EU, O ATEU.

EU, O ATEU.

William Pereira da Silva

A partir desse momento irei ater-me aos caminhos que me levaram a descrença na religião e a busca incessante para tirar da minha mente esse Deus, imposto ao meu ser de forma abrupta e irracional, o qual foi colocado num período de inocência, quando criança não podia rejeitá-lo, tive que aceitá-lo mais por medo de que por compreensão e amor.

Desde muito cedo fui de contestar as coisas e os fatos em minha volta, era tido como uma criança rebelde, briguenta, não gostava de injustiças e humilhações. Minha infância praticamente foi dentro de uma educação católico-cristã na qual fui educado para temer a Deus e aos meus superiores. Estudei seis anos em colégio mantido pela igreja católica, do jardim de infância até o quarto ano primário, segui todos os caminhos que os católicos teriam de seguir, o batismo, o catecismo, ajudei na missa como coroinha, enfim vivi a religião em sua plenitude e foi nela que comecei a estranhar as pessoas que ensinavam mas não faziam o que haviam me dito para fazer o certo. A primeira decepção como católico foi muito cedo, o padre que tinha me batizado deixou a batina e casou-se, o outro padre que fiz a primeira comunhão quase que presencie um acidente automobilístico no qual o padre transportava quatro prostitutas numa farra louca e bateu com o carro em uma arvore. Guardei esta decepção que me serviu para num futuro bem próximo começar a ler e investigar a bíblia e entender porque eu tinha de ter tanto temor a Deus e ser castigado e essas pessoas que me ensinavam não tinham medo daquilo que diziam e não via os mesmos serem castigados.

Como pobre e estudando no meio de pessoas ricas, a escola era particular, passei por várias injustiças que mesmo como criança ficou marcada em mim, sempre ficava confuso e pensava porque me ensinavam para ser bonzinho e os meus colegas que tem dinheiro nunca dividia nada comigo, tinham merendas fartas, fardas bonitas e boas, chegavam à escola de carros, sempre eram mais protegidos pelos professores e diretor. Toda vida que eu pedia alguma coisa era xingado e "escanteado" pela turma. Juntando tudo comecei duvidar da bondade de Deus e mesmo com medo questionava minha fé nele.

Aos treze anos de idade comecei a leitura da bíblia e resolvi ler em voz alta quase que como pagando uma promessa, sentia que ia deixar de acreditar em Deus e isso atormentava meu ser e havia muita pressão dos outros para que participasse das missas e jamais poderia dizer a ninguém que eu não queria mais acreditar em Deus, era um pecado muito grande e tinha certeza que seria castigado por alguém ou pelo próprio Deus, mas na primeira oportunidade numa discussão sobre religião ou Deus eu atacava com minhas dúvidas e gerava discussões infindáveis que terminavam geralmente em brigas com meus colegas. Permanecia freqüentando as missas embora no meu interior as incertezas aumentava constantemente, quanto mais lia a bíblia mais gerava pensamentos contrários as normas e imposições da igreja católica.

Comecei a sentir como a religião determinava certas ações dos seus fieis e contrariava os ensinamentos de Jesus Cristo, tínhamos de obedecer mais as normas da igreja que propriamente as escrituras sagradas. Algumas vezes queria questionar com os padres sobre a criação do mundo ou qualquer outro assunto e o máximo que conseguia era um castigo e rezar vários pais-nossos e ave-marias para tirar os pecados e os pensamentos impuros. Outra situação vivida e desagradava meu ser era quando na missa não podíamos intervir para tirar dúvidas ou fizer qualquer tipo de criticas ao assunto que estava sendo exposto no momento, por mais errado fosse as explanações dele, tínhamos que ficar calados, sentados, ouvindo sem poder criticar ou dar opiniões, isso me aborrecia muito. Daí comecei a me afastar de missas duvidando mais ainda da religião.

