O auto-conhecimento conduz a pessoa a uma verdadeira estima de si

Em uma sociedade tão diferenciada como a que se apresenta na atualidade, marcada por tanta violência, desigualdade e discriminação, encontram-se muitas pessoas desmotivadas com a própria vida. Acreditam não haver possibilidade de uma melhor condição de vida, não somente a nível econômico, mas também no nível das relações profissionais ou afetivas.

A cada dia, mais pessoas se apresentam com uma auto-imagem muito negativa, sem auto-confiança. Tudo se resume a uma falta de auto-estima, que repercutirá no desenvolvimento da personalidade, no equilíbrio emocional e no relacionamento entre as pessoas.

Esses problemas são conseqüências de falta de auto-conhecimento. A pessoa, às vezes, elabora uma avaliação de si com bases irreais. Para se conhecer, a pessoa deve observar-se, dar-se conta de seus pensamentos, sentimentos, falas e ações; deve buscar as características reais da sua personalidade.

O homem só desconhece a verdade porque não se conhece, já afirmara Agostinho em Confissões. Portanto, dar de si uma avaliação realista, substancialmente positiva e estável é um passo importante para a preservação da estima de si. Sem ela é quase impossível viver, o indivíduo sente-se um incompetente, fortalece nele um complexo de inferioridade.Por outro lado, a estima faz o sujeito seguro de si, ele assume, sem medo, suas ações e relações.

O conhecimento objetivo de si forma um sujeito capaz de perceber realisticamente os diversos componentes do seu eu, manifesto e latente. Muitos confundem quociente intelectual com autoconhecimento e se dizem conhecedores de si, mas, na verdade, não são. Esta é uma ilusão comum, entendem o autoconhecimento como simples e evidente, mas as pesquisas provam que um alto índice de pessoas, sem distinção de sexo, se desconhecem parcial ou completamente.

As pessoas não costumam perceber, mas o eu latente está sempre em ação. Suas influências, muitas vezes, não são percebidas em suas diversas modalidades. Por isso, é inevitável o conhecimento objetivo de si para a percepção de uma estima realista.

Outro fator importante é a busca de encontrar um justo equilíbrio entre o eu atual e o eu ideal. Eles não podem identificar-se nem ser confusamente sobrepostos. Ou seja, um ideal já presente no atual anularia a busca necessária de um sentido de vida – este, juntamente com os valores, que motivam o ser humano a adotar determinado comportamento, por exemplo, a busca de forças, resistência a dificuldades, etc. De outro modo, se forem completamente sobrepostos, isto é, não existir no sujeito nenhuma potência para se chegar ao ideal almejado, este não poderá ser atualizado. O sujeito deve ser coerente e realista de acordo com suas potencialidades.

Esta coerência lhe possibilita valorizar positivamente aquilo que se é e tem por natureza. A existência confere ao homem dons e energias inatas. Dessa forma, fala-se mais de uma descoberta que propriamente uma conquista da estima. Esta é encontrada dentro da própria pessoa e não exterior a ela, como muitos se equivocam e tentam buscar a estima nos outros em vista de resultados positivos, mas que, às vezes, são irreais.

É fato que a estima não é privilégio de apenas alguns afortunados, mas é um dado da natureza, acessível a todos. No entanto, é fundamental que o sujeito saiba distinguir o que é essencial do que é menos essencial. Ele deve reconhecer-se, enquanto pessoa humana, possuidor de emoções, sentimentos e limitações, por isso está sujeito a falhas. Sendo assim, a humildade é uma atitude primordial.

Por essa natureza, o homem possui, também, potencialidade para o bem e para a verdade. Essa abertura radical ou transcendental do homem significa a sua necessidade de buscar um complemento de si.

Portanto, a auto-estima nasce da capacidade de saber saborear, cada dia mais, um bem essencial possuído, sem perder o desejo e a esperança pelos bens acidentais que se possuem de maneira relativa. Ela deve vir de dentro, libertando a pessoa da dependência crônica da consideração dos outros e da necessidade de ideais irrealizáveis.