Reflexões sobre o vestibular como instrumento para a construção de um projeto de vida na atualidade.

REFLEXÕES SOBRE O VESTIBULAR COMO INSTRUMENTO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO DE VIDA NA ATUALIDADE.

Wallace Tavares Alves Sá

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apresentar o vestibular como um modelo de projeto de vida do jovem contemporâneo, contestando visões da atualidade que o colocam como alguém que não tem projetos para sua vida. Para tanto será feita uma analise da atualidade, sob o nome de: Pós-modernidade.

PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernidade. Projeto de Vida. Vestibular.

INTRODUÇÃO

Ao analisar-se o jovem atual, pode-se postular que é apático, desinteressado, descompromissado, centrado somente em si mesmo. Essa afirmação encontra fundamento se tomada a partir de uma analise do contexto sócio-cultural contemporâneo em que se insere, segundo o qual, adota-se, entre outros, o nome de Pós-modernidade.

O conceito de Pós–modernidade não é claro. Não há um consenso sobre ele. Trata-se de um evento histórico sócio-cultural contemporâneo que independe de suas concepções teóricas, está aí, está acontecendo. Apresenta-se como um fenômeno complexo, difícil de avaliar, mas que exige uma atenção, principalmente no que diz respeito à educação.

Basicamente, tem-se olhado esse fenômeno com um olhar benévolo, otimista, contemplando maravilhas, benefícios e avanços (tecnológicos, científicos, etc). Mas também com um olhar saudosista, desgostoso por perceber que certos valores, posições e idéias, antes tidas como certas e verdadeiras (eternas), parecem não existir mais ou morrem lentamente. Em meio a esses dois tipos de olhares, pode-se concluir, como afirma Jair Ferreira dos Santos (1993, p. 7): “Nesta geléia total, uns vêem um piquenique no jardim das delicias; outros, o último tango à beira do caos”.

Embora contendo muitos conceitos complexos e importantes para entender esse fenômeno sócio-cultural chamado pós-modernidade, interessa para o presente artigo, alguns em especial: Desconfiança da razão humana: primazia dos sentidos; Imediatismo/Presentismo; ruptura com uma consciência histórica e/ou falta de projetos de vida. Tais conceitos ajudam a entender melhor as atitudes dos jovens de hoje, em especial nas escolas.

DESCONFIANÇA DA RAZÃO HUMANA; PRIMAZIA DOS SENTIDOS.

Um dos pontos em que se pode constatar a primazia dos sentidos na relação com o mundo atual é o fato de que, cada vez mais, os indivíduos preferem, escolhem, optam por negar a razão; no sentido afirmado por Ítalo Gastaldi (1994, p. 22) “o homem atual desconfia da razão e se orienta pelo sentimento”; ou ainda, “... viver é experimentar sensações, quanto mais fortes, intensas e rápidas, melhor. Nada de sentimentos de culpa, nada de bem e mal, nada de valores: vale o que me agrada” (GASTALDI, 1994, p. 25).

Mas a razão é extinta? Não existe mais? Não. Adquire um caráter pragmático, tecnicista: “A razão torna-se instrumental: serve somente para tecnocracia, para produção e o consumo” (GASTALDI, 1994, p. 22).

Com a capacidade racional voltada para um fim tecnicista, trabalhista, os sentimentos vão assumindo o controle de suas vidas. São eles que estão ditando o rumo das decisões. Como bem se sabe, os sentimentos passam. Hoje se sente algo por alguém ou alguma coisa, e amanhã já não mais. Nesse sentido, considerando que o que é “passageiro” vem ditando o rumo da vida desse jovem de hoje, pode-se dizer que seus projetos, planos, sonhos não são duradouros e nem trazem estabilidade, concretude e segurança. Eis o grande problema da atitude Pós-moderna: não se sabe o que esperar desse jovem; hoje demonstram querer algo, mas amanhã pode querer outro, ditado unicamente pelas emoções.

IMEDIATISMO/PRESENTISMO

No imediatismo, identifica-se a posição dos jovens diante das diversas situações de suas vidas. Seja em casa, na escola ou com os amigos, tudo tem que ser para agora, às vezes até pra ontem. Detestam esperar e, quando esperam, se irritam facilmente.

A partir dessas experiências imediatistas, o jovem, cada vez mais, vem desconsiderando as conseqüências de suas ações (futuro); esquecendo-se de experiências positivas ou negativas já vividas (passado). Nesse sentido, denuncia João Batista Libanio: “...Perde-se a noção de passado e de futuro. Não existe história” (2004, p. 109).

