanto mais grave for a depressão, de qualquer tipo, mais cuidado deve-se tomar nesta complicação em consideração.
Há numerosos problemas na apreciação da depressão. O tipo neurótico é muitas vezes razoavelmente fácil de reconhecer, apesar de que em face de outras neuroses associadas, o grau de depressão possa não ser óbvio à primeira vista. São as formas endógenas da doença que, algumas vezes, dificultam especialmente a avaliação, pois em muitos casos, a depressão é latente ou camuflada por outros sintomas que não são imediatamente reconhecidos como depressivos. A obtenção de alguns dos sintomas típicos, particularmente o estado de humor que piora pela manhã, o acordar cedo, o pessimismo e sentimento de culpa sugerem a presença de um risco de suicídio, mesmo quando a depressão do humor não aparenta ser tão grave.
As formas enganadoras da depressão incluem as doenças associadas com muita ansiedade, muitas vezes do tipo fóbico. Em outros casos, a variação diurna característica do estado de humor pode resultar em situações nas quais o paciente, após se sentir bastante deprimido pela manhã, melhora no correr do dia, quando consulta seu médico, e com base no seu estado, medidas são tomarias para que seja internado em hospital, talvez no dia seguinte. Porém, isso pode acontecer tarde demais, se o paciente sofrer outra exacerbação de depressão na manhã seguinte, com a possibilidade enorme de que ocorra um ato de suicídio. Em alguns outros casos, a doença pode ser sentida principalmente em termos de distúrbios psicossomáticos, tal como dor persistente, a qual é localizada com maior freqüência na cabeça ou no abdômen. Tal dor pode ocorrer em outros lugares, e os diagnósticos diferenciais com as doenças físicas podem ser problemáticos. Alguns pacientes atribuem sua depressão a mal-estar físico, apesar de que a verdadeira causa seja o contrário.
Mais raramente, casos de depressão "sorridente" são encontrados, nos quais o paciente mantém modos alegres e defensivos, pelos quais ele se protege (e algumas vezes também seu médico) da plena realidade de seu humor deprimido.
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