Fatos que aconteciam no mundo faziam minhas reflexões ficarem cada vez mais apuradas. Um dos acontecimentos que mais marcaram minha adolescência foi ver na televisão aquelas imagens do holocausto na segunda guerra mundial que só conhecia em filmes e achava tudo ficção, mas ao sentir às cenas verdadeiras, aquilo esvaziou mais e mais minhas esperanças na intervenção divina em algo aqui na terra. Por que meu Deus deixava acontecer tudo isso com os seres humanos, por quê? Por que não podia intervir e poupar tanto sofrimento. Aquilo me angustiava por demais.

O estudo da evolução das espécies de Charles Darwin foi um dos maiores impulsos para tirar dúvidas a respeito da origem do homem e sua evolução na terra desprezando de vez a teoria bíblica da criação do homem por Deus.

Na colonização dos portugueses aqui no Brasil os livros de histórias que não eram manipulados totalmente pelo governo para mostrar a história que eles queriam, mostravam acontecimentos horríveis do massacre e extermínio dos Bandeirantes contra populações inteiras para dominarem as regiões onde encontravam mais riquezas e não queriam dividir e nem repassar para outros colonizadores. Escravos eram torturados para professar sua fé naquilo que eles não acreditavam. Um negro amarrado em correntes de ferro com os braços abertos e pernas abertas era torturado para pedir perdão a Deus por não ter obedecido aos patrões e um jesuíta com bíblia na mão orava e pedia a remissão dos pecados do negro que de vez em quando com um martelo quebravam um dente seu na medida em que ele não concordava com tamanha barbárie, isto é, a bíblia, a religião e Deus eram usados contra quem mais precisava dele. Os colonizadores massacravam homens, mulheres, crianças e velhos, matando, estrupando, torturando, escravizando e depois de aniquilados os que sobravam dessas pessoas recebiam da igreja as palavras divinas para confortá-los das injustiças praticadas pelos amigos da igreja que eram os ricos e poderosos.

Pesquisar e ser curioso são intrínsecos a minha pessoa, procurar novidades nas bibliotecas era meu costume, nestas buscas ainda adolesceste encontrei livros preciosos da literatura do século XV os quais deram sustentação as minhas idéias, onde pude sentir firmeza nos meus propósitos de debater tendo subsídios para minhas teses contrarias as escrituras sagradas. A enciclopédia do pensamento vivo de vários pensadores da história sendo eles, Maquiavel, Rousseau, Voltaire, Cervantes, Karl Marx, Engel, Schopenhauer, Kant, David Strauss, Leibniz, Espinoza, Descartes, Nietzsche e demais pensadores e filósofos conhecidos da literatura mundial, foram às forças necessárias para afirmar minhas teorias de ateu. Entusiasmei-me tanto com os pensamentos deles, aprofundando-me nos assuntos, que fiquei confuso e já não sabia pensar direito, naturalmente como todo ser humano que contraria seu ser, sua forma de pensar e de agir entra em depressão, aumentei o alcoolismo, voltei a fazer parte de movimentos da igreja na busca de encontrar apoio e ajuda na religião, mas foi tudo em vão, nada satisfazia meu interior, procurei ajuda médica acreditando mais uma vez que as soluções para muitos de nossos problemas estão mesmo é aqui e não no plano espiritual. Acertando em cheio na minha intuição através de tratamentos adequados com psiquiatras juntamente com a medicação, consegui a recuperação e aos poucos o meu estado de saúde voltou a normalidade.