Pode-se postular, a partir do que se vê em nossa sociedade, que os jovens negam o passado e o futuro por causa da intensa concentração no presente: “a pós-modernidade é a negação do tempo por causa da concentração do presente” (LIBANIO, 2004, p. 109). Com essa atitude tentam fugir de dores de algumas experiências passadas, e da angústia da expectativa de um futuro incerto, pois “Tudo é provisório...” (GASTALDI, 1994, p. 69). Esse presente está sempre em movimento, mudança, de certa forma instável, pois há um apelo constante pelo novo: “Viver é estar de mudança para a próxima novidade...” (SANTOS, 1993, p. 88).

Resume-se, portanto esse conceito ou fenômeno pós-moderno nas simples palavras de Jair Pereira dos Santos (1993, p. 91) “... perdeu o senso de continuidade histórica. Ela vive sem as tradições do passado e sem um projeto de futuro. Só o presente conta”.

RUPTURA COM A HISTÓRIA E/OU FALTA DE PROJETOS DE VIDA

Quando se toma uma visão não otimista sobre a Pós-modernidade e suas influências nos jovens, chega-se à constatação de que “O presentismo consome as energias criativas do jovem pós-moderno” (LIBANIO, 2004, p. 109). O jovem que poderia gastar suas energias intelectuais e físicas com inovações, invenções, com a arte, com o que é duradouro e aproveitável para outros (gerações futuras também), não tem feito isso. Ele tem perdido, ou pelo menos deixado de buscar, uma identidade; saber o que é, ou quem é.

“A ausência de memória põe em crise sua identidade. Mas o trágico é que um futuro sem utopias que estimulem, torna mais difícil ao jovem realizar a opção fundamental , essa opção definitiva, vinculante, capaz de lhe dar unidade, orientação, validade à existência e definir a identidade da pessoa” (GASTALDI, 1994, p. 69).

Com um presente sem passado ou futuro, fica praticamente impossível construir ou perceber a identidade:

“Possuem percepção precária do tempo histórico, coletivo. Polariza-se no presente. O passado não lhes ressoa. O futuro vislumbra-se-lhes incerto, de expectativas reduzidas. Sobra-lhes o presente, mas pobre de significado, opaco, inconsistente, indiferente em face dos valores últimos que o transcendem” (LIBANIO, 2004, p. 111).

Diante de tal crise de identidade (ou de uma crise da busca por ela), acaba sendo justificada a desvalorização moral ou uma “perda de valores” por parte deles. Sem valores, como viver? Como fazer um projeto de vida e construir uma identidade?

Em contrapartida, pode-se pensar que, ao invés de uma “perda de valores”, o que esteja acontecendo seja uma “substituição” deles; que valores novos estejam surgindo, o que não significa que são melhores ou piores que os antigos, mas que são novos e que talvez estejam respondendo aos anseios de uma vida Pós-moderna.

“A sociedade passa por rápida transformação de valores. Alguns que se percebiam antes como positivos, agora não mais o são. E isso se chama de perda de valores. Talvez seja mais exato falar de uma substituição. Ninguém vive sem valor. Consciente ou não, adota os seus que lhe regem a vida” (LIBANIO, 2004, p. 115).

Trazendo para a realidade da escola, os valores são fundamentais para a Educação:

“Podemos bem imaginar a importância que têm os valores no processo educativo: são motivações poderosas que orientam a conduta global da pessoa, dando forma ao seu presente em vista do futuro” (GASTALDI, 1994, p. 42)

A partir disso, constata-se uma visão mais otimista sobre o jovem pós-moderno, como mostra Libanio (2004, p. 121): “O jovem pós-moderno preza a vida, a experiência, o bem-estar”. Ou, como aponta Ítalo Gastaldi, que a moral pode ser construída com tempo; precisa de tempo:

“Chamamos a atenção, porem, para o fato de que nossa moral não é estática, mas dinâmica. Vamos descobrindo ”o que somos” muito lentamente, ao da história. As diversas ciências do homem fazem com que cada vez nós compreendamos a nossa auto-compreensão. À medida que o homem se conhece mais a fundo, vai tirando conseqüências mais refinadas e sutis” (1994, p. 41).

A escola, inserida no contexto pós-modernos, deve exercer essa função primordial que é Educar, ajudar a formar o homem de maneira integral por meio de uma aprendizagem significativa:

“Uma aprendizagem tende a formar o homem nos valores éticos, pessoais e sociais. São estes que conferem a ele o sentido da vida considerada globalmente. Se o homem quer realizar-se, alcançar a plenitude, conseguir a felicidade tem que afundar em uma atmosfera de realidades valiosas – o amor, a liberdade, a justiça, a solidariedade..., tem que respirar essa atmosfera e ajustar sua atividade a essas realidades, porque são elas que dão base para uma ação criadora” (GASTALDI, 1994, p. 60).

