Manifestação de Professores, 8 de Novembro 2008
Nunca fui a nenhuma manifestação, mas fui a esta, à de 8 de Novembro de 2008, pese embora o facto de ter ficado o dia na cama a recuperar de uma viagem de carro de uns 600 km que fiz no dia anterior. Viagem esta feita em nome da amizade - palavra difícil de dizer! - para acompanhar uma colega numa despedida anunciada... mas não menos dolorosa...! Lá me meti no táxi com ela e regressei à minha Covilhã, de noite, depois de uma viagem feita de forma inusitada: deitada no banco do carro! Saí, mais morta do que viva, e passei o Sábado a recuperar.
Tinha pensado ir a Lisboa de comboio, dormir lá e regressar no Domingo. Não aguento viagens. Não consigo explicar o cansaço estranho, o desconforto, a agonia e a sensação de náusea. Porém, como disse, fiquei a recuperar da viagem da véspera. Então como é que estive na manifestação, se não saí da minha cama? Estive porque:
1- Sou contra o modelo de avaliação. Vou mais longe: estamos a avaliar o quê??
2- Discordo da divisão da carreira. Vou mais longe: um colega meu tem autoridade para me avaliar??
3- Não concordo com as reformas educativas em curso, posso, no entanto, concordar com aspectos parciais. Exemplifico: não concordo com o modelo das aulas de substituição, não há uma cultura de tal na nossa Escola e enquanto não se criar tal cultura, as aulas de substituição pouco adiantam em termos de conteúdos. Mas compreendo que era necessário acabar com, nalguns casos crónicos, o excesso de faltas de alguns professores! Convenhamos, chegava a ser escandaloso!!
4- Sou por uma escola onde o professor não seja um burocrata!
5- Sou contra o polvo burocrático que estende os seus tentáculos a todo o espaço escolar. Entretanto, a indisciplina e a iliteracia grassam... (Nada que não se resolva com exames sob medida)
6- Sou contra aquilo a que José Gil chamou a "domesticação" dos professores. Pô-los na ordem. Atenção, Gil critica esta atitude.
7- Sou contra a infantilização e imbecilização dos professores. Nota, por falar em imbecilização, leiam o livro de António Vitorino D'Almeida, TUBARÃO 2000. Eu tenho um trabalho aqui no RL sobre esse livro, verão o que quero dizer.
8- etc.
Estou a escrever este artigo, para "dar a cara", para me expor, tal como o fizeram os meus colegas que se sacrificaram para irem a Lisboa lutar pelos direitos e dignidade da classe docente. Ou seja, para lutarem também por mim. Já ouvi, entretanto, as reacções da Sra. Ministra da Educação e do Sr. Primeiro Ministro. Claro que se mantêm irredutíveis. Eu não esperava outra coisa. Claro, também, que a Plataforma Sindical, com o beneplácito dos professores que disseram sim ao Entendimento com o Ministério, se pôs a jeito para não ser levada a sério. Com efeito, não se pode assinar um Entendimento e, depois, vir "indignado" com o que se está a passar!!! Mas eu disse NÃO ao Entendimento, e não entendo como é que numa Democracia, aparentemente, se continua a levar por diante aquilo que o governo quer, quando os envolvidos directamente no processo já disseram que não é exequível! O que é afinal uma Democracia? O que é a participação dos cidadãos? Para que é que se quer ter uma população esclarecida, escolarizada e pensante, se, depois, se lhe quer retirar essa prorrogativa de ter opinião e ideias? Porquê?? Ou será que... é melhor ficar por aqui! Não que eu tenha medo, porque eu não tenho ninguém que dependa de mim! Não estou instalada, não tenho "uma vida", não estou agarrada a nada, nem a ninguém. SOU LIVRE, na verdadeira acepção da palavra. Estou por minha conta, e tenho sempre uma solução para tudo. Rigorosamente!!
PS: Leiam "Tubarão 2000", é uma boa leitura sobre as vantagens da imbecilização!