A concepção de Deus em nossa mente depois de colocada não é fácil de tirar, a confusão interior criada em nós, atormenta nosso intelecto gerando perturbações enormes nos nossos sentimentos e emoções, creio ser isto um dos fatores para muitos se acomodarem em dizer que crêem em Deus, procurando tranqüilizar seu lado social e seu estado emocional. É preciso muita leitura, pesquisas, debates, é preciso filosofar muito para definir pela linha do ateísmo. Imaginem pobres seres humanos ignorantes e analfabetos pressionados pelas instituições religiosas gananciosas na manutenção de seu poder. Pobres seres humanos que tem de passar por doenças, catástrofes, mortes, penúrias, misérias e tudo mais de ruim que a vida oferece. Outro temor para se tornar um ateu é o isolacionismo, o medo do inferno, a incompreensão, a falta de grupos de apoio e debates, a inocência de pensar em tornar-se uma pessoa má e perversa sem escrúpulos, talvez tudo isso e algo mais é a fortaleza das religiões em manter tanto adeptos, infelizmente.Quando agente professa for ateu, logo vêm as discórdias e criam uma imagem que somos o próprio diabo na terra, o anticristo, criminosos, assassinos, geradores de guerras e discórdias. Como são tolos e ignorantes essas pessoas, nunca interiormente me senti maléfico depois que resolvi assumir a não crença em Deus, tornei-me exatamente uma pessoa mais simples e humilde onde reconheço toda minha insignificância diante de tudo que existe e não sabemos propriamente o que é. Compreendi que as leis, a moral, a ética, as instituições humanas, a disciplina, a educação são as forças que conseguem manter-nos em um estado digamos, relativamente em paz, e nenhuma força superior torna-se necessária para tal fim. Caso as sociedades fossem mais humanizadas, solidárias, comunistas, sem o interesse estritamente econômico, tivessem mais oportunidades de opção e desenvolver seu potencial de criatividade não precisássemos tanto de religiões e de Deus.Nunca proibi minhas filhas e minha esposa de freqüentar qualquer religião, apenas pedia respeito também as minhas idéias, minhas opiniões, que elas refletissem o caminho que queriam realmente seguir, procurassem ler não somente as leituras bíblicas e de outras religiões, mas tivessem um leque amplo de leituras universais para ter idéias mais abrangente sobre a realidade do mundo conhecendo os ensinamentos da ciência.

Tudo na vida são fatores que vão se somando para que possamos tirar conclusões a respeito de diversos assuntos, tudo funciona como num quebra-cabeça, como numa partida de xadrez, têm de juntar os pedacinhos para formar um todo, tudo é engrenado para se chegar a um denominador comum. Quando juntamos as peças de como funciona uma religião e passamos a analisar, a criticar, a opor, a contrariar o senso comum, sentimos o quanto somos enganados e feitos de trouxa em muitas situações. Evidentemente benesses existem dentro de uma religião, tudo não é um mal em si, aproveitam-se algumas ações em prol da sociedade, mas praticas insensatas realizadas pelos religiosos é um dos motivos para o afastamento de milhares de pessoas das religiões, vejamos algumas que merecem reflexões:As procissões são ações onde várias pessoas colocam uma imagem de um santo em cima de um andor e saem nas ruas para circundar quarteirões, percorrer ruas fazendo orações e cânticos, a maior parte andando ou batendo um papo qualquer, alguns pagam promessas de pés descalços, outro com tijolos na cabeça, vestidos coma roupa parecida com a do santo, uns de joelhos arrebentam suas pernas e depois retornam geralmente para o local de origem, para suas casas e a vida continua do mesmo jeito de antes, os mesmos problemas, as mesmas dificuldades, tudo aquilo serviu única e exclusivamente para nada, tudo foi apenas um passatempo.

Um visionário (isto aconteceu no Brasil, no estado do Ceará e alguns estados da região nordeste) divulgou que estava vendo Nossa senhora dentro do sol, imaginem; dentro do sol, isto causou um alvoroço na região, muitos creram, em verdadeiras procissões as multidões seguiam para o local em que o visionário disse estar vendo a santa Dentro do Sol. Uns aclamavam dizendo que realmente viu a santa, outros choravam pedindo curas, benção, milagres, era aquele alvoroço em cima da montanha (Vejam que é sempre em cima da montanha). Os oftalmologistas da capital do estado alertaram as autoridades que grande parte das pessoas que visitaram e olharam a santa no sol estavam tendo problemas sérios na visão e muitos com risco de ficarem cegas. Quando realmente foi saber o que estava acontecendo o visionário era um louco que já tinha passado por tratamento psiquiátrico. Simplesmente um louco fez multidões irem olhar para o sol e correndo risco de ficarem cegos. Isto não é fé, é burrice mesmo, onde uma santa boa e generosa vai querer ver seus adoradores olhando para o sol e ficarem cegos?

