Ensino superior sem superioridade no ensino
Ensino superior sem superioridade no ensino
O presidente da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – de São Paulo, Luis Flávio D’urso, concedeu interessante entrevista abordando a qualidade do ensino nas instituições que oferecem o curso de Direito. O índice de reprova nos exames da Ordem está alto, o que denota os parcos conteúdos daqueles que se formaram na ciência do Direito. E, preocupado com o baixo nível dos cursos, disse o presidente D’urso que empreenderá esforço para auxiliar as instituições que primam pela seriedade e fazem a opção do ensino com qualidade, mas que também não medirá trabalho para fechar aquelas instituições descomprometidas com as reais finalidades de um curso de Direito. D’urso utilizou uma frase interessantíssima para definir aquelas instituições irresponsáveis e preocupadas tão somente com suas finanças esquecidas do ensino com qualidade: “Estelionatárias do ensino”.
Hoje se percebe uma enorme proliferação de faculdades oferecendo cursos superiores para todos os gostos. Exigências do mercado que procura profissionais mais capacitados para o desempenho das funções. A lógica que utilizam é simples: curso superior = maior conhecimento. No entanto, a teoria está cada vez mais distante da prática. Os cursos superiores, com exceções, é verdade, oferecem apenas o diploma. O conhecimento, a formação de pensadores e o incentivo à pesquisa fica relegado a quarto ou quinto plano. A razão: preocupação tão somente com os lucros em detrimento à educação em uma dinâmica exposta da seguinte forma: as faculdades fingem que ensinam, os alunos fingem que aprendem. O resultado está no mercado de trabalho: profissionais com pouquíssima capacidade e qualificação. Pessoas que desconhecem uma simples regra de três e não conseguem interpretar um pequeno texto.
Vários fatores concorrem para a baixa qualidade do ensino, mas há um fundamental, há um fator que alimenta extraordinariamente o aparecimento de faculdades fantasmagóricas: a grande procura por parte dos alunos por diploma em detrimento à busca de conhecimento. Sim, são os alunos que alimentam a máfia do ensino. São os alunos que procuram somente o malfadado diploma para atender as conveniências sociais. Estivessem os discentes certos do papel a desempenhar na sociedade e exigiriam mais das faculdades, dos professores, dos cursos em geral. Há excelentes professores, bem o sabemos, verdadeiros idealistas que lutam para construir um país de pensadores, é preciso, portanto, inteligência por parte dos alunos para aproveitarem os conhecimentos dos docentes. Os alunos podem fazer a diferença, ou seja, devem cobrar das instituições, devem buscar conhecimento, devem ler mais, pesquisar mais, exigir mais do corpo docente e da instituição em que estão matriculados. Não podem aceitar enganação, precisam fazer um nivelamento por cima, pelo conhecimento. Ai fica a pergunta: como querer que os alunos cheguem bem à faculdade se lhes falta base, se o ensino é precário desde que entraram nos portões escolares. Como querer que estes alunos façam exigências se lhes falta capacidade para isso. Ainda nesse caso a reviravolta pode ser dada. Se sabemos que a base é fraca e a educação está capenga, não podemos ficar mergulhados nesse contexto. Até quando ficaremos choramingando, como mimados, que é preciso investir na educação, qualificar os professores, modificar o ensino, erradicar o analfabetismo. O melhor caminho é mesmo o da iniciativa por parte dos alunos. Daí a importância de cada um buscar sua própria qualificação, cultivando hábitos como leitura e o estudo, pesquisando, debruçando-se sobre as palavras e apaixonando-se pelo mundo do conhecimento. Pode ser que não mudemos a realidade da educação no Brasil, pode ser que as faculdades continuem a formar profissionais sem qualificação, pode ser ainda que a maioria das pessoas continue a iludir-se com o tal do “diploma”, entretanto, é bom salientar que estaremos mudando nossa própria realidade, pois estaremos adaptando-nos à sociedade do conhecimento e habilitando-nos a maiores vôos no cenário profissional, pessoal e também espiritual. Por isso, a responsabilidade pela mudança no panorama da educação no Brasil está a cargo do aluno, principalmente do aluno de hoje que se matricula nas mais variadas instituições de ensino superior de nosso país. A este aluno cabe a responsabilidade de buscar algo além do diploma e também a cobrança em professores e faculdades para que o nivelamento seja por cima, pelo conhecimento, sempre, porque será assim que o ensino superior atingirá, de fato, os níveis de superioridade que todos almejamos.
Pensemos nisso.