Acredita-se, portanto, que, evidenciando a esses jovens os valores que lhes fundamentam as vidas, a partir de uma adesão aos mesmos, será possível ensinar-lhes a projetarem suas vidas.

Dentro do que foi constatado até agora, pode-se perguntar: em que situação sócio-cultural o jovem, hoje, mostra projetar a própria vida? Em outras palavras, em que momento, na vida, esse jovem gasta um tempo refletindo, anulando seus prazeres por um bem maior; organizando metodicamente a vida em vista de seu futuro? O VESTIBULAR apresenta-se como resposta a essas perguntas.

PENSAR O VESTIBULAR COMO INSTRUMENTO DE ENSINO E REVALORIZAÇÃO DE UM CONCEITO DE HISTÓRIA, CONSEQÜENTEMENTE, UM PROJETO DE VIDA.

O vestibular tem-se mostrado um caminho onde muitos jovens, mesmo não conscientes, acabam tendo que criar um projeto de vida. Pode-se questionar sobre tamanho, qualidade e consistência (no sentido de construção de identidade) desses projetos, mas não se nega a sua existência na vida dos jovens. Projeto de vida é entendido aqui como uma conduta organizada para atingir finalidades específicas. Nesse sentido, entende-se que o jovem que deixa de sair com os amigos para ficar estudando, ou de praticar hobbys, ou ainda, gastando longas horas de estudo em casa visando ter o nome na lista de aprovados da faculdade de sua escolha, pode e deve ser considerado alguém que tem um projeto de vida; que projeta sua vida.

Evidencia-se, pelo que já tratamos anteriormente, que esse projeto de vida não é claro, no sentido de construção de uma identidade, de busca de si mesmo, pois está inserido no confuso contexto pós-moderno. Nesse sentido, afirma Gilberto Velho :

“... a elaboração de projetos individuais e as trajetórias, propriamente ditas, se dão em um mundo complexo, tanto em termos de pertencimentos e papeis sociais como, sobretudo, de crenças, valores e referências simbólicas”.

Mas, mesmo que complexo, é um caminho que a escola pode usar para entrar no universo desse jovem pós-moderno e ensinar-lhe a busca a identidade por meio do projeto de vida; uma vez que é ela mesma que o está preparando para o vestibular. A escola pode acompanhá-los bem de perto e lhe propor aquilo que lhe é peculiar, próprio: “... capacitar o sujeito para que alcance seu fim último, sua realização como pessoa, mediante ações livres e moralmente retas” (GASTALDI, 1994, p. 59). Mostrar-lhe que pode, a partir do que está vivenciando com o vestibular, construir um projeto de vida; construir sonhos, descobrir a humanidade integralmente.

Esse modelo de projeto de vida em que vive o jovem de hoje, deve ser acompanhado e bem de perto, como propõe Gilberto Velho : “As juventudes, com sua heterogeneidade e dinamismo, com novos tipos de projetos e trajetórias devem ser acompanhadas com cuidado e atenção”. Esse acompanhamento deve ser feito pela escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao invés de se pensar que o jovem Pós-moderno não constrói mais projetos de vida, que rompeu drasticamente com o conceito de história, com valores éticos, portanto, com a construção de sua identidade que é tão importante para si, para sua felicidade, deve-se, ao contrário, pensar que, por meio do fenômeno do vestibular, tão presente em sua vida, pode encontrar o sinal de que: projeta sua vida, mesmo que de uma maneira nova e, por isso, tão desafiadora para uma compreensão clara. Precisa-se de um olhar otimista sobre o jovem e o vestibular ajuda a tê-lo.

REFLECTIONS ABOUT ENTRANCE EXAMINATION AS INSTRUMENT TO THE CONSTRUCION OF LIFE’S PROJECT IN PRESENT TIME.

ABSTRACT

This article aims to present the entrance examination as a model project of life of young contemporary, challenging visions of the present time that made them like someone who has no projects for his life. To do so will be made an analysis of actuality, under the name: Post-modernity.

KEY WORDS: Post-modernity. Project of life. Entrance examination.

REFERENCIAS

ALMEIDA, Maria Isabel Mendes de; EUGENIO, Fernanda (orgs). Culturas jovens: novos mapas do afeto. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, 239 p.

GASTALDI, Ítalo. Educar e evangelizar na pós- modernidade. 4.ed. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1994, 98 p.

LIBANIO, J. Batista. Jovens em Tempo de Pós – Modernidade.

São Paulo: Loyola, 2004, 242 p.

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é pós-moderno. São Paulo: Brasiliense, 1993.

Ps.: Por favor, se você ler, comente. Obrigado

Maiêutico
Enviado por Maiêutico em 03/11/2008
Reeditado em 13/07/2009
Código do texto: T1263874