O movimento de renovação carismática da igreja católica atuava numa igreja perto onde moro, minha esposa freqüentava as ações ali desenvolvidas, um dia fui chamá-la na igreja e presenciei uma carismática louvando nossa senhora e aos gritos afirmava que Nossa Senhora estava curando pessoas da comunidade e que muitos não precisavam ir mais ao médico. Poucas semanas depois uma senhora quase morria de uma séria doença acreditando que nossa senhora iria fazer um milagre e salva-la. Pedi a minha esposa que se afastasse deste tipo de movimentos que proclamava absurdo e mentiras. Esta criatura que dizia saber que nossa senhora estava curando pessoas era mentirosa e caloteira e levando sérios risco de morte a pessoas inocentes. É preciso muita atenção, investigar e saber onde se está metido.

Padres homossexuais, (não tenho nada contra homossexuais), pedófilos, padres que adoram as mulheres dos fiéis, bebem, fumam, praticam sua sexualidade ativamente é o que mais vemos dentro do clero. Pastores das igrejas evangélicas também adoram suas fieis novinhas, ter carros do ano, casas luxuosas, casas na praia, muitos são autoridades máximas das vidas dos seus fiéis e inclusive das suas almas, não se envergonham disso, atuam na maior naturalidade, os pobres dos seguidores que mantenham sua conduta parecida com a de cristo, como não bastasse sua condição de pobre. Tive como vizinho um pastor que de vez em quando o ouvia discutindo com sua esposa e o tema era ela perguntando onde ele ficava até altas horas da noite. Ele respondia com a maior naturalidade "Estava pescando almas para Jesus". Certo dia uma adolescente que morava com eles veio a nossa casa e relatou a nossa esposa que o pastor estava fazendo coisas feias com a irmã dela de quinze anos e querendo que ela fizesse também. Segundo o relato da moça o pastor deitava na rede, oferecia dinheiro para a irmã dela ficar alisando os órgãos genitais (masturbando) dele, não se satisfazendo somente com a outra menina queria fazer sexo com ela também. Ela foi orientada a denunciar aos outros membros da igreja e assim aconteceu. O pastor tarado foi apenas transferido da região onde atuava para outra e quem sabe quantas outras fiéis tiveram que masturbá-lo. Suas saidas a noite era para pescar almas de prostitutas para sastisfazer seus instintos sexuais.

Diante destes pequenos relatos podemos sentir toda a sujeira que existe dentro das religiões. Nós como ateus somos isento disto por que pregamos e sabemos que os seres humanos têm suas necessidades humanas básicas de sexos e toda uma complexidade mental em que nos torna capazes de atos bons e também de atitudes horríveis em relação aos nossos semelhantes e que devemos procurar respeitar as leis e ajuda profissional caso não agirmos dentro dos padrões que a sociedade exige.

Não condeno grande parte do povo que se auxiliam de uma religião, sabemos da inocência e da falta de conhecimento de uma leitura universal e das suas necessidade básicas e gostaria que a recíproca fosse verdadeira onde todas as pessoas que praticam qualquer tipo de religião respeitasse também os ateus que achamos ter a percepção e conhecimentos maior sobre as questões que envolvem a humanidade e não nos prendemos somente a um livro ou a uma narração de uma pessoa que disse sem provas que viu ou que é o enviado de Deus.

O DIREITO DE SER ATEU é o mesmo direito que todos têm de dizer que acredita nisto ou naquilo, de fazer ações de seu modo, de agir de acordo com sua fé. Reprovamos sim as religiões e aos Deuses impostos a humanidade para dominá-la e torna-la refém dos seus domínios, mas não queremos o mal de nenhuma sociedade e sim, que voltemos para os nossos problemas e vamos agir como seres humanos que tem a solução de muitos de seus problemas mais sérios em relação à vida e ao mundo e que não precisamos da ajuda de nenhum Deus ou religião.

Se DEUS de alguma forma existir, entenderá por que somos ATEUS.

"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o tornais duas vezes mais filho do inferno do que vós.

PROFESSOR WILLIAM PEREIRA DA SILVA
Enviado por PROFESSOR WILLIAM PEREIRA DA SILVA em 06/11/2008
Código do texto: